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Eduardo Tolentino

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Primeiras lembranças

Eu me lembro de que a primeira vez que o teatro me chamou a atenção, foi na TV, me lembro da Zilka Sallaberry fazendo a bruxa, e um pouquinho mais tarde com uns 7, 8 anos do Grande Teatro Tupi, que eu assistia escondido, porque criança naquela época criança dormia 20 horas. Meus pais saiam e eu ficava vendo sentado no parapeito da janela, controlando pra ver quando eles chegavam. Era uma televisãozinha pequena de oito polegadas, que eu molhava porque ela esquentava muito. Quando eles chegavam, eles colocavam a mão, para ver se eu ficava vendo televisão  como eu molhava sempre, a televisão vivia queimando.

Nasci no Rio e morei no Rio quase a vida inteira. Estudei em vários colégios, comecei a estudar no bairro Peixoto, depois fui para a Escola Maria Montessori em Ipanema, perto da Farme de Amoedo. Depois eu fui para a Escola Vieira Machado no final do Leblon, porque nós nos mudamos de Ipanema pro Leblon. Finalmente terminei o colegial no Santo Agostinho.

Meu pai era bancário, não tinha nenhuma relação com teatro e minha mãe trabalhou muitos anos com moda, ela tinha uma boutique, a aproximação dela com teatro, foi através do mim.

Comecei a ir ao teatro com uns 15, 16 anos. Inicialmente vendo shows de MPB. Fui da geração que assistia os festivais de música ao vivo. Vi muitos shows, de Maria Bethânia, Elis Regina, e tantos outros. Lembro muito do Brasileiro Profissão Esperança, direção da Bibi Ferreira com a Bethânia e o Ítalo Rossi do Casa Grande. Também ia muito ao cinema.

De teatro, uma das grandes coisas que vi, foi Hoje é Dia de Rock, no Teatro Ipanema,  lembro também de As Três Irmãs, do José Celso, no Gláucio Gill, que achei uma doidera. Não entendia muito bem o que era, não sabia o que era teatro, mas aí me juntei a uma turma que começou a ir ao teatro, fim de semana sim, fim de semana não.

Começando a fazer teatro

Eu entrei na Faculdade de Economia na PUC do Rio. No primeiro ano era um curso de ciências sociais polivalente, onde tínhamos aulas de história, geografia, de comunicação, etc. Eu acabei me formando em jornalismo, que fazia parte do curso de ciências sociais, mas antes, eu fiz dois anos de economia.

Naquela época, fui pra Faculdade de Economia porque eu não sabia nada. Não sabia o que eu queria da vida. Hoje em dia é muito mais fácil, tem mais informação. Eu sabia que não queria fazer medicina, não queria engenharia, e aí se começa a fazer as opções mais aceitáveis, que a família indica.

No final do primeiro semestre, em julho, eu fui para Moscou, e me lembro que eu fiquei muito angustiado. Essa viagem dava direito de conhecer muitos países da Europa. Fomos à Grécia, à Iugoslávia e eu queria voltar para o Brasil. Cheguei com as aulas avançadas, quase final de agosto, e eu não queria perder aquela turma.

Mas quando eu cheguei, o pessoal estava querendo fazer alguma coisa no final do ano para comemorar o primeiro ano de faculdade, e aí alguém deu uma ideia de fazer uma peça de teatro infantil para se divertir. Montamos A Menina e o Vento, da Maria Clara Machado. Todo mundo cuidava de tudo. Ensaiávamos duas vezes por semana, na casa de alguém, sempre tinha gente que faltava. Tinha brigas feias. Algo bem amador mesmo, sem nenhuma pretensão.
Fizemos três apresentações e acabou.

Participei como ator e era muito tímido. Foi horrível, mas pensei que era esse mundo que eu queria. Eu já tinha brincado um pouco com cinema, com super 8, e gostava de escrever. Foi então, que escrevi uma peça infantil chamada Apenas um Conto de Fadas, que montamos no mesmo esquema amador, com algumas apresentações a mais. Nos apresentamos no Teatro da Divina Providência, ali na Lopes Quintas. Era um teatro que ficava atrás de uma igreja e conseguimos uma pauta para algumas apresentações. Mesmo sendo amadores, tivemos que  submeter o texto à censura.

Nessas duas montagens, A Menina e o Vento e Apenas um Conto de Fadas, eu não dirigi, todo mundo dava palpites. Mas em 1978, eu descobri um curso no Teatro dos Quatro, que tinha acabado de inaugurar, e fui me inscrever. Tive aulas com o Sergio Britto, Hamilton Vaz Pereira,  Amir Haddad, Klaus Viana, Ilo Krugli, Eric Nielsen. Foi uma revolução na minha vida. O curso durou mais um menos um ano.

Eu ia me formar em 1979, e decidi que tinha que dar uma definição na minha vida. Já tinha trabalhado no Jornal do Brasil, no momento em que eu troquei de curso na faculdade e tinha uma possibilidade de fazer um estagio de jornalismo na TV Globo. Só que era no horário em que eu ensaiava. Decidi pelo teatro. Foi uma grande crise familiar. Eu tinha a possibilidade de trabalhar na maior rede de comunicação do Brasil e recusei um trabalho lá.

Algumas pessoas que haviam trabalhado comigo nas duas montagens que eu participei, também entraram no curso do Teatro dos Quatro e também conheci muitas outras. Foi aí que resolvia remontar Apenas um Conto de Fadas. Eu tinha trabalhado num filme do David Neves (???) onde fiz assistência de produção e com esse dinheiro produzimos o espetáculo. Ninguém ganhava nada, o dinheiro era apenas para os figurinos. Estreamos no Teatro Arthur Azevedo, que ficava no subúrbio, fizemos o Municipal de Niterói e depois no Teatro Vanucci, onde fez um grande sucesso, foi no, nós estreamos nos teatros de, no e depois nós acabamos indo para o Teatro Vanucci, onde nós fizemos uma belíssima carreira. Tivemos muitas matérias de jornais, críticas da Flora Sussekind, do Clóvis Levi. A Marilia Emilia foi indicada ao Prêmio de Atriz e minha mãe, Lola Tolentino, foi indicada ao Prêmio de Figurinista.

Na verdade, minha mãe entrou na produção porque a gente não tinha nada, e como a gente ensaiava lá em casa, começamos a pedir uma ajuda a ela. Acabou que ela fez os figurinos e foi indicado a Prêmio Mambembe. O sucesso foi tanto que depois fizemos Apenas um Conto de Fadas no Gláucio Gil. Foram quase dois anos de apresentações.

Novas montagens

Depois desse primeiro espetáculo, resolvemos montar um espetáculo com uma temática mais adulta. Escolhemos uma coletânea de textos do Jean Tardieu, que chamamos de Uma Peça por Outra, e estreamos as segundas e terças no Vanucci, num horário alternativo, porque nessa época, o teatro acontecia de quarta a domingo. Depois nos apresentamos no Aliança Francesa da Tijuca.

Posso dizer que foi uma época em que ocorreu um boom dos grupos jovens de teatro. O Grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone tinha sido uma inspiração que era possível furar o bloqueio das produções comerciais, daquela época. Teve também o Pessoal do Despertar, o do Cabaré Valentin, e assim vários grupos começaram a surgir nesse momento, e levavam muitos jovens a assistir teatro. Também fizemos bastante sucesso e tivemos boas críticas.

Em seguida, começamos um novo processo de montagem de um espetáculo infantil, que foi uma adaptação do livro do Thackeray, O Anel e a Rosa. Estreamos no Teatro Campo Grande e depois fomos para o Teatro Casa Grande. Nós trabalhávamos muito. Era uma loucura. Desde Apenas um Conto de Fadas, para ter público, desde cedo íamos filipetar. Quando era no subúrbio, pegávamos o trem, e lá íamos trabalhar das 8 às 18 horas, quando começava o espetáculo. E lotava.

Me lembro de que quando estreamos Apenas um Conto de Fadas, que foi a primeira luz que o Aurélio de Simone assinou, nós viramos a noite no teatro. O Arthur Azevedo tinha o material do teatro municipal, então era muito bem equipado. Um teatro maravilhoso, com fosso de orquestra, urdimento, boas coxia, coisas que os teatro da na zona sul do Rio, não tem.

Ficamos seis semanas com casa lotada. Foi quando eu conheci o Brian Penido que era do grupo de Luiz Fernando Lobo. Ele se apresentava no espetáculo da noite e a gente se encontrava na filipetagem, das ruas, das escolas. Íamos de sala em sala de aula, andando a pé por Campo Grande, todo dia, durante todo ano.

TAPA

O nome surgiu porque começamos a brincar com o que a gente era: Teatro Amador Produções Artísticas. Vimos que dava uma sigla. Em 1981, quando montamos O Anel e a Rosa, resolvemos abrir uma empresa e viramos TAPA Produções Artísticas.

Na época participam do grupo o Renato Icaray, o Celso Lemos que já faleceu, a Clarice Derzier, a Emília Rei, a Denise Weimberg, o Ernani Moraes. Depois desse núcleo inicial, outros chegaram como a Cris Couto e a Priscilla Rozenbaum.

Quando fizemos Apenas um Conto de Fadas, tinha um papel escrito para a Denise, mas ela não estreou, pois estava grávida do João Gabriel, mas ficamos tanto tempo em cartaz, que ela acabou fazendo, tempos depois.

Mas voltando ao Anel e a Rosa. Quando estreamos em Campo Grande, foi uma loucura. Como já disse, era a adaptação de um romance. Na véspera da estreia, tínhamos duas horas e meia de espetáculo. Lembro que eu fiz um corte radical, porque não havia condições de estrear um espetáculo para criança, com esse tempo. Mesmo assim, estreamos com 1 hora e 55 minutos com um intervalo. Como fiz os cortes na véspera, fui pregando nas coxias do teatro, de que cena pra que cena a gente pulava. Cortamos cenas inteiras. Ficamos sete semanas em Campo Grande, lotando. Com o passar das semanas, fomos reduzindo o tempo do espetáculo e estreamos no Teatro Casa Grande com 1 hora e 35 minutos. Tivemos oito indicações, das quais, ganhamos dois Prêmios Mambembe. Depois ainda nos apresentamos no Gláucio Gill.

Naquela época, tínhamos outra compreensão do teatro infantil. Não tinha pretensão de ser didático. A temática era infanto-juvenil, mas antes de tudo era teatro. Aliás, esse era um dos motivos de fazer teatro infantil. Quando fui percebendo que o teatro foi virando para outra vertente, desisti.

Em paralelo, fizemos uma peça do José Wilker no Teatro Rival, que a gente já tinha montado na fase amadora. Chamava-se Clássicos Acidentes que Destronou Tereza. Foi interessante apresentar esse espetáculo no Teatro Rival. Encarar um teatro de centro de cidade e também encarar um grande fracasso.

Nós vivíamos num impasse financeiro, e por sorte o Arnaldo Niskier, que era presidente da FUNARJ, propôs para a instituição a montagem de um espetáculo. (aqui a gravação ficou com problemas – corrigir, por favor).  do Orígenes Lessa que era da Academia Brasileira de Letras.
Era a primeira vez que não escolhíamos um texto e montamos Tempo Quente na Floresta Azul. O espetáculo tinha muitas restrições. Foi um dos textos que a gente menos gostou, mas que salvou nossa situação. Foi muito engraçado, pois estávamos numa situação limite e aparece uma ordem divina que nos salva. Mesmo assim, o espetáculo acabou tendo várias indicações.

Foi também nesse período eu dirigi um espetáculo fora do TAPA, A Fada que Tinha Ideias, da Fernanda Lopes de Almeida com produção da Elvira Rocha, que me convidou para dirigir; O texto da Fernanda era muito bacana e conseguimos também várias indicações.

Repercussão no Teatro Adulto

Enfim conseguimos montar nosso primeiro espetáculo adulto, que teve uma boa repercussão. O espetáculo era Viúva, porém Honesta, de Nelson Rodrigues, pelo qual ganhei Prêmio Mambembe de Direção. Também fomos indicados como um dos cinco melhores espetáculos do ano. Estreamos no SESC Tijuca, levamos o espetáculo para um festival em Portugal e acabamos fazendo uma temporada no Teatro dos 4. Não foi um sucesso de publico, mas tivemos críticas, o Sábato Magaldi foi horrível o espetáculo, criticou, fez crítica bacana, foi nesse período que o Teatro dos 4 nos procurou pra fazer uma parceria com eles. Eles tinham ligação com o Sergio e tudo,

Foi nesse momento que o Sérgio, o Paulo e a do Teatro dos 4 nos procuraram querendo fazer uma parceria para horário infantil e eventualmente algum espetáculo adulto  para o  horário alternativo. Coproduzimos então, Pinóquio que foi nosso espetáculo infantil de maior sucesso.

Quando estivemos em Portugal levando Viúva, porém Honesta, fomos até a Itália e o Renato e foi até a cidade do Pinóquio, trouxe um monte de livros, que deram subsídios para montar um Pinóquio bem italiano, com figurinos típicos. A trilha sonora era do Francis Hime. Lembro que pagamos muito pelas músicas e tínhamos um time de primeira tocando ao vivo.  Por mais um pouquinho de dinheiro, teríamos feito um disco, que certamente, teria vendido muito pra aquele público, mas faltava justamente esse pouquinho.

Ganhei o Prêmio Molière, além de uns quatro ou cinco Mambembes. Eu e o Renato Icarahy fizemos a adaptação a partir do texto de Carlo Collodi, mas antes trabalhávamos com muita improvisação. Esse processo eu já tinha feito em O Anel e a Rosa.

Ficamos no Teatro dos 4, mais ou menos, um ano, mas não conseguimos produzir nenhum espetáculo alternativo.

Nesse período, como o grupo estava muito grande, eu fiquei preocupado com a motivação dos atores, aonde alguns faziam pequenos papéis. Então, eu inventei de fazermos teatro brasileiro para as escolas e montamos O Noviço, de Martins Pena e A Casa de Orates, de Arthur Azevedo, onde os atores poderiam fazer personagens maiores. Participaram destes espetáculos Marcelo Escorel, Eduardo Wotzik, Priscilla Rozenbaum, Brian Penido e outros. Começamos a desenvolver esse projeto e rodamos toda a rede escolar do Rio de Janeiro.

Foi uma época que quase ninguém fazia isso. Tínhamos quatro, cinco apresentações por dia, e foi nos dando uma experiência e tanto. Apresentávamo-nos em quadra de futebol, em refeitório, em qualquer lugar. Na medida em que nós fomos amadurecendo, começamos a transformar esses espetáculos para o palco, e aí nós entramos no Teatro Ipanema.

Foi dessa maneira, que criamos o Festival de Teatro Brasileiro onde levamos Caiu o Ministério, de França Júnior, com direção do Celso Lemos, O Noviço, de Martins Pena e A Casa de Orates. Muita gente passou por lá, como o Claudio Gaya, Moacir Chaves, Teresa Frota e a Vera Holtz. Depois, dirigi O Alienista, do Machado de Assis e teve o infantil do Teatro Grips da Alemanha, que é especializado em teatro infantil chamado Beto e Teca, de Volker Ludwik, com tradução e direção do Renato Icarahy. O último espetáculo que fizemos no Teatro Ipanema, onde também ficamos, mais ou menos um ano, foi O Tempo e os Conways.

A ida para São Paulo

Depois do Ipanema, nós ainda fomos para o Teatro Nelson Rodrigues e ficamos dois meses em cartaz. Tínhamos uma grande dificuldade de encontrarmos espaço para nossos espetáculos adultos. Ocupávamos um teatro 3, 4 meses e tínhamos que parar. Nossa produção era muito grande e sempre tínhamos pouco tempo. Não dava tempo para o publico chegar ao espetáculo.

Quando produzimos O Tempo e os Conways, que foi um espetáculo bastante caro, meu pai tinha morrido e tinha me deixado um apartamento. Vendi o apartamento e investi o dinheiro nesse espetáculo. Convidamos a Aracy Balabanian, que estava no momento, com grande projeção nacional. Fizemos três meses de temporada no rio, viajamos para Belo Horizonte e tínhamos a perspectiva de fazer em são Paulo, no Teatro Aliança Francesa para o segundo semestre de 1986. A Aracy não pode ir para São Paulo e a Beatriz Segall, que já tinha visto o espetáculo no Rio e gostado muito a substituiu. Beatriz era um grande nome do teatro paulistano e também tinha feito algumas novelas de sucesso. Foi uma loucura, o público correu para o teatro. Vieram políticos, imprensa. Só que a Beatriz me disse que teria que parar em janeiro, porque tinha uma viajem para Londres, para conhecer o neto. Fazíamos o espetáculo de quarta a domingo, duas sessões no sábado, duas no domingo, duas na quinta feira. Quando chegamos no mês de dezembro, que anunciamos últimos dias foi um boom. Briga na porta, gente voltando. Muita gente não conseguiu ver a peça.

Morávamos em hotel, ganhamos muito dinheiro. O Teatro Aliança era um teatro que tinha uma história muito importante, em São Paulo. O Antunes tinha participado da história desse teatro. Mas a região onde ficava o teatro estava muito degradada, com muitos travestis, prostitutas e com o sucesso de nosso espetáculo foi um ressurgimento para o Aliança. O público voltou a frequentar o teatro. Propusemos então, a direção do teatro, apresentar nosso repertório, que se desse certo continuaríamos, se desse errado iriamos embora. E foi assim, que ficamos em  para são Paulo foi uma obra do acaso, mais uma vez aquilo que eu falei, eu estava sendo levado sempre um pouco pelo acaso.

Assim fomos mudando a nossa trajetória, nosso rumo, e nós nos estabelecemos em São Paulo. Foram 15 anos no Teatro da Aliança Francesa. Agora vamos para o Rio fazer temporadas.

O fim dos infantis

Eu comecei a notar que cada vez mais, o publico infantil era mais infantil. Quando começamos  a fazer teatro para crianças, a idade delas era de 7, 8 anos. As crianças acompanhavam o texto. As histórias podiam ser mais elaboradas. Tínhamos um projeto de fazer Peter Pan, mas tivemos problemas com os direitos autorais. Ao mesmo tempo, eu sentia que o teatro infantil começou a derivar para uma coisa mais didática, para crianças muito pequenas.

Abandonamos o teatro infantil, mas nunca abandonamos as para plateias adolescentes, e para estes continuamos fazendo teatro brasileiro, tanto que agora no Teatro de Arena, que estamos ocupando, estamos fazendo As Viúvas, de Arthur Azevedo, dirigido por XXX para todos os públicos, e As Desgraças de uma Criança, de Martins Pena, dirigido pelo Brian Penido. Então, apenas mudamos nosso foco. Paramos de fazer espetáculos da tarde, e nos dirigimos para uma plateia mais jovem.

O que me interessava no teatro para crianças era a maneira de contar um história para esse público. Acredito que o tipo de teatro que fazíamos na década de 1980 para o público infantil, não tem mais lugar nos dias de hoje.
Na Broadway, quando eles fazem um espetáculo tipo Peter Pan, Mágico de Oz, as apresentações são num horário de espetáculo adulto. Tem matines, é claro, onde a criança vai, mas a produção é tratada como se fosse um espetáculo adulto.

Além disso, aqui no Brasil, falta espaço. Digo isso num sentido bem mais amplo. Falta espaço de apresentação, de repercussão, o espaço nos jornais. É triste, mas acabaram com tudo. Nós somos como dinossauros de alguma coisa do passado…, andamos na contramão do mundo.

Desde os anos 90, tenho viajado muito e vejo a um enorme buraco aqui no Brasil. Não vou nem falar do primeiro mundo. Buenos Aires, por exemplo, tem um boom de teatro. As salas estão sempre lotadas, de teatro de qualidade e existe teatro de todo tipo. Desde teatrão ao alternativo e tudo com qualidade. Aqui acontece algo, que não sei explicar.

Temos cada vez menos jornais. Os jornais acabaram. No Rio, você fica com uma única voz que está ligada a uma estação de televisão. Mesmo assim, sem a repercussão que já teve. Os espaços virando um super mercado de espetáculos, sem condições de abriga-los. Eu acho uma loucura.

Eu me lembro que quando saímos do Rio, o Teatro Vanucci já era um teatro mau visto porque fazia isso. Uma sala de alta rotatividade. Um espetáculo se apresenta duas vezes por semana, quer dizer, não tem a mínima possibilidade de ter uma cenografia, uma luz decente.

Também fui verificando que o nível dos professores baixou muito no Brasil. Você ia fazer um debate, levar um projeto os professores e este nem sabiam quem eram os autores. Preparar os alunos. Então, nem se fala.

É impossível o teatro ser menor do que o país. O teatro pode estar um pouquinho na vanguarda de um país, mas ele não pode estar muito afastado. Ele é o espelho, retrata nossa realidade.

Apesar da nossa divisão de renda estar melhor, acredito que temos pelo menos uns 20, 30 anos a mais, até resgatarmos alguma coisa na qualidade de pensamento no Brasil. Isso se conseguirmos resgatar.

Hoje nos temos mais consumidores, mas todos com uma baixa qualidade de percepção. Aquele público que tínhamos foi embora. Atualmente o teatro corre atrás dessas plateias que querem Stand up. Querem só rir.

E em relação ao público infantil é ainda pior. Estamos vivendo num mundo do politicamente correto e que nada pode. Até o teatro da Maria Clara Machado apresenta problemas. Outro dia soube que implicaram com uma das personagens dela que chamava Cafeteira. Isso vai contra o Estatuto da Criança e do Adolescente. Acho isso uma loucura, como se esse estatuto, depois de sua criação, tivesse gerado menos violência infantil. Tudo que era exorcizado na ficção hoje é vivido na realidade. Há um código completamente deturpado do que é isso. Não sou teórico em educação, mas eu observo e gosto se discute.

Quer dizer que uma personagem chamada de Dona Cafeteira tem problema, mas a criança que liga a TV e vê na novela das nove, a Beth Savalla ensinar a filha a pegar um milionário, com o golpe da barriga, não tem.

Tão cedo, acredito que não terá solução.

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Participação em Espetáculos para Crianças e Jovens

Como Diretor

Do Grupo Tapa

1979 – Apenas um Conto de Fadas, de Eduardo Tolentino
1980 – Uma Peça por Outra, de Jean Tardieu
1981 – O Anel e a Rosa, de Thackeray, adaptação Eduardo Tolentino e Renato Icarahy
1982 – Tempo Quente na Floresta Azul, de Orígenes Lessa
1984 – Pinóquio, de Carlo Collodi, adaptação Eduardo Tolentino e Renato Icarahy (RJ)
1985 – Festival do Teatro Brasileiro – O Noviço, de Martins Pena
1985 – Festival do Teatro Brasileiro – A Casa de Orates, de Artur e Aluisio Azevedo
1985 – O Tempo e os Conways, de John Boyton Priestley (RJ)
1986 – O Tempo e os Conways, de John Boyton Priestley (SP)
1986 – Festival do Teatro Brasileiro – O Alienista, do Machado de Assis
1987  – Pinóquio, de Carlo Collodi, adaptação Eduardo Tolentino e Renato Icarahy (SP)
1988 – A Mandragora, de Maquiavel (SP)
1989 – Nossa Cidade, de Thornton Wilder (SP)
1989 – Senhor do Porqueiral, de Molière (SP)
1990 – Senhor do Porqueiral, de Molière (RJ)
1990 – As Raposas do Café, de Antônio Bivar e Celso Luiz Paulini (SP)
1990 – A Megera Domada, de William Sakespeare (SP)
2004 – A Mandrágora, de Maquiavel (SP)

Como Diretor

De outros produtores

1982 – A Fada que Tinha Ideias, de Fernanda Lopes de Almeida, produção Elvira Rocha, SESC Tijuca
1983 – A Fada que Tinha Ideias, de Fernanda Lopes de Almeida, produção Elvira Rocha, Teatro Vanucci
1985 – Lisístrata, de Aristófanes, tradução de Millôr Fernandes, produção CAL – Casa das Artes de Laranjeiras, Teatro Villa-Lobos

Participação em Espetáculos Adultos

Do Grupo Tapa

1982 – Não me Chame de Tetê ou O Trágico Acidente que Destronou Tereza, de José Wilker
1983 – Viúva, porem Honesta, de Nelson Rodrigues
1988 – Solness, o Construtor, de Henrik Ibsen
1992 – As Portas da Noite, de Jacques Prévert
1992 – Querô, uma Reportagem Maldita, de Plínio Marcos
1993 – Senhora Klein, de Nicolas Wright
1994 – Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues
1995 – Corpo a Corpo, de Oduvaldo Viana Filho
1995 – Rastro Atrás, de Jorge Andrade
1995 – Do Fundo do Lago Escuro,de Domingos de Oliveira
1997 – Navalha na Carne, de Plínio Marcos
1997 – Moço em Estado de Sítio, de Oduvaldo Vianna Filho
1999 – Ivanov, de Anton Tchekhov
1999 – A Serpente, de Nelson Rodrigues
1999 – As Viúvas, de Arthur Azevedo
2000 – Contos de Sedução, de Maupassant
2001 – Os Órfãos de Jânio, de Millôr Fernandes
2001 – Major Bárbara, de Bernard Shaw
2001 – A Importância de Ser Fiel, de Oscar Wilde
2002 – Executivos, Daniel Besse
2003 – Melanie Klein, de Daniel Besse
2005 – Amargo Siciliano, de Luigi Pirandello
2006 – Camaradagem, de August Strindberg
2008 – Retratos Falantes, de Alan Bennet
2008 – A Moratória, de Jorge Andrade
2008 – O Ensaio, de Jean Anouilh
2009 – Os Credores, de August Strindberg
2009 – Valsa Número Seis, de Nelson Rodrigues
2009 – Vestir os Nus, de Luigi Pirandello
2010 – Cloaca, de Maria Goos
2010 – Doze Homens e uma Sentença, de Reginaldo Rose
2011 – Alguns Blues do Tennessee, de Tennessee Williams
2012 – De Um ou de Nenhum, de Luigi Pirandello
2013 – Senhorita Júlia, de August Strindberg
2013 – Retratos Falantes, de Alan Benett
2013 – A Moratória, de Jorge Andrade
2013 – O Anti-Nelson Rodrigues, de Nelson Rodrigues
2013 – Senhorita Júlia, de August Strinberg
2013 – Berro, de Tennessee Williams
2015 – Esplendidos, de Jean Genet
2015 – A Mandragora, de Nicolau Maquiavel

Espetáculos do Grupo TAPA

Encenados por Outros Diretores

1985 – Festival do Teatro Brasileiro – Caiu o Ministério, de França Júnior, direção do Celso Lemos (RJ)
1985 – Beto e Teca, de Volker Ludwik, com tradução e direção do Renato Icarahy (RJ)
1986 – A Verdadeira Vida de Jonas Wenka, de Brecht, direção Peter Palitzsch (RJ)
1986 – Festival do Teatro Brasileiro – O Alienista, do Machado de Assis, direção Renato Icarahy (RJ)
1987 – Festival do Teatro BrasileiroO Homem que Sabia Javanês, de Lima Barreto, adaptação Anamaria Nunes, direção Eduardo Wotizik
1994 – Panorama do Teatro Brasileiro – O Noviço, de Martins Pena, direção Brian Penido (SP)
…….. – O Telescópio, de Jorge Andrade, direção Zecarlos Machado (SP)
…….. Morte, Vida, Severina, de João Cabral de Melo Neto, direção Silney Siqueira (SP)
……..As Viúvas, de Arthur Azevedo, direção Sandra Corveoni (SP)
……..O Tambor e o Anjo, de Ana Maria Machado, direção André Garolli e Paulo Marcos (SP)

Dentro do Projeto “O TAPA NO ARTHUR”

2003 – O Califa da Rua do Sabão, de Arthur Azevedo, direção Norival Rizzo (SP)
2003 – A Almanjarra, de Arthur Azevedo, direção Paulo Marcos (SP)
2003 – O Genro de Muitas Sogras, de Arthur Azevedo, direção Cacá Amaral (SP)
2003 – As Viúvas, de Arthur Azevedo, direção: Sandra Coverloni (SP)
2004 – Casa de Orates, de Arthur e Aluísio Azevedo, direção Brian Penido Ross (SP)
2004 – Rumo a Cardiff, de Eugene O´Neill, direção André Garolli (SP)

 (Período em pesquisa)

2013 – As Desgraças de uma Criança, de Martins Pena, direção Brian Penido (SP)

Prêmios de Teatro

– Apenas um conto de Fadas

Mambembe – 1979 RJ
Recebeu as indicações de Atriz e Figurinos do primeiro quadrimestre, não seguindo para as indicações finais

– Uma Peça por Outra

Mambembe – 1980 RJ
Prêmio de Diretor Revelação para Eduardo Tolentino

 – O Anel e a Rosa

VII Prêmio SNT – 1981 RJ

Melhor Espetáculo Infanto-Juvenil

MEC – Mambembe – 1981 RJ

Prêmio de Melhor Produtor ou Empresário para Tapa Produções Artísticas

Indicação de Melhor Atriz para Denise Weinberg
Indicação de Melhor Ator para Charles Myara
Indicação de Ator Revelação para Flávio Antonio

 – A Fada que Tinha Ideias

MEC – Mambembe – 1982 RJ
Prêmio de Melhor Autora para Fernanda Lopes de Almeida
Prêmio de Melhor Diretor para Eduardo Tolentino
Prêmio de Melhor Atriz Alice Viveiros de Castro
Indicação de Melhor Ator para Eduardo Woytzik
Indicação de Melhor Produtor ou Empresário para Elvira Rocha

INACEN – 1982 RJ
Um dos cinco Melhores Espetáculos do Ano

 – Tempo Quente na Floresta Azul

MEC – Mambembe – 1982 RJ

Prêmio de Melhor Diretor para Eduardo Tolentino
Prêmio de Melhor Figurino para Lola Tolentino
Prêmio de Grupo, Movimento ou Personalidade para Nelson Melim, pelas músicas e direção musical
Indicação de Melhor Cenografia para Mário Florão e Mirela Noccera

INACEN – 1982 RJ
Um dos cinco Melhores Espetáculos do Ano

 – Pinóquio

Molière – 1984 RJ
Prêmio de Direção para Eduardo Tolentino de Araujo

MEC – Mambembe – 1984 RJ
Prêmio de Melhor Direção para Eduardo Tolentino
Prêmio de Melhor Atriz para Clarisse Derzié

Prêmio de Melhor Figurino para Lola Tolentino
Prêmio de Produtor ou Empresário para o Grupo Tapa
Indicação de Melhor Cenário para Ricardo Ferreira
Indicação de Categoria Especial pela adaptação de Pinóquio para Eduardo Tolentino e Renato Icarahy
Indicação de Grupo, Movimento ou Personalidade ao Grupo Tapa, pela sua inclusão no projeto cultural do Teatro dos 4 e pela exposição sobre o centenário de Pinóquio

INACEN – 1984 RJ
Um dos cinco Melhores Espetáculos do Ano

MINC – Prêmio Mambembe – 1987 SP

Prêmio de Melhor Ator para Ricardo Blat
Prêmio de Produtor ou Empresário para o Grupo Tapa pela montagem de Pinóquio
Indicação de Melhor Autor para Eduardo Tolentino e Renato Icarahy
Indicação de Melhor Direção para Eduardo Tolentino

Indicação de Melhor Atriz para Denise Weimberg
Indicação de Melhor Figurino para Lola Tolentino
Indicação de Melhor Cenário para Ricardo Ferreira
Indicação de Melhor Música para Francis Hime e Renato Icarahy

APETESP – 1987 SP

Prêmio de Melhor Ator para Ricardo Blat
Indicação de Melhor Música para Francis Hime
Indicação de Melhor Produtor para Tapa Produções Artísticas

APCA – 1987 SP
Melhor Diretor para Eduardo Tolentino
Melhor Ator para Ricardo Blat
Melhor Atriz Coadjuvante para Denise Weimberg

Governador do Estado – 1987 SP

Melhor Ator para Ricardo Blat
Melhor Cenário para Ricardo Ferreira

– Beto e Teca

MEC – Mambembe 1985 RJ
Prêmio de Melhor Ator para Felipe Martins
Indicação de Melhor Diretor para Renato Icarahy

Indicação de Grupo, Movimento ou Personalidade para Grupo Tapa, por Beto e Teca

Indicação de Produtor ou Empresário para o Grupo Tapa por Beto e Teca e Festival de Teatro Brasileiro

INACEN – 1985 RJ
Um dos cinco Melhores Espetáculos do Ano

– Uma Peça por Outra

Governador do Estado 1987 SP

Melhor Diretor para Eduardo Tolentino
Melhor Figurino para Lola Tolentino

APCA – 1987 SP
Melhor Cenotécnica

MEC – Mambembe – 1987 SP

Prêmio de Atriz Coadjuvante para Denise Weimberg

 – Viúva, porém Honesta

Mambembe – 1983 RJ
Prêmio de Diretor Revelação para Eduardo Tolentino

INACEM – 1983 RJ

Um dos cinco Melhores Espetáculos do Ano

APCA – 1987 SP
Melhor Sonoplastia

Governador do Estado – 1988 SP

Prêmio de Melhor Diretor para Eduardo Tolentino
Prêmio de Melhor Figurino para Lola Tolentino

O Tempo e os Conways

Mambembe – 1986 RJ

Prêmio de Atriz Revelação para Luciana Braga

Mambembe – 1986 SP

Prêmio de Melhor Figurino para Lola Tolentino

Indicação para Grupo, Movimento ou Personalidade para o Grupo Tapa

APETESP – 1986 SP

Indicação de Melhor Atriz para Beatriz Segall
Indicação de Melhor Figurino para Lola Tolentino
Indicação de Melhor Cenário para Ricardo Ferreira
Indicação de Produtor Executivo para Márcia Fasano

Governador do Estado – 1987 SP

Prêmio de Melhor Figurino para Lola Tolentino

– Solness, o Construtor

Shell – 1988 SP
Prêmio na Categoria Especial para o Grupo Tapa

APCA – 1988 SP
Prêmio de Melhor Cenário para Ricardo Ferreira
Prêmio de Melhor Figurino para Lola Tolentino
Prêmio de Melhor Cenotécnica para Estevão

Molière – 1988 SP

Prêmio de Melhor Cenário para Ricardo Ferreira

– A Mandragora

Prêmio Governador do Estado – 1988 SP

Prêmio de Melhor Ator Coadjuvante para Ernani Moraes

– O Senhor do Porqueiral

MAMBEMBE – 1989 SP

Um dos Cinco Melhores Espetáculos do Ano

APETESP – 1989 SP
Prêmio de Melhor Ator para Guilherme Sant’Anna

APCA – 1989 SP
Prêmio de Ator Revelação para Guilherme Sant’Anna

– As Raposas do Café

Molière – 1990 SP

Prêmio de Melhor Texto para Antonio Bivar e Celso Luiz Paulini
Prêmio de Melhor Cenário para J. C. Serroni

APCA – 1990 SP
Melhor Texto para Antonio Bivar e Luís Celso Paulini

– A Megera Domada

Molière – 1991 SP

Prêmio de Melhor Atriz para Denise Weimberg
Prêmio de Melhor ator para Ernani Moraes

– Querô – Uma Reportagem Maldita

Shell – 1992 SP
Prêmio de Melhor Texto para Plínio Marcos

APETESP – 1992 SP

Prêmio de Melhor Texto para Plínio Marcos

APCA – 1992 SP
Prêmio de Melhor Trilha Sonora para Octávio Machado

– As Portas da Noite

APCA – 1992 SP
Prêmio de Melhor Direção Musical para Luís Gustavo Petri

– Ivanov

MAMBEMBE – 1998 SP

Prêmio de Melhor Atriz para Clara Carvalho

– Os Órfãos de Jânio

Shell – 2001 SP

Prêmio Melhor Atriz para Clara Carvalho

(Período em Pesquisa)

Barra

Depoimento dado à Antonio Carlos Bernardes, na sede do Grupo TAPA, em São Paulo, em 10 de Setembro de 2013.