Ricardo Brito

Formação Profissional

Cursei Economia pela Faculdade Bennett e Pós-Graduação em Marketing pela PUCRJ e em Cultura e Literatura pela Universidade Candido Mendes. Quando iniciei minha vida profissional, fiz outros cursos de extensão em Marketing na Escola Superior de Propaganda e Marketing e na Fundação Getúlio Vargas.

Carreira Profissional

Quando estudava Economia já pensava em trabalhar com Marketing. Meu primeiro trabalho na área foi na Esso (1978-1987), como trainee de Marketing e nessa empresa fiz carreira. Passei por várias áreas, de Merchandising, Analise de Mercado, Planejamento Estratégico e Analise de Negócios. Depois fiquei responsável pelo Departamento de Promoções e Eventos. Estava bem empregado na Esso até que um dia senti que tinha que procurar novos caminhos, novos ares. Procurei um especialista da minha área para avaliar as possibilidades para mim no mercado. Entre algumas oportunidades, apareceu a Coca-Cola e me ofereceram o cargo de Gerente de Relações com a Comunidade (Marketing Institucional) da empresa, para cuidar da imagem da empresa nas áreas de ações sociais, esportivas, culturais, incluindo os setores de Relações públicas e Assessoria de Imprensa.

Quando cheguei na Coca-Cola, em 1987, não havia nenhum projeto cultural. Existia uma Diretoria de Relações Públicas, a qual eu estava subordinado que era muito ligada às artes plásticas. Mas as ações culturais só eram realizadas quando sobrava algum dinheiro no orçamento ou usava verba de brindes de fim de ano. E assim a Coca-Cola, volta e meia, patrocinava, edições de discos, como por exemplo o da Leny Andrade cantando Cartola, ou livros de artes, como o do Pantanal ou o do Arquipélago de Abrolhos. Como contrapartida recebia um número de exemplares do livro, que eram distribuídos como brindes. Diga-se um brinde luxuoso. E essa era uma das principais ações culturais da Coca-Cola.

O início de uma Ideia

Na estrutura da empresa, tem a Coca-Cola internacional, que é quem cuida dos produtos (marcas) da Instituição, mas em cada região do país tem um fabricante, e é essa empresa que cuida das promoções, eventos locais, etc.

Quando eu cheguei na Coca-Cola, havia uma necessidade de um projeto cultural, para se aproximar da classe artística, importante e formadora de opinião. Todas as empresas internacionais como a Esso, Shell, Nestle, Coca-Cola, devem cultivar uma imagem de empresa boa cidadã nos locais onde atuam. Têm que cultivar preservar a boa imagem no país, para poderem competir com as empresas brasileiras. Esse é o pensamento principal de ações nessa área.

Mas vamos voltar um pouco no tempo. Eu conheci várias pessoas do meio artístico. Quando estudei no Colégio Bennet cheguei a participar do grupo de teatro da Lucia Coelho, que formou vários artistas, como Fabio Junqueira, Daniel Dantas, Karen Acioly, Zezé Polessa, entre outros. Na época, o Grêmio do Colégio, que fui um dos fundadores, era muito presente nas atividades culturais. Organizava sessões de cinema, shows e festivais estudantis. Eu tocava violão e cheguei a fazer músicas na época. Fui classificado em terceiro lugar num festival da escola. Minha mãe era pianista, achava que eu tinha que me dedicar à música. Um dia, Lucia Coelho, que estava ensaiando com o grupo do teatro da escola (TAB), me convidou para fazer parte do grupo de música para o espetáculo. E até participei da montagem tocando violão e até entrando em cena e atuando como ator.

Quando comecei minhas atividades na Coca-Cola começaram a aparecer muitos grupos de teatro, solicitando patrocínio para montagem de seus espetáculos. Lembro da Silvia Aderne, do Grupo Hombu, da Sura Berdtchevsky e muitos outros. No início eu organizava o apoio da empresa oferecendo refrigerantes e água para os ensaios dos elencos, mas sempre que sobrava uma verba, ajudava com dinheiro e como contrapartida, colocavam a logo da empresa no material gráfico dos espetáculos.

Em pouquíssimo tempo, muitos grupos de teatro começaram a bater na nossa porta, pois era uma área muito carente. Eram muitas as dificuldades, como arrumar pauta nos teatros. O teatro adulto não dava espaço para o infantil. O teatro estava numa crise muito grande e essa pequena ajuda era um alento. Um reconhecimento.

Comecei a mostrar para a empresa, a importância de estarmos sendo reconhecidos como apoiadores do teatro Infantil, praticamente gastando muito pouco.  Alguns diretores começaram a simpatizar com a ideia, principalmente Sonia Barreto, minha chefe. Mas tinham pessoas que não gostavam. Meu processo dentro da empresa, foi o de convencimento de que esse apoio era importante.

Assim, pouco a pouco, começamos a ter mais verbas. Veio até a ideia de também patrocinar. Mas, queriam que fosse um grande projeto, que merecesse uma marca como a Coca-Cola. Lembro que falavam em até trazer o Momix para o Brasil, visando um retorno mais “grandioso”, que consideravam ser mais impactante para a empresa.

Uma noite, acordei de madrugada, e tive a ideia de realizar esse grande projeto na área do teatro infantil. Comecei então, a desenvolver o projeto. Conversei com Sonia Barreto e com Carlos Alberto Cabral, um dos diretores da empresa, que gostaram e apoiaram a ideia desde o início. Me autorizaram pedir apoio a agencia de propaganda DPZ. Além da Sonia Barreto, da Coca-Cola, o Alex Pagliarini, da DPZ, foi outra pessoa que teve grande importância no desenvolvimento do projeto. Pensava num projeto de patrocínio que pudesse contemplar o maior número possível de artistas, com os mesmos valores e que o vencedor de um ano, não ganharia no ano seguinte, proporcionando um rodízio e mais artistas beneficiados. Os jurados deveriam ser pessoas representativas da classe artística e não poderiam participar de nenhum dos espetáculos inscritos. E que esse projeto promovesse também oficinas, seminários e outras ações formando e homenageando artistas da área de teatro infantil. Tudo isso fortaleceria o teatro e valorizaria o projeto.

O Projeto Coca-Cola de Teatro Infantil

Lançamento do Prêmio Coca-Cola de Teatro Infantil. Marieta Dantas (filha da atriz Andrea Dantas), Ricardo Brito e Ziraldo, 1987

O projeto teve início em agosto de 1987. A ideia inicial foi de fazer anualmente o Prêmio Maria Clara Machado e o Festival de Coca-Cola de Teatro Infantil. A DPZ, desenvolveu a criação do material gráfico. A Lei Sarney de apoio à Cultura também começa nesse período, mas me informei que não poderíamos usar o nome da Coca-Cola no título do festival, pois a lei não permitia. Então, invertemos, resolvemos mudar para Prêmio Coca-Cola de Teatro Infantil, e lançamos o projeto Coca-Cola com o Festival Maria Clara Machado. Eram quatro espetáculos, com produções e artistas escolhidos pela própria Maria Clara Machado, que foram patrocinados pela empresa. O projeto começou então a ter um orçamento anual.

Convidei a jornalista e assessora de imprensa Ismênia Dantas, mãe dos artistas Daniel e Andrea Dantas, para ajudar no lançamento do projeto.  Numa das reuniões perguntei pra Ismênia, quem ela indicaria para dirigir a primeira cerimônia do prêmio. Dentre os nomes indicados estava o de Lucia Coelho, que eu perdera de vista deste os tempos do Colégio Bennet. Chamei a Lucia Coelho e durante dois anos ela foi a responsável pela direção da festa eu fiquei na direção geral, coordenando os jurados e os detalhes da cerimônia. Depois também foi jurada. Lucia Coelho, foi muito importante para o projeto. Acredito que durante esses 10 anos de premiações, foi a pessoa mais importante da área, que circulou de alguma forma nos eventos e projetos que realizávamos.

Com o fortalecimento do patrocínio o projeto foi crescendo. O Presidente da Coca-Cola, Jorge Gigante estava encantado com a repercussão. Quando foi desenvolvida a marca do prêmio, com as duas caras representando o drama e a comédia, ele pediu que as duas carinhas estivessem sorrindo! Ele comprou a história do projeto e assim foi muito importante nesse crescimento.  Não apenas na aprovação do projeto aqui no Rio de Janeiro, como também, anos depois, no desenvolvimento do projeto para São Paulo.

Comecei a ser procurado por muita gente da classe artística com demandas permanentes e o projeto me ocupava um tempo enorme. Parte da diretoria da empresa não concordava com esse trabalho dentro da Coca-Cola. Achavam que esse projeto deveria ser produzido por uma produtora cultural e que meu departamento tinha que se preocupar com outras coisas. O desgaste era grande, mas o presidente da Coca-Cola segurava a situação. Comecei então a procurar algumas empresas importantes da área de produção cultural, solicitando orçamento para a produção das ações do projeto, mas o orçamento que nos davam representavam 80% da verba que tínhamos, o que inviabilizava o projeto. Para resolver a situação, acabamos organizando a minha saída da Coca-Cola e a continuidade do meu trabalho com o projeto. A DPZ me cedeu uma sala, com secretária, e, uma vez por semana ocupava este espaço para resolver e planejar o projeto.

As consequências desastrosas do Plano Collor

No tempo livre, comecei a voltar a me dedicar à área musical. E assim fomos caminhando até que chegou o plano Collor, em março de 1990 e confiscaram o dinheiro de todo mundo. Me ligaram da Coca-Cola me alertando que eu abrisse os olhos porque a empresa iria acabar com os patrocínios. No dia seguinte a essa conversa, me comunicaram que o projeto não iria continuar.

Já tinha tido recentemente uma proposta para ser diretor de marketing de outra empresa. Os procurei e aceitei imediatamente.

Mas as coisas foram voltando ao normal e conseguimos a liberação de recursos e as ações do prêmio continuaram. Me desliguei da empresa e voltei como consultor da Coca-Cola para a continuação do projeto.

Em 1991, teve um momento delicado. Dava toda a assistência como consultor e organizava o trabalho com os jurados. Quando comecei a organizar a cerimônia de entrega dos prêmios, novamente chamei a Lucia Coelho para coordenar a festa. Mas descobri que dentro da Coca-Cola estavam também organizando a festa e que tinham chamado a Karen Acioly para dirigir a premiação. Frente a essa situação, entrei em contato com Coca-Cola e, a partir desse momento, argumentei que, ou eu cuidaria de tudo, ou eu não faria mais parte desse trabalho.

Devo dizer que a mais importante fonte de recurso era sempre festa de entrega de prêmios, onde o organizador tinha 15% do orçamento do evento.

Logo entenderam que o projeto sem a minha participação não existiria (ou seria diferente) e acabou que reassumi todas as ações novamente.

Carlos Alberto Cabral (Diretor da Coca-Cola), Lucia Cerrone (crítica Teatral), Maria Helena de Araújo (Divisão de Artes Cênicas da FUNARJ), Beatriz Veiga (Diretora da Casa de Cultura Laura Alvim), Sura Berdtchevski, Sylvia Orthof e Ricardo Brito

Festival de Ecologia no Teatro Infantil

No início de 1992, veio um pedido do governo brasileiro solicitando que todas as empresas do Brasil, colaborassem na divulgação do RIO-92. Propus então, o Festival de Ecologia no Teatro Infantil. Criamos um concurso de dramaturgia, onde os quatro textos escolhidos, seriam encenados na Casa de Cultura Laura Alvin. Como jurados convidamos pessoas importantes da dramaturgia para crianças. Beatriz Veiga (diretora da Casa de Cultura Laura Alvim), Maria Helena de Araújo (Divisão de Artes Cênicas da FUNARJ), Silvia Orthof (escritora e diretora) e Lúcia Cerrone (jornalista) e Sura Berditchevsky (atriz e diretora).  Para minha surpresa, foram inscritos mais de 300 textos. No último dia de inscrição, a fila para inscrever os projetos dava a volta no quarteirão na Laura Alvim, em Ipanema, tendo saído inclusive nas colunas sociais no dia seguinte o registro de artistas importantes do teatro carioca nesta fila.

Não foi fácil a escolha dos textos. Tinha muita coisa boa. Mas chegamos aos vencedores. O Festival de Ecologia do Teatro Infantil foi um acontecimento.

Ter o teatro infantil inserido na Rio 92 foi um momento muito importante para a classe artística. Representava a inclusão do teatro infantil como segmento cultural com reconhecimento de importância e se firmou como um evento oficial da cidade.

No ano seguinte tiveram mais de 40 peças, com o tema da ecologia, encenadas na cidade do Rio de Janeiro. Isso para mim, foi o mais impressionante. Os artistas com os textos prontos, muitos sem patrocínio, arrumaram um jeito de montar suas peças. Mas, o mais curioso, é que passado um tempo e olhando para trás, vimos que muitas destas montagens ganharam prêmios e fizeram mais sucesso que os quatro textos vencedores, que abrilhantaram o nosso festival.

O Teatro para adolescentes

Além de provocarmos muita gente a escrever textos, começamos a realizar oficinas e seminários com temas e ações especificas para crianças e jovens. Percebemos que não entrávamos na área de teatro para adolescentes. O Damião (Carlos Wilson) estava com um trabalho importante. Tinha montado Capitães de Areia, Paulo Cesar Coutinho e Pedro Vasconcelos também faziam bons trabalhos.

Comecei a pensar no que poderíamos fazer em relação ao teatro para a adolescentes. Meu medo era que Pepsi-Cola, poderia entrar na briga e pegar essa fatia do mercado. Conversei com pessoas da Coca-Cola e com a Sura Berdtchevsky que já tinha me falado do Festival Teatro de Lyon e o de Avignon. Fomos a França em 1993, já havia acontecido o Festival de Lyon e fomos conhecer o de Avignon. Comecei a partir daí a fazer uns contatos com o pessoal de lá e no ano seguinte voltei a França para conhecer a Bienal de Lyon.

Ricardo Brito, José Caldas (ator e diretor teatral brasileiro, residente em Lisboa) e Maurice Yendt (diretor da Biennale de Theatre Jeunes Publics), 1995

Fiquei encantado com a Bienal de Lyon. Tive várias reuniões com os organizadores, Maurice Yendt e Michel Dieuaide e comecei a pensar como poderia viabilizar a ida de espetáculos brasileiros para lá. Logo que voltei da França, comecei a criar o esboço do novo Projeto de Teatro Jovem. Criei o projeto, a logo, registrei o nome, confirmei o patrocínio e seguimos em frente.

A fundação do CBTIJ

Nesses contatos em Lyon, Maurice Yendt, (que nesse momento também era o presidente da ASSITEJ-France – Associação Internacional de Teatro para a Infância e Juventude), e José Caldas (brasileiro, diretor de teatro que vive em Portugal), me perguntaram se eu poderia ajudar a fundar uma associação de teatro para infância e juventude no Brasil, uma vez que era do conhecimento deles a grande produção realizada desse segmento por aqui. Também já haviam acontecido duas tentativas de se montar uma associação sem sucesso. Me prontifiquei a organizar e assim o fiz. Convidei os principais artistas do Teatro para Infância e Juventude Carioca, no meu escritório e fizemos algumas reuniões (esse foi o primeiro endereço do CBTIJ, para relações internacionais, no período que antecedeu a sua fundação). Começamos a estruturar como seria o Centro e logo planejamos a sua fundação, com Alice Koënow (diretora de teatro) como presidente. Inclusive na época chegaram a me indicar, mas não pude aceitar porque sabia que o CBTIJ deveria ser representado por gente do teatro, como era em todos os países. Logo a seguir, Dudu Sandroni ofereceu que as reuniões passassem a ser no Teatro Carlos Gomes e depois foram para outros locais, já sem a minha participação.

Fortalecimento e expansão da Brito Produções e do Teatro Jovem

Foi em 1994 também, que a Brito Produções fez um contrato de prestação de serviços com a Coca-Cola, onde cuidaria dos patrocínios de qualquer área da cultura brasileira. Passamos a cuidar de eventos e ainda contávamos com o patrocínio para o Projeto de Teatro Jovem.

Nosso escritório estava organizado na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, perto da Coca-Cola e eu recebia o pessoal do cinema, das artes plásticas, de fundações e Institutos. Ficava tudo com a Brito Produções.

Para o lançamento do Projeto Coca-Cola de Teatro Jovem, criamos um festival e seminário. Para o seminário eu fiz questão de convidar os organizadores da Bienal de Lyon para discutir como tratavam esse segmento na Europa e ainda ter o primeiro contato com produções brasileiras e com o CBTIJ, que estava sendo estruturado.

Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem

Para a primeira edição da festa do prêmio do Teatro Jovem, convidamos Maria Mariana e suas companheiras de espetáculo, que naquele momento, era o grande representante dos jovens – Confissões de Adolescentes. Mariana, Carol, Ingrid e Patrícia iriam apresentar a cerimônia. Mariana sugeriu que Domingos Oliveira (seu pai) fizesse a direção da encenação na festa do prêmio. Fiquei muito feliz com o resultado, tanto que convidei Domingos para dirigir a encenação que fazíamos na cerimônia por mais dois anos. Aprendi muito sobre teatro com o Domingos Oliveira. Ele era um cara espetacular, com uma cabeça incrível. Dizia que pessoas faziam teatro para pessoas do teatro. O que era necessário seria aumentar este número de adeptos. Na primeira vez que ele apresentou uma proposta, ele teve uma ideia sensacional para o encerramento da encenação, mas que envolvia um outro produto (Champanhe). Fui falar com o presidente da Coca-Cola, que rejeitou a ideia. A ideia da encenação era toda amarrada para aquele fim e teríamos que construir tudo de novo. Voltei ao Domingos e expliquei o que tinha acontecido. Domingos tranquilo, falou que tudo bem e ficou de apresentar uma nova opção. No outro dia, voltou com uma ideia ainda melhor. Uma surpresa para mim. Todas as pessoas que até então tinham dirigido as encenações, sofriam muito com essas alterações. Falei com ele sobre isso e ele simplesmente respondeu:  “Ricardo, são muitos anos de Globo. Aprendi muito a me desapegar das ideias”. E, depois de fazermos este evento, em 94, a Coca-Cola firmou ainda mais o patrocínio do projeto.

Stand da Brito Produções na 7ª Bienal do Livro. Fernando Henrique Cardoso e Ricardo Brito. Foto Rodolpho Machado, 1995

Stand da Brito Produções na 7ª Bienal do Livro. Dudu Sandroni, Thiago Cesário Alvim (Gerente de Promoções da Coca-Cola) e Ricardo Brito. Foto Rodolpho Machado, 1995

Em 95, o Jorge Giganti, presidente da Coca-Cola na época do lançamento do Projeto de Teatro Infantil, foi ser presidente da Panamco – Spal, fabricante de Coca-Cola de São Paulo. Sabendo da simpatia dele pelo projeto, apresentei a proposta e implementamos o projeto em São Paulo em 1996.

As ideias mudam

Mas nem tudo que é bom dura para sempre. Tem um momento que acaba.

As pessoas que chegavam na Coca-Cola não estavam interessadas no projeto e o patrocínio foi cancelado.

Fiquei muito grato com várias pessoas da classe teatral que me deram apoio até o final. Faço questão de citar Lucia Coelho, Sura Berditchevsky, Ricardo Blat, Maria Clara Machado, Cacá Mourthê, Anja Bethencourt, Domingos de Oliveira, o pessoal dos Atores de Laura, entre outros. Muita gente que se ofereceu para estar junto, pra ser jurado, gratuitamente, para que eu não parasse com a premiação. Pessoas muito bacanas, das quais sou fã até hoje.

Tentei manter o projeto com outros patrocinadores. Comecei a ter uma conversa importante com a Nestlé. Seria o Prêmio Prestigio de Teatro Jovem, mas não consegui concretizar.

Um documentário premiado sobre Lucia Coelho

Desde 2008, sou funcionário concursado da MultiRio. Trabalho como Produtor Executivo da Televisão e comecei a trabalhar em séries e documentários. Mas paralelamente também me dediquei a música. Resgatei a música na minha vida. Voltei a compor, montei um estúdio e montei uma gravadora. Nesse caminho, criei um programa de rádio na Roquete Pinto, chamado “Encontros”, onde eu entrevistava outros compositores e artistas da MPB. Esse programa foi premiado em 2014 como um dos cinco melhores programas do rádio no Rio de Janeiro. Eu já era da Televisão, e somando essa vivência de entrevistador e apresentador, no rádio, resolvi fazer um filme. Eu logo pensei na Lucia Coelho. Tínhamos recuperado a amizade e ficamos muito próximos. Toda hora nos ligávamos e sempre que ela ia fazer um projeto me pedia opinião e ajuda. E sempre que eu ia fazer um show ou um Sarau, eu chamava a Lucia para me ajudar no roteiro ou dar ideias.

Em 2014, fiz um show convidando cantores, “Ricardo Brito Parceiros e Parcerias” e Lucia mais uma vez, me ajudou a montar o roteiro. Então, ela me convoca para ir na casa dela para me dizer que não poderia estar presente no show, porque havia sido convidada para um Congresso em Pernambuco e que ela não tinha condições de abrir mão do cachê. Mas que estaria de pensamento e me deu a camisa que eu deveria usar no show. Dias depois, fui mostrar para a Lúcia o DVD do Show e ela ficou encantada com o resultado. Mas nesse dia, ela estava muito triste, pois tinha recebido o resultado do FATE (Fundo de Apoio ao Teatro), pois não tinha sido selecionada e também outra resposta negativa sobre um livro sobre sua vida, que ela não conseguia publicar.

No meio daquela situação, propus para Lucia fazer um filme sobre a vida e obra dela, tendo como base seu livro. A primeira reação dela já foi com brilho no olhar. Ela comentou que o Daniel Dantas, também queria fazer um filme sobre ela. Liguei na hora para o Daniel e ele me falou que não tinha perspectiva de fazer o filme naquele momento, nos deixando à vontade, e ainda oferecendo sua ajuda, caso eu precisasse. Mostrei o roteiro para os amigos da MuitiRio e marquei cinco dias de gravação a partir de um roteiro que aprovei com a Lucia.

Depois de tudo acertado e assinado, fiquei muito feliz em realizar esse documentário. Seria uma homenagem para minha mestra querida.

Quando eu já estava quase terminando e só faltava entrevistar Daniel Dantas e Zezé Polessa, Lucia passa mal e vai para Curitiba, pra casa de um sobrinho, que era cardiologista e que já tinha colocado uma ponte safena nela.

Na véspera do dia da minha entrevista com os dois que faltavam, ela fez a cirurgia e foi para a UTI. Zezé e Daniel não sabiam. Apenas quando terminaram a gravação dos depoimentos é que contei para eles o que estava acontecendo com a Lucia. Se tivesse contado antes da entrevista o tom dos depoimentos seria completamente diferente. Infelizmente Lucia faleceu alguns dias depois.

Entrei em crise, sem saber como resolver o documentário. Fiquei um bom tempo nessa situação. Até que pensei: eu queria homenagear a Lucia e é ela que está me homenageando, me dando a oportunidade de eu fazer esse filme.

Contando sua história em um filme.

Como amigo e filho artístico, queria mostrar a mulher bacana que ela foi, não apenas a diretora de teatro, mas a professora e a mulher. Queria que quem assistisse o filme, pensasse: “que mulher bacana é essa, eu a queria ter conhecido! Porque não foi minha professora? Por que não foi minha diretora?”  E acho que conseguimos.

O documentário foi premiado e me deu prestigio. Agora também sou cineasta. E graças a Lúcia Coelho. O Canal Brasil durante três anos programou o documentário.

Novos projetos

Eu tive a ideia de fazer um longa-metragem com os letristas da música popular brasileira. Essa vontade surgiu depois da morte da minha mãe, que foi uma pessoa transformadora na minha vida. Ela também se interessava e estudava música. Me incentivava a fazer música e sempre dizia que eu era mais feliz nessa atividade. Quando ela faleceu, eu tinha quatro músicas em parceria com ela. Em seguida, eu compus umas 80 letras. Comecei a mostrar para parceiros, e fui me especializando colocar letras nas músicas que os parceiros me enviavam. Hoje em dia, eu só faço letra. Não faço mais melodias, e é um aprendizado constante aprender a fazer letras para músicas.

Para o documentário, cheguei a gravar com o Tibério  Gaspar, Paulo César Feital e Chico Salles. A ideia era fazer depoimentos com uns 10 letristas para dar um panorama sobre os letristas brasileiros. Mas aí aconteceu a morte do Tibério. Revi todas as gravações que tinha feito com o Tibério e resolvi montar um curta sobre a produção artística dele, meio que no formato do que eu fiz com a Lucia.

Fazer um longa-metragem, requer muito conhecimento do mercado, o que eu não tinha. Com o curta eu já tinha a experiência em como desenvolver a divulgação através dos festivais e redes digitais. Então resolvi abrir mão do longa-metragem e realizar vários curtas. Já lancei os documentários do Tibério, e do Paulo César Feital, que já estão disponíveis no Youtube e Facebook. Espero poder dar continuidade neste projeto gravando outros importantes letristas, como Bráulio Tavares, Paulo César Pinheiro e outros. Quero seguir fazendo outros documentários. Tem muita história de gente bacana para ser contada.

Atualmente, estou fazendo podcasts e programas de rádio. Também tenho me dedicado a literatura, especialmente em letras para a música popular brasileira.

Cultura é Educação, esse foi o slogan de uma campanha que fiz em 2016, quando fui candidato a vereador. Tentei contribuir com minha experiência para a valorização da cultura em nossa cidade, mas não fui eleito.

Meu amor pelas artes foi adquirido com vivências com pessoas muito especiais. Especialmente no teatro para infância e juventude, na música e no cinema.

Festival Maria Clara Machado – RJ (1988/89)

Festival de Ecologia no Teatro Infantil – RJ (1992)

Festival e Seminário Coca-Cola de Teatro Infantil – RJ (1994)

Festival e Seminário Coca-Cola de Teatro Jovem – RJ (1996)

Festival e Seminário Coca-Cola de Teatro Jovem – SP (1997)

Biennale Theâtre Jeunes Public – Lyon (1997)

Links da Festa de Entrega do Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem de 1997

Parte 1                 Parte 2                Parte 3

Prêmio Coca-Cola de Teatro Infantil – RJ (1988/96)

Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem – RJ (1997/98)

Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem – SP (1997/99)

Jornal de Laura (1992/1994)

Jornal O Teatro Jovem (1994/97)

Revista O Teatro Jovem (1998/99)

Depoimento dado à Antonio Carlos Bernardes, na cidade do Rio de Janeiro, em 23 de outubro de 2020. Fotos: Acervo Ricardo Brito.