Bruno Rudof

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Começo

Nasci na França, em Mulhouse, perto da fronteira com a Alemanha. Toda minha família é dessa região, que passou da Alemanha para a França ao longo das guerras. Meus pais não eram da área artística, mas minha avó materna era costureira e meu avó paterno gostava muito de música, mas não era profissional.

Os primeiros passos no balet

Na casa onde cresci havia um longo corredor e meus pais me contaram que desde muito criança, eu ficava correndo e dançando e rodopiando e foram estas atividades que despertaram neles, que eu poderia gostar do mundo das artes, mais especificamente na dança. Assim, aos meus 6 anos, meus pais me inscreveram numa escola de balé. Estudei dança por muitos anos, também comecei logo cedo a treinar acrobacia e ginástica olímpica. Chegou um momento que tive que escolher entre o balé e a ginástica. Da ginástica, não gostava muito de participar das competições e do balé tinha o trabalho de palco, que me encantava. Escolhi o balé. Fiz uma escola parecida com a que temos no Teatro Municipal de São Paulo. Me formei aos 18 anos.

Circo, teatro e formas animadas

Logo após minha formatura como bailarino, surgiu na minha vida o circo, que neste momento estava passando por uma reformulação e  criação de novas linguagens. Acreditei que seria uma maneira de usar minha bagagem de bailarino, com a minha vontade de voltar para a acrobacia. Paralelamente, já na cidade de Strasbourg, no Teatro “Jeune Public”, especializado em formas animadas, continuei pesquisando e estudando sobre o corpo, teatro físico e mímica clássica. E foi assim que me aproximei no teatro propriamente dito.

A primeira vez

A primeira vez que assisti um espetáculo de teatro foi ainda criança, na empresa do meu pai. No final do ano, sempre tinha apresentações para os filhos dos funcionários. Mas essa relação com o palco, eu comecei aos 6 anos, fazendo balé, pois todo final de ano tínhamos apresentações. Assim eu vivenciei desde muito cedo essa relação com o palco e com as coxias. Todo esse encantamento e aprendizagem de como se comportar num teatro e da preparação de um espetáculo.

Brasil

Eu cheguei no Brasil com 24 anos, em 2001. Foi uma época em que na França o serviço militar era obrigatório, mas existia outra opção. Um programa de governo que, ao invés de fazer um ano de exército, você poderia trabalhar, prestando serviços, durante dois anos em alguma instituição francesa, em qualquer parte do mundo. Só que eu não poderia escolher para onde ir. Então foi um acaso eu vir para São Paulo. Vim trabalhar numa escola bilingue chamada Institut Pasteur. Trabalhei com educação infantil, uma vez que eu também tinha uma formação de pedagogia. Depois dos dois anos, como não havia ninguém para me substituir, uma vez que esse programa tinha sido extinto, tive a oportunidade de continuar nesse trabalho. Devo dizer que nestes dois anos, aproveitei para aprender o português, fazer contatos, conhecer pessoas.

Lúdico, em 2008 e Vila Tarsila, em 2010: espetáculos de dança, dirigidos por Miriam Druwe

Logo que cheguei, comecei a pesquisar sobre as questões que me interessavam para continuar minha trajetória artística. É claro que a barreira da língua, no começo, dificultava muito. Também assisti espetáculos de teatro, dança e circo. E foi no circo que vi a possibilidade de voltar a trabalhar. Foi a porta pela qual eu voltei a ter uma atividade artística.

Há vinte anos, aqui em São Paulo, havia um local chamado Central do Circo, que era um espaço formado por três companhias que misturam circo, teatro e dança: La Mínima, O Circo Mínimo e Cia. Linhas Aéreas. O foco era técnicas circenses, mas eram artistas que estavam pesquisando novas linguagens. Comecei a treinar e aprendi muito, principalmente em técnicas aéreas.

Solas de Vento

Foi também na Central do Circo que conheci Ricardo Rodrigues e criamos a Cia. Solas de Vento. Começamos a treinar juntos, criar números, e sempre colocar um contexto teatral dentro das técnicas circenses. A partir de nossas diferenças, eu francês, ele paulista da zona leste, pensamos em colocar isso num espetáculo.

Em 2007 criamos nosso primeiro espetáculo chamado Homens de Solas de Vento, que deu nome a Cia. um espetáculo adulto com técnicas circenses. O título Solas de Vento vem de um poema de Verlaine, poeta francês, que fala de um homem sem pátria, de um homem viajante. Nosso espetáculo mostra nossas vidas, nossas diferenças: um negro e um branco, um latino e um europeu, um brasileiro e um francês, e coloca esses dois personagens numa situação conflituosa, de serem barrados num aeroporto e terem que conviver. Estreamos no SESC Ipiranga, que nos apoiou e ficamos muito tempo rodando com este espetáculo.

Teatro de Rua e Teatro para Crianças

Recebemos um convite do SESC São Paulo para criar um espetáculo de rua e viajara por várias cidades do Estado de São Paulo. Chamamos de Os Perdidos, também relata a história de uma viagem. O tema da viagem sempre está presente em nossas criações. E com estas duas primeiras experiencias começamos a pensar num espetáculo específico para crianças e jovens.

em 2011, veio então a ideia de montar A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne, com a direção de Carla Candiotto. O Ricardo já tinha tido uma experiência com a Carla em João e o Pé de Feijão e a chamamos para dirigir nosso novo espetáculo. Recebemos o apoio do Teatro Alfa e foi um processo muito intenso e muito curto. Começamos a trabalhar sem texto, depois o meu personagem começou a falar em francês. Também começamos a pesquisar o uso de projeção de imagens a partir de nossas cenas ao vivo. Foi um grande sucesso de público e crítica.

A trilogia veio por acaso. Ao final desse primeiro espetáculo de Julio Verne, terminávamos dizendo que a próxima viagem seria ao Centro da Terra. Mas só em 2013, depois de conversamos muito com o público e com amigos, quando começamos a pensar em um novo espetáculo, é que resolvemos fazer a trilogia. Assim, batemos martelo em relação A Viagem ao Centro da Terra, com direção de Eric Nowinski e só depois é que veio 20.000 Léguas Submarinas, com direção de Álvaro Assad.

Por sermos uma companhia de dois atores em cena, acreditamos que seria mais interessante convidar sempre diretores diferentes, para conhecermos tipos de trabalhos diferentes, novas experiências. Todo espetáculo que montamos tem nossa cara, mas também traz a cara e a assinatura do diretor. A Carla Candiotto traz o tempo da comédia. O Eric Nowinski tem uma grande experiência em contação de história, traz mais texto. E o Álvaro Assad trouxe para o espetáculo a mímica, não tem texto e falamos em gromelô.

Trabalho de diretor

No período que pesquisei e trabalhei muito no universo circense, num encontro com amigos, estes me chamaram para dirigir um número que queriam montar. Aí veio um segundo convite, um terceiro, e tudo de maneira muito natural. Acabei pegando gosto por essa atividade de direção e aos poucos continuam me chamando para dirigir, sempre nesta linguagem que tem miscigenação de teatro e circo, na maior parte espetáculo adultos. Só um foi infantil chamado de Rosa Pequena, da Cia. As Rosas.

Na direção eu sempre tento achar um espaço de gentileza, onde o riso e a emoção são muito importantes, ligadas ao desejo e ao fato do que é um ser humano. Fiz poucas direções e são processos mais lentos e longos, mais artesanais.

Em 2021, terminamos a trilogia de Júlio Verne, que chamamos de Viagens Extraordinárias. No momento estamos viajando e nos apresentando com a trilogia completa. Somos uma Companhia que cria poucos espetáculos e demoramos sempre um período de dois ou três anos entre um espetáculo e outro. Investimos muito tempo e energia para alcançar o maior número de público possível. Viajar é o lema da companhia, como um desejo muito grande. Viajamos tanto no Brasil, como no exterior. Já tivemos a oportunidade de nos apresentar no Japão, Coreia do Sul, China e sempre buscamos novos horizontes, onde podemos apresentar nossas criações.

Festival Innocence and Dreams. Shangai , China, 2017

Festival Innocence and Dreams. Shangai , China, 2017

Festival Art e Humanity, Coreia do Sul, 2016

 

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Participação em Espetáculos para Crianças e Jovens

2017 – Cia. Solas de Vento – 10 Anos, Espetáculos de Repertório, SESC Pompeia, SP

A Volta ao Mundo em 80 Dias, direção Carla Candiotto

2011 – Teatro Alfa, SP
2012 – SESC Belenzinho, SP
2012 – Circulação Proac SP
2012 – Teatro Alfa, SP
2012 – Teatro Alfredo Mesquita
2012 – SESC Santo André, SP
2013 – Teatro Alfa, SP
2014 – SESC Pompeia, SP
2016 – Teatro Alfa, SP
2022 – Alfa, SP
2022 – CCBB, Rio

Memória Roubada, direção Mark Bromilow

2013 – Centro Cultural São Paulo, SP
2014 – Teatro Alfredo Mesquita e Teatro João Caetano, SP

Viagem ao Centro da Terra, direção Eric Nowinski

2015 – Teatro Alfa, SP
2016 – Teatro Alfa, SP
2016 – Teatro Alfa, SP
2018 – SESC Araraquara
2022 – CCBB Rio

20.000 Mil Léguas Submarinas, direção Álvaro Assad

2022 – CCBB Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte
2022 – Teatro Alfa, SP

Sonhos de um Noite de Verão, direção Felipe Grytz, Cia. Milk-Shakespeare

2005 Teatro do Centro da Terra, SP
2006 Teatro Folha, SP

2019 – Rosa Pequena, Vida de Circo, Cia. As Rosas

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Vento, direção Cia. Solas de Vento

2018 – SESC Santana, SP
2021 – Tendal da Lapa, CRD, Teatro Flavio Imperio, SP
2023 – SESC Vila Mariana, SP
2005 – Cabaré e Cabarézinho, Central do Circo, SP

Os Perdidos, direção Cia. Solas de Vento

2010 – Circuito SESC de Arte, SP

Participação em Espetáculos Adultos

2009 – Nu Concreto, direção Rodrigo Matheus
2007 – Homens de Solas de Vento, direção Rodrigo Matheus

2023 – Intimidade Cômica, criação e realização La Class Excêntricos, fomento ao circo
2018 – Inversus, codireção com Ricardo Rodrigues, criação e realização Cia. EOS
2018 – Wendy e Peter, criação e realização Cia. Linhas Aéreas
2016 – Íntimo, criação e realização Cia La Mala, pelo ProAc de Circo 2015
2015 – Cabine, criação e realização Núcleo Desastre, pelo ProAc de Artes Integradas de 2014
2012 – Avesso, criação Mariana Duarte e Carol Oliveira, pelo Pro-cultua de Dança, Teatro e Circo
2012 – Atras da Cortina, criação e realização Núcleo Desastre, pelo ProAc de Circo de 2011
2011 – Mirna Conversa de Toalete, criação Mariana Duarte, pelo ProAc de Circo de 2010
2010 – Betty Boop, criação Mariana Duarte, Cena Coreográfica
2009 – Um Casal, criação Cia La Mala, mero de mão a mão

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2010 – Vila Tarsila, direção Miriam Druwe
2008 – Lúdico, direção Miriam Druwe

2005 – Os Pescadores de Pérolas, direção Naum Alves de Souza, Teatro Municipal de São Paulo

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Entrevista realizada na cidade de São Paulo, em 12.05.2023