Teatro desde criança
Desde pequena, meus pais sempre me levavam para ver peças no Tablado. Eu me lembro de O Embarque de Noé, Pluft, o Fantasminha, Os Cigarras e os Formigas. Tudo que o Tablado montava, minha mãe me levava para ver. Ela era educadora e trabalhava no Patronato da Gávea, então sabia de tudo que ocorria no Tablado. Também vi muita coisa do Ilo Krugli, que nesta época estava no Rio e também do Navegando, da Lúcia Coelho. Assim, esses três grupos, o da Maria Clara, o do Ilo e da Lúcia marcaram minha infância.
Minha iniciação foi com o Ilo Krugli, quando eu tinha sete anos, cursei o NAC – Núcleo de Artes Criativas, cuja escola era o Humaitá. Depois o Tablado.
Agora em casa eu sempre fiz teatro. Todo final de ano, tinha uma montagem teatral. Minha mãe escrevia e um grupo de primos, mais ou menos da mesma idade, atuava. Como a casa da minha avó era grande, todos os domingos a gente se encontrava lá. E na época da montagem a gente se encontrava com mais regularidade para ensaiar. Era uma produção bem caprichada. Tinha figurinos e cenário. Toda a família participava da produção.
Paralelo a isso, meus pais sempre me estimularam a tocar violão e a fazer balé. A gente frequentava concertos, teatros, balés. Esse gosto pela cultura, pelas artes era muito cultivado na minha família.
Fazendo teatro
Eu quis fazer teatro logo cedo. Depois do NAC, com doze anos eu me inscrevi num curso livre que o Ilo Krugli deu lá na escola que eu frequentava, o Jacobina e aos quatorze anos eu entrei no Tablado, onde fiquei até os dezessete. Lembro-me que no Tablado, a primeira montagem de fim de ano da qual participei foi Maldita Parentela. Logo depois comecei a entrar nas montagens de diretores do Tablado. Participei de Os Doze Trabalhos de Hércules, do Damião, entrando na segunda montagem, quando eles foram para o Teatro Vannucci. Depois comecei a trabalhar nas produções do Toninho Lopes, do Tablado também. Mas antes disso fiz Esta Noite Você pode ser Qualquer Coisa, texto e direção da Regina Lopes, já falecida, que também era do Tablado, na qual participavam o Alexandre Dacosta, Denise Mayer e outros. O espetáculo realmente não era bom, já na época eu não gostava da proposta que era a velha história dos bonecos ganharem vida. Mas foi muito importante, porque foi a primeira tentativa de trabalho em grupo. A gente cuidava de tudo, cartaz, bilheteria, alvará, figurinos, tudo. Nos apresentamos no Teatro da Divina Providencia e depois fomos para o Teatro da Galeria. Saiu até uma crítica que acabava com o espetáculo, mas salvava os atores. No fim, este espetáculo foi uma escola para todos nós. Não tinha uma concepção geral. Cada um fazia seu próprio figurino, se virava como podia, mas aprendemos a produzir na raça.
Depois disso, eu participei de uma montagem amadora na CAL, a Ópera do Malandro, em que entrei por acaso. Eu ia sempre assistir os ensaios e um dia uma atriz faltou e eu entrei para ajudar naquele dia, mas acabei participando da montagem.
Fiquei muito próxima do Toninho Lopes e comandados por ele, formamos um grupo chamado Ponto de Partida. Primeiro montamos O Embarque de Noé, com um elenco enorme. Conseguimos o alvará para inaugurar o Teatro da Fonte da Saudade, que logo depois fechou. Lembro que entre uma sessão e outra, a gente varria o teatro, tirava os papeis de bala entre as poltronas, limpava banheiros. Acho que isso foi uma escola. Trabalhar em grupo é muito importante e passar por essas experiências é um ponto fundamental. Dá outra relação com o teatro. A gente estava lá para participar de tudo.
Montamos depois o espetáculo A Bruxinha que era Boa, que eu considero realmente a primeira experiência profissional. Direção do Toninho, figurinos muito bons, da Silvia Sangirardi, que fez algo meio punk, cenário e luz de Claudio Neves. Vendemos várias apresentações para o Marina Barra Clube e com isso conseguimos pagar a produção. Estreamos no Teatro SENAC. Eu fazia a bruxinha Caolha que considero a melhor personagem. Acho que esse espetáculo foi o marco inicial na minha vida profissional. Só que como eu não tinha técnica vocal, perdi a voz e fui substituída pela Monica Nunes, até melhorar.
Sem coragem de se assumir
Comecei a fazer desenho industrial na PUC, por dois anos. Não tive coragem de assumir o teatro. Eu e a Thereza Falcão, que era muito minha amiga, entramos juntas na PUC, só que ela fazia História. Um dia, nos encontramos e começamos a desabafar uma para outra como estávamos de saco cheio daquela vida. E foi aí que resolvemos prestar vestibular para Artes Cênicas da UNIRIO. Passamos e entramos juntas. Eu fiquei dois anos na UNIRIO e fiz várias montagens dentro da universidade.
Foi também nesse período que começou um projeto no Teatro Gláucio Gill, chamado “Manhas de Cabaré”, onde o Pessoal do Cabaré e o Grupo Manhas e Manias fizeram a ocupação do teatro, num projeto que a secretaria de cultura cedia o teatro para grupos teatrais fazerem toda a programação. Eles abriram um curso gratuito e eu me inscrevi. Era um curso muito bem estruturado, com uma grade curricular completa. Era diário, e tinham aulas de interpretação, corpo, voz, direção, cenografia, e no final teria uma montagem. Fui fazer o curso e foi uma experiência maravilhosa, onde encontrei muita gente legal. Montamos A Mui Lamentavel Comedia e Mui Cruel Travessia do Mar Amarelo. Pegamos como base para o texto O Mambembe e enxertamos cenas de Hoje é Dia de Rock, de Sonhos de uma Noite de Verão, textos do Camus, Nelson Rodrigues. Eu ajudei a construir esse roteiro, junto com outros integrantes do curso, dentro da lógica do texto do Arthur Azevedo, e na encenação eu era uma espécie de mestre de cerimônias, de puck e abria o espetáculo com um texto do Artaud. A direção era da Gilda Guilhon e do Antonio Grassi. A Gilda era uma pessoa incrível. Eu lembro que um dia, quando ela me dirigia numa cena, me mostrou coisas essenciais de interpretação.
Dentro do grupo que fez o curso a Gilda selecionou nove pessoas e montou o Auto de Natal Céu Azul, onde eu recebi minha primeira indicação para Melhor Atriz do Prêmio Mambembe. Era um grupo de gnomos que iam atrás da estrela. Todos dobravam papéis e eu fazia também uma cigana, muito divertida, meio charlatã, que falava um espanhol meio equivocado.
Nessa mesma época, Cassia Foureaux estava fazendo Escola de Mulheres, direção do Domingos de Oliveira, com o Jorge Dória e quando fui ao camarim cumprimenta-la após o espetáculo, ela me falou que estava procurando um stand in e eu passei a substituí-la nas sessões das cinco da tarde. No final acabei entrando de vez e fiquei mais de um ano fazendo esse espetáculo no Copacabana Palace.
Nessa época eu também comecei a ensaiar Pele de Asno com o Toninho Lopes, só que a produção de Escola de Mulheres resolveu viajar em tournée e eu resolvi sair do Pele de Asno e fazer as viagens e pelo Brasil. Viemos para São Paulo e aqui eu fiquei. Durante a viagem me juntei com o José Ferro e passamos a morar juntos em São Paulo.
Com a mesma companhia do Jorge Dória montamos A Morte do Caixeiro Viajante no TBC com Cleide Yaconis no elenco. Nesta época conheci o Marco Ghilardi, de Campinas, diretor teatral, e ele nos convidou, eu e o José Ferro, para fazermos um infantil com texto dele, O Rinoceronte Careca, inspirado em Ionesco. Era um teatro de absurdo para crianças. Um texto muito interessante e a direção foi do Zé Ferro. Acabei entrando como atriz e também fiz os figurinos. Aliás, foi a primeira vez que eu assinei na ficha técnica como Figurinista. O espetáculo foi muito bem sucedido e ganhou vários prêmios. O Zé Ferro ganhou um prêmio de Melhor Diretor. No final este espetáculo acabou ficando em horário alternativo, pois era um espetáculo infanto-juvenil e os adultos adoravam.
O próximo espetáculo que participei como atriz foi Peter Pan, texto do Walcyr Carrasco, direção do Jacques Lagoa, músicas do Ney Carrasco, com um elenco delicioso. Estreamos no TBC, com produção de Magnolia do Lago. Ficamos um ano em cartaz.
Depois que o Zé Ferro ganhou o prêmio, começaram a chamá-lo para dirigir outros espetáculos. Aí ele fez o Rede de Cetim, texto de Inês Moura , que eu fiz só como assistente de direção e depois veio Os Três Mosqueteiros, texto do Ney Carrasco, onde além da assistência de direção, fiz os adereços, máscaras e bijuterias, e interpretei a Milady de Winter. Era uma montagem grandiosa, mas não ficamos muito tempo em cartaz, pois os produtores não conseguiram sustentar a empreitada.
Depois dos Mosqueteiros, eu e o Zé nos separamos. Fui então convidada para fazer A Vaca Lelé, com direção da Neusa Maria Faro, que foi um espetáculo muito premiado, acho que um dos mais premiados da temporada. Eu não estreei, me convidaram para substituir a Maria Duda quando eles saíram para fazer uma turnê pelo interior de São Paulo. Nessa turnê, eu conheci o Ivan Oliveira que tinha substituído o Ricardo Pettine para as viagens, e ficamos muito amigos.
Nesse meio tempo, minha grande amiga Thereza Falcão me mandou um texto dela Projeto Secreto Japão e eu amei o texto e quis muito produzir esse espetáculo. Era a minha primeira tentativa de correr atrás de uma produção, depois das experiências iniciais no Rio. Fui atrás do pessoal do Teatro do Bixiga, Marco Ricca, Roberto Lima, Ricarto Pettine e perguntei se eles não queriam produzir. Na verdade eu fui uma coprodutora e fiz como atriz, no risco. Assinei o figurino e ajudei em algumas coisas da montagem. O Ricca dirigiu e o Pettine quis fazer como ator. Ele com dois metros e eu com um e cinquenta. Ficamos uma dupla engraçada. Pedi a autorização para Thereza para mudar o nome, que ficou sendo Brincando na Chuva. Estreamos em 1991 e com esse espetáculo ganhei o meu primeiro APCA de Melhor Atriz. Fizemos uma boa temporada no Teatro do Bixiga, depois fomos para o Centro Cultural São Paulo e fizemos algumas viagens.
Formando um Grupo Musical
Eu e o Ivan Oliveira, que tinha conhecido em A Vaca Lelé, começamos a fazer alguns eventos. Isso foi em 1991. Nós tocávamos violão, chamamos a Elza Gonçalves que cantava muito bem e resolvemos montar um grupo de teatro musical, “Cenas in Canto”, que acabou durando doze anos. Esse grupo teve várias formações, mas fixos, eu, Ivan e Elza. O quarto elemento do grupo sempre mudou. O Ulisses Castro e a Ana Vieira foram os mais constantes. Montamos dez espetáculos. Dois infantis, montamos Nessa Rua tem Ciranda, que na verdade era mais um show musical, do que um espetáculo teatral com o qual nunca entramos em cartaz. Eram sempre espetáculos vendidos. Aliás, essa era uma das características desse grupo. A gente nunca entrava em cartaz. Vendia muito para os SESCs, projetos governamentais, clubes, empresas. Éramos uma companhia muito estruturada. Tínhamos uma sede, acervo, aulas de corpo, de voz. Não éramos conhecidos, porque não entrávamos em cartaz, eu sentia uma falta monumental disso. Acredito que uma temporada marca, amadurece o espetáculo. Com as vendas, às vezes entre uma apresentação e outra, demorava muito e acabava por esfriar o espetáculo, por mais que ensaiássemos. A temporada ela dá um lastro e o espetáculo ganha uma qualidade artística, que não se consegue com vendas esparsas.
Entrando em cartaz
Nós conversamos sobre isso e o primeiro espetáculo com o qual entramos em cartaz foi em 1997 um adulto, chamado Na Roça – Um Musical Caipira, de Belmiro Braga, dirigido pelo Iacov Hillel, que foi muito bem com temporadas na FAAP e no Teatro Artur Azevedo. Logo em seguida resolvemos fazer um espetáculo infantil chamado A Ilha de Ouro, que foi um longo processo de montagem. Uma criação coletiva que levou dois anos, isso porque chamamos mais três pessoas para se integrarem nessa montagem. Conclusão: alguns que entraram não tinham o mesmo olhar, a trajetória, cumplicidade do grupo. E durante o processo, alguns saíram outros entraram. No final demos o material para a Simone Boer, que foi a única dos convidados que ficou desde o começo, para construir uma dramaturgia, dar um formato final ao roteiro, que tinha sido criado pelo grupo. E ela acabou ganhando o Premio São Paulo de Dramaturgia, o que nos ajudou na produção. Depois foi indicado ao Prêmio FEMSA de Melhor Texto. Nós ganhamos também um prêmio estímulo do Governo para a montagem do espetáculo.
Estreamos em 2001na FAAP, A Ilha de Ouro tinha músicas lindas do Gustavo Kurlat, que acabou assumindo a direção geral, pois o diretor inicial também saiu durante o processo. Todo o percurso foi muito longo e desgastante demais e acabamos não conseguindo dar prosseguimento com o grupo.
Um novo movimento na vida profissional
Enfim, quando me vi sozinha, começa essa última fase da minha vida. Eu tenho a sensação que até 2002, quando terminou o grupo, eu estava numa fase de experiências, como se estivesse me preparando para o que veio a seguir. Eu tinha paralelamente ao Cenas In Canto um Atelier de figurinos chamado Roupa de Cena com Clarita Sampaio. Fizemos óperas e espetáculos incríveis. As neste ano também o trabalho com atelier deu uma acalmada.
Foi aí que eu lembrei que em 1996, tinha visto uma contadora de histórias, a Leila Garcia, e pensei nessa área como possibilidade de trabalho. Minha mãe sempre me contava histórias, mas eu nunca tinha visto isso como uma possibilidade de expressão artística. Então, quando fiquei sozinha, pensei que era o momento de experimentar essa linguagem. Como não gosto de fazer as coisas sem ter uma base, comecei a fazer todo tipo de curso sobre o assunto. Comprei muitos livros e comecei a ler muito. Fiz um curso ótimo que tinha uma montagem no final e depois aproveitei essa história para me apresentar em alguns lugares. Até que achei que começava a me sentir preparada para me arriscar e fazer um espetáculo. Eu ainda não era uma contadora de histórias. Era uma atriz se apropriando da arte narrativa para um espetáculo de teatro. É diferente de hoje, quando faço um espetáculo de teatro narrativo como atriz, mas também sou uma contadora de histórias de sentar no banquinho e contar para 20 pessoas. São duas coisas diferentes, Pois uma narração de história só vira teatro, quando ela se apropria de todos os recursos teatrais, com toda sua multiplicidade, colocando cenário, figurinos, adereços, luz… Assim, num palco, quando se apagam as luzes e o espetáculo começa, isso é teatro. O pavio da pólvora só é apagado quando acaba o espetáculo e acontecem os aplausos. Na contação, às vezes, o pavio é interrompido. Você fala com uma criança, toma uma água, pergunta ou responde o que a criança quer saber. É mais informal. No teatro não, o gesto é sempre o mesmo, tem um texto formal. O narrador não tem necessariamente um texto fixo.
Quando a narrativa vira texto teatral
Eu fiz esse processo. O Fábulas de Esopo já começou como texto teatral, pois é um texto rimado e é absolutamente formal. E o espetáculo é inteiramente coreografado, porque eu tenho um carrinho de feira, de onde saem todos os adereços e tudo deve estar milimetricamente arrumado, para a cena funcionar. Eu estreei sem música, mas hoje eu tenho em cena, um músico que dialoga comigo. O espetáculo é uma partitura, de texto, sons e movimento. Ele tem a mesma estrutura desde quando eu estreei em 2003, só que hoje, com uma maturidade.
Mas com o Lendas da Natureza, de 2006, o processo foi diferente, a narrativa virou texto teatral. Aquelas primeiras histórias que eu montei no curso que fiz de contação de história me interessavam muito. O Fábulas acabou vindo antes por um acaso. Mas eu estava pensando mesmo era começar pelos mitos indígenas. Nessa época, minha mãe escreveu um livro “Acender o Fogo – O Jogo e o Teatro na Escola”. Ela apresenta a teoria da construção do pensamento do Piaget, com jogos feitos de lixo reaproveitável. E ela me pediu para escrever o capítulo sobre Jogos Teatrais. Eu reuni alguns mitos indígenas bem simples para crianças menores e criei umas fantasias de lixo reaproveitável. Fizemos uma exposição no Jardim Botânico. Para a apresentação que faria lá resolvi juntar o Begorotire, o Homem Chuva, história contada com chocalhos feitos com canudinhos e garrafa pet, com outra história que também falasse dessa relação do homem com a natureza. Fui procurar e achei A Árvore de Tamoromu. Juntei as histórias, criei um entreato, uma abertura e um final e esse trabalho virou uma narração. Aí, eu senti que isso dava samba,que as crianças gostavam das duas histórias que eram muito incríveis. Foi aí que eu resolvi que o Lendas da Natureza iria virar espetáculo. Chamei a Simoni Boer, com a qual eu já tinha feito A Ilha de Ouro. Além de muito amiga, é dramaturga, dirige regularmente espetáculos há anos e leciona na Anhembi Morumbi e no Celia Helena.
Começamos a trabalhar para transformar o texto que eu tinha em dramaturgia. Colocamos uma construção mais poética sem perder a narração popular que é mais coloquial. A performance que acontecia sentada, ganhou o palco inteiro. Mas faltava um entreato. Procuramos em várias histórias, mas ao final a Simoni o escreveu, numa apresentação de duas personagens que entravam na segunda história que eram a Boiuna e o Curupira. Enfim transformamos num espetáculo teatral com uma trilha sonora primorosa, criada e produzida por Sérvulo Augusto. Estreamos no TBC, que por sinal, estava caindo aos pedaços. Acho que foi um dos últimos espetáculos, antes de fechar. Como na produção anterior – Fábulas – eu produzi com dinheiro meu, mas desta vez investi mais, principalmente na parte gráfica e em divulgação. E foi um fracasso de público… Mas foi sucesso de crítica. Ganhei um monte de prêmios, acho que foi o meu espetáculo mais premiado. Ganhei o FEMSA e o APCA de Melhor Atriz, foi indicado como Melhor Texto e Melhor Espetáculo. No 10º Festival de Americana, ganhei Melhor Atriz, Melhor Espetáculo, Melhor Texto, Melhor Direção e acabei fazendo um boa temporada no Teatro Alfa.
Repercussão
Com o Fábulas de Esopo, eu consegui me lançar. Tanto que o Dib Carneiro Neto me colocou na capa do Guia do Estadão, que ainda era um tabloide, com uma foto de página inteira com o título de ”O Melhor do Teatro Infantil”. Fiquei feliz e orgulhosa. Com o Lendas e os prêmios conquistados, consegui uma projeção no meio teatral e comecei a ser reconhecida com alguma importância entre os contadores de história e as pessoas que fazem teatro para infância.
Rodei com estes dois espetáculos durante muito tempo. Em 2005 fui convidada pelo Centro de Cultura Judaica para fazer a curadoria das apresentações de Narração de Histórias e trabalhei lá por dez anos. Também comecei a ser requisitada para dar palestras e cursos sobre essa atividade. Passei a compartilhar uma experiência, que para mim ainda era nova. Acho que a gente só pode se considerar sabedora, depois de dez anos de trabalho, assim hoje posso me considerar mais sabedora, mas naquele momento acho que compartilhava experiências. Mas isso me obrigava a estar sempre refletindo sobre oque estava fazendo e fui amadurecendo minha forma de ver a narração de histórias.
Em 2008 eu resolvi montar meu terceiro espetáculo, fechando uma trilogia. O primeiro espetáculo foi sobre fábulas, o segundo foi sobre mitos dos indíos brasileiros e faltava então o conto de fadas. Chamei novamente a Simoni, conversamos sobre os contos que me interessavam, mas ela quis fazer um texto inédito. Concordei desde que ela colocasse alguns elementos simbólicos importantes, uma princesa, uma espada como símbolo de poder, gostaria que tivesse um rompimento com a mãe ou com a madrasta, uma bruxa, e uma luta com o mal, o lado sombrio e não queria que a princesa tivesse um príncipe no final. Não queria que o casamento fosse o final.
E dessa vez, consegui montar o espetáculo com a ajuda do Edital PROAC do Governo do Estado de São Paulo.
Paulo Rogerio Lopes fez uma direção primorosa. Simone escreveu um conto lindo. No inicio tinha uma bruxa que vinha de fora, como em Bela Adormecida, onde a bruxa chega sem ser convidada. Pensamos que o conflito deveria vir de dentro do castelo, e aí fizemos algo muito arriscado, que foi a mãe ser a bruxa. O pai aguardava o nascimento de um menino para passar a espada do poder, que era passada de pai para filho. Mas nasce uma princesa e pai fica desesperado e rejeita a situação. A mãe fica possuída, com esta rejeição e com a espada ela tenta matar a filha. A avó salva a criança, mas a mãe foge para a floresta levando a espada encantada. A princesa é trancada na torre para ficar a salvo da mãe/bruxa, mas quando ela faz quinze anos, aparece o espírito da avó e diz que é o momento de recuperar a espada. Então ela sai, enfrenta os desafios e encontra a mãe bruxa na floresta. Apenas no momento em que a bruxa se transforma em árvore é que a princesa pode subir nela e pegar a espada. Mas a árvore começa a virar bruxa novamente enquanto a princesa ainda está sobre ela. Contudo a mocinha consegue enfiar a espada no tronco da árvore, esta se transforma numa árvore frondosa e bela. Dela sai o espírito da mãe e elas se reconciliam. A princesa volta para o castelo com a espada, o pai a coroa como rainha, mas ela devolve a coroa e diz que agora que viu o que existe quer conhecer o mundo e parte.
O espetáculo foi bem sucedido. As crianças adoravam e as mães choravam, se viam na pele da princesa. Ganhei novamente o Prêmio APCA, fui indicada para o Prêmio FEMSA, Prêmio da Cooperativa. E aí eu fechei a Trilogia Faz e Conta e de 2008 a 2011 fiquei viajando e fazendo esses espetáculos.
Fiz então o projeto “Trilogia Faz e Conta” para o PROAC e Lei Rouanet que consistia numa mostra de repertório com os três espetáculos e uma série de palestras. Consegui patrocínio pelos dois meios e fiz uma temporada do repertório no Tuca em São Paulo, seguida de uma série de palestras sobre “A Arte de Contar Histórias” com o PROAC e depois fiz uma turnê de dez cidades pelo interior de São Paulo e as palestras pela Lei Rouanet.
Em 2012, através do PROAC novamente, gravei um CD com todas as canções que compuseram para mim para as narrações de histórias que tenho feito. Montei um show teatral musical para lança-lo. As canções são alinhavadas por uma história. Mais uma parceria com Paulo Rogerio Lopes que, além de dirigir, escreveu o roteiro comigo. Fizemos várias apresentações, mas não uma temporada. Ainda pretendo fazer. Mas o show está no repertório, continuamos apresentando-o por aí.
Em 2014, já estava na hora de montar um novo espetáculo e resolvi escolher uma história do coração. As Três Penas do Rabo do Grifo era uma história que minha mãe me contava quando eu era pequena. Minha bisavó contava para ela e ela contou pra mim. Escolhi este conto de Grimm e resolvi coloca-lo dentro dessa moldura ancestral, dizendo de onde ele vinha, como ele chegou em mim. Antes de entrar na história, faço esse resgate. Entrei no edital do PROAC, ganhei e montei. Estreamos no Teatro Sérgio Cardoso, no ano passado. Ganhei o APCA de Melhor Espetáculo de Contação de História, Premio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem de Melhor Atriz, fomos indicados para Melhor Texto Adaptado e para Categoria Especial de Sonoplastia e percussão para Betinho Sodré.
Estou fazendo uma turnê e amo fazer este espetáculo porque é uma história que veio do coração, que está nas entranhas, e recorrentemente eu me emociono no final, É muito bom.
Sem barreira de idades
Teatro é teatro. Seja para criança ou adulto o capricho e a profundidade são os mesmos. O que distingue o direcionamento é a temática. O tema deve ser atraente para as crianças e devemos entender como cada faixa etária processa as experiências, assim podemos favorecer esta compreensão e apreensão da reflexão proposta pela história. Devemos buscar ser inteligentes e também interessar aos pais. Os espetáculos infanto-juvenis, com temas mais difíceis e histórias mais complexas creio que atendam um público a partir dos nove anos. Mas sabemos que nada disso é muito cartesiano. No caso do Grifo, as crianças acima desta idade adoram e aproveitam muito e os professores também.
Com relação ao teatro jovem não há muita diferença em relação ao teatro adulto. Acho que, de novo, é muito mais uma questão de temática do que forma. O jovem já é praticamente um adulto, tem uma capacidade cognitiva para compreender qualquer espetáculo. O que varia é uma questão de temática, do seu interesse ou não.
Não vou parar de fazer teatro infantil nunca, mas agora me deu vontade de fazer um adulto. Fazer teatro infantil não é um degrau para se chegar ao adulto.
Projetos Futuros
Estou pensando em fazer meu primeiro espetáculo adulto narrativo. Eu faço muitas leituras de contos literários num projeto chamado “Leitura Viva”. São leituras ensaiadas de contos clássicos, num esquema meio de sarau antigo.
A partir de um desses contos comecei a fazer a adaptação com o bom e velho parceiro Paulo Rogério Lopes de A Cartomante, do Machado de Assis. Já descobrimos quem é a personagem que vai contar essa história e estamos trabalhando nisso.
Estou também querendo colocar o show Canções do Faz e Conta em cartaz, dando um tratamento teatral e estou querendo fazer um CD, agora com as canções dos espetáculos. Se a gente não registra, as coisas acabam se perdendo. Enfim, três projetos que ainda vão me dar muito trabalho.
E agora sou autora também com quatro livros publicados (“A Árvore de Tamoromu”, Teia de Experiências – Reflexões sobre a Formação do contador de Histórias”, “Pedalando, Pedalendo, Pedalindo” e “Quanta História Numa História! – relatos das experiências de uma contadora de histórias”) e quero me dedicar a escrever mais também.
Teatro infantil em São Paulo
Eu vejo com muito otimismo os novos trabalhos e os novos artistas que estão surgindo em São Paulo, a qualidade dos espetáculos, mas não em relação à formação de plateias. Não é fácil levar o público ao teatro. Os grupos vivem de espetáculos vendidos e não de bilheteria. Isso não existe mais.
2014 – As Três Penas do Rabo do Grifo, Cia Faz e Conta direção Paulo Rogério Lopes
2013 – Trilogia, apresentação de Fábulas de Esopo, Lendas da Natureza e O Conto do Reino Distante, Tucarena
2012 – Canções do Faz e Conta, Cia Faz e Conta, direção cênica Paulo Rogerio Lopes, direção musical Natan Marques
2008 – O Conto do Reino Distante, de Simone Boer, Cia Faz e Conta direção Paulo Rogério Lopes
2006 – Lendas da Natureza, Cia Faz e Conta, texto final e direção Simone Boer
2003 – Fábulas de Esopo, Cia Faz e Conta, texto Paulo Garfunkel, direção Gustavo Trestini
2001 – A Ilha de Ouro – Uma Aventura Musical no Mar, do Grupo Cenas In Canto – texto Simoni Boer
2000 – Na Roça – Um Musical Caipira, direção Iacov Hillel
1991 – Brincando na Chuva, de Thereza Falcão, direção Marco Ricca
1989 – A Vaca Lelé, de Ronaldo Ciambroni, direção Neuza Maria Faro
1988 – Os Três Mosqueteiros, Texto Ney Carrasco a partir da obra de Alexandre Dumas, direção José Ferro
1988 – As Meninas, de Lygia Fagundes Telles, adaptação Adélia Maria Nicollete, direção Paulo Moraes
1987 – Peter Pan – O Menino que não queria Crescer, de Walcyr Carrasco, direção Jacques Lagoa
1986 – O Rinoceronte Careca, de Marco Ghillardi, direção José Ferro
1984 – Céu Azul, Auto de Natal, Grupo Primor de Maravilha, direção Gilda Guilhon
1984 – A Mui Lamentável Comédia e Mui Cruel Travessia do Mar Amarelo, textos de Artaud, Artur Azevedo, José Vicente, Camus, Shakespeare, Nelson Rodrigues, direção Antonio Grassi e Gilda Guilhon
1984 – Escola de Mulheres, de Molière, adaptação e direção de Domingos de Oliveira
1983 – Os Doze Trabalhos de Hércules, de Monteiro Lobato, direção e adaptação Carlos Wilson da Silveira
1983 – A Bruxinha que era Boa, de Maria Clara Machado, direção Toninho Lopes
1982 – O Embarque de Noé, de Maria Clara Machado, direção Toninho Lopes
1980 – Esta Noite Você pode Ser Qualquer Coisa, texto e direção de Regina Lopes, Grupo Cochichando na Coxia
2002 – As Beldades de 2001, texto de Maurício Guilherme, direção Noemi Marinho
2002 – Pedro Mico, de Antonio Callado, direção Débora Dubois
1998 – Canções de Lorca, direção de Mirtes Mesquita
1997 – Na Roça, Um Musical Caipira, com Grupo Cenas In Canto de Belmiro Braga direção Iacov Hillel
1991 – Adiós Geralda, de Mah Luly, direção Odavlas Petti
1990 – O Morcego, opereta de Johann Strauss Jr., direção Iacov Hillel e Jamil Maluf
1987 – Viúva Porém Honesta, de Nelson Rodrigues, Grupo TAPA, direção Eduardo Tolentino
1986 – A Morte do Caixeiro Viajante, de Artur Miller, adaptação e direção Domingos de Oliveira
2008 – O Conto do Reino Distante, de Simone Boer, direção Paulo Rogério Lopes
2006 – Lendas da Natureza, texto final e direção de Simone Bôer
2003 – Fábulas de Esopo, Grupo Faz e Conta, de Paulo Garfunkel, direção Gustavo Trestini
1999 – A Moda Brasileira, recitais cênicos
1998 – Canções de Lorca, direção de Mirtes Mesquita
1996 – O Realejo, recital lírico
1993 – Trecos e Truques, direção Wilma de Souza
1989 – Sob as Ordens de Mamãe, de Oswald de Andradre, direção Roberto Lima
1989 – Ufa que Perigo!, direção Marcos Riba
1989 – Auto da Barca do Inferno, do Grupo Dragão 7
1988 – Rei Mateuzinho I, direção Roberto Lage
1988 – Os Três Mosqueteiros, de A. Dumas, adaptação Ney Carrasco, direção José Ferro
1987 – Aladim e a Lâmpada Mágica, de Ney Carrasco, direção José Ferro
1987 – Peter Pan, de Walcyr Carrasco, direção Jacques Lagoa
1986 – Os Três Porquinhos, de Marco Ghilardi
1986 – O Rinoceronte Careca, de Marco Ghillardi, direção José Ferro
1984 – Auto de Natal Céu Azul, Grupo Primor de Maravilha, direção Gilda Guilhon
2012 – Dom Quixote, o Cavaleiro Sonhador, de Kelly Orasi, Grupo Trecos e Cacarecos
2009 – As Aventuras de Pepino, direção Ednaldo Freire
2008 – O Conto de Reino Distante, de Simone Boer, direção Paulo Rogério Lopes
2007 – A Balada de um Palhaço, e Plínio Marcos, direção Gustavo Trestini
2006 – Lendas da Natureza, texto final e direção de Simone Bôer
2003 – Fábulas de Esopo, Grupo Faz e Conta, texto de Paulo Garfunkel, direção Gustavo Trestini
2003 – Nossa Vida é uma Bola, diversos textos, direção Imara Reis
2002 – Histórias que à História não Contam, texto e direção J. Moreira, Grupo Engenho Teatral
2001 – A Ilha de Ouro – Uma Aventura Musical no Mar, Grupo Cenas In Canto
2000 – Livro Vivo, visita dramatizada no Teatro Amazonas de Manaus
2000 – O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna, direção Gustavo Trestini
1999 – A Moda Brasileira, recitais cênicos
1998 – Canções de Lorca, direção de Mirtes Mesquita
1996 – O Realejo, recital lírico, também direção
1995 – Personas, recital lírico
1994 – A Carta, recital lírico, também direção
1992 – Brincando na Chuva, recital lírico
1991 – Melodies Françaises, recital lírico, também direção
1990 – Segundo Artur, adaptação e direção José Ferrero
2015 – Quanta História Numa História! – Relato das Experiências de uma Contadora de Histórias – ganhador do PROAC do Governo do Estado de São Paulo para sua publicação – Editora é Realizações
2015 – Pedalando, Pedalendo, Pedalindo – ilustrado por Ivo Minkovicius – Editora Rolimã
2013 – A Árvore de Tamoromu, reconto a partir de mito dos índios wapixana ilustrado por Fernando Vilela e Editado pela Formato. Prêmio FNLIJ de Melhor Reconto e um dos quatro livros brasileiros escolhidos em 2014 para fazer parte do acervo da maior biblioteca de livros infantis do mundo na Alemanha.
2013 – Teia de Experiências – Reflexões sobre a Formação do Contador de Histórias – organizado por Ana Luisa Lacombe com artigos de vários contadores de histórias e pensadores do tema. Editado pelo Sistema Municipal de Bibliotecas da Cidade São Paulo
2002 – Acender um Fogo – O Jogo e o Teatro na Escola, elaborado junto com Anna Maria Lacombe e editado pela Edições Pró-Saber.
Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem
2014 – Melhor Atriz (As Três Penas do Rabo do Grifo)
2014 – Indicação A Melhor Texto Adaptado (As Três Penas do Rabo do Grifo)
APCA
2014 – Melhor Espetáculo de Contação de Histórias (As Três Penas do Rabo do Grifo)
2008 – Melhor Atriz (O Conto do Reino Distante)
2006 – Melhor Atriz (Lendas da Natureza)
2003 – Melhor Atriz (Fábulas de Esopo)
1991 – Melhor Atriz (Brincando na Chuva)
Prêmio Coca-Cola FEMSA de Teatro Infantil
2006 – Melhor Atriz (Lendas da Natureza)
2006 – Indicação para Melhor Espetáculo (Lendas da Natureza)
2003 – Indicação para Melhor Espetáculo (Fábulas de Esopo)
2003 – Indicação para Melhor Texto (Fábulas de Esopo)
2003 – Indicação para Melhor Atriz (Fábulas de Esopo)
FIT – Festival Internacional de Teatro de São José dos Campos
2000 – Melhor Atriz Coadjuvante (Na Roça – Um Musical Caipira)
APETESP
1987 – Indicação Melhor Atriz (Peter Pan)
MAMBEMBE
1984 – Indicação a Melhor Atriz (Auto de Natal Céu Azul)
Participou ainda em inúmeros trabalhos como Assistente de Direção, Produtora Executiva, além da Produção e Confecção de figurinos para diversos diretores. Ministrou cursos e oficinas, principalmente na arte de contar histórias. Participou de filmes publicitários e programas de rádio.
Depoimento dado à Antonio Carlos Bernardes, em São Paulo, em 2015. Fotos e material gráfico: acervo Ana Luísa Lacombe e CEDOC/FUNARTE