O elenco de A Volta de Chico Mau brinca com uma paródia das histórias de cowboys.
Foto Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 24.07.1993

 

 

Barra

Mocinhos e quadrinhos

Para os que chegam ao Teatro Barra Shopping apenas com a intenção de dar às crianças uma hora de descanso das compras de final de semana, pode ser uma grata surpresa o que está acontecendo no palco do teatro instalado nesse templo de consumo.

A Volta de Chico Mau, com texto e direção de Lupe Gigilotti, é um bem montado musical com deliciosas interferências dos clichês de filmes de cowboy, e com a linguagem das histórias em quadrinhos, onde canto, dança e representação são interligados sem os habituais deslizes das cenas estanques.

A história bem-humorada conta a saga dos moradores das cidades de White Rock (onde tudo é proibido) e Black Rock (onde tudo é permitido). Separados apenas pelo “muro da vergonha”, seus habitantes gostariam de unir as qualidades de uma e outra para fundar Grey Rock. Nesse enredo, tem mocinho, bandido, ingênua, xerife, garotas de saloon e até índio vendendo beberagem milagrosa. Para juntar tudo isso a direção de Lupe, e mais o já famoso toque de Cininha de Paula na supervisão geral, criam um espetáculo cheio de ritmo com intervenções perigosas e divertida trilha sonora de Sara Benchimol e Fafy Siqueira. Com músicas compostas especialmente para a encenação, acrescida de vinhetas já conhecidas, a dupla busca com temas como a marchinha carnavalesca Índio quer apito sublinhar as ações do cacique.

Num elenco onde todos desempenham seus papéis com precisão, Marcello Caridad faz um Chico Mau com todas as características do bandido cinematográfico, sem perder a teatralidade do personagem. Levy Cerkes e Marcos Noronha, o mocinho e o índio amigo, dão a seus tipos irresistíveis toques de humor, enquanto Andréa Fucs e Karla Suita comportam-se exatamente como pedem seus papéis de ingênua e mãe da ingênua. Rodolfo Monteiro faz do seu Xerifeio, um detetive óbvio criando um atraente personagem. Funcionando como contraponto, as mocinhas do saloon, Cristina Klein e Patrícia D’Ávila, são interessantes figuras em cena.

O cenário de Odilon Lima é inspirado na famosa montanha do selo da Paramount, a coreografia tem assinatura de Rosane Maia e os figurinos são de Vera Joppert. A Volta de Chico Mau é um espetáculo de surpreendente qualidade cênica, cheio de humor, música e dança, que diverte, sem dúvida, agrada a plateia.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)