Raio de Sol, opereta infanto-juvenil

Crítica publicada no jornal O Estado de São Paulo
Por Tatiana Belinky – São Paulo – 28.06.1986

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Aventuras fascinantes de um quarteto de sopros

Vamos Atrás do Raio de Sol, em cartaz no Centro Cultural São Paulo, é um musical infanto-juvenil no qual o personagem principal é de fato a música. Digo de fato porque se convencionou chamar “musical” qualquer montagem que tenha uma ou duas musiquinhas, às vezes até fora de propósito, e… Mas isso já é uma outra história. O importante é que Vamos Atrás do Raio de Sol é um espetáculo tão musical que tenho até vontade de chama-lo de opereta, o que é um elogio.

Marcos Arthur, autor também do texto compôs para ele nada menos que nove músicas e letras – incluídas no quase “libreto” que é o bonito programa (gratuito) do espetáculo. E ele mesmo fez a direção musical, o que explica não só a sonoplastia perfeita como o som e o volume da música, a gravação na regulagem certa, respeitando as vozes dos atores (e cantores) e os ouvidos do público. O que infelizmente não se pode dizer de muitos outros “musicais infantis”…

O enredo conta as aventuras de um quarteto de sopros – Fagote, Clarineta, Oboé e Flauta -, cujas partituras estão sendo surrupiadas por um violão (o terrível Plagionildo Mataborrão). E há diversos outros personagens, não menos fascinantes: um  monstrinho tricéfalo, cujas cabeças atabalhoadas representam três “grilos” do músico, e se chamam Afinonão, Estudonão e Ritmonão. E a Semínima, que leva a turma ao país do mundo musical, chamado Clave de Sol. E a trama se desenvolve com muitas peripécias, todas musicalíssimas, umas boas para a torcida, outras para uma risada, até a recuperação das partituras roubadas, o final feliz exigido por todas “história maravilhosa”, que se preze.

Só que neste “conto de fadas” os heróis e heroínas, as fadas, os gnomos, o bruxo têm nomes como Semínima, Oboé, Afinonão, Melodia e Plagionildo Mataborrão. E com a “mensagem” embutida na história que, nas palavras de Antônio do Valle, responsável pela segura, bem-humorada e inventiva direção geral do bonito espetáculo, “é um convite duplo: atrás da música, da luz… a necessidade de lutar contra a injustiça, o arbítrio…” Essas coisas ficam bastante claras para o público, mesmo que muitas – talvez a maioria – das crianças pouco ou nada entendam de música e nomenclatura musical, mas certamente prenderão algo indo “atrás desse raio de sol”.

A peça é uma remontagem do ótimo Grupo Zambelê, já apresentada em outro teatro, tendo por sinal recebido diversas indicações e um prêmio de fato, pela bonita e criativa cenografia deste espetáculo de bom gosto e qualidade, inclusive o desempenho homogêneo dos atores – com destaque para Luiz Ferrari, um Plagionildo perfeito, vilão cômico dos melhores.

Tatiana Belinky é colaboradora do Caderno 2