A peça, criada por Ronaldo Ciambroni, é um musical rural

Crítica publicada em O Globo – Rio Show
Por Luciana Sandroni – Rio de Janeiro – 01.11.1991

 

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A Vaca Lelé une poesia e humor para falar sobre liberdade

A Vaca Lelé, de Ronaldo Ciambroni é um musical rural da mais alta qualidade. A peça conta a história de Matilde, uma vaca ingênua que está só esperando as asas crescerem para poder voar e conhecer o mundo, daí o apelido “Lelé” (da cuca). Matilde fica conhecendo vários amigos: o espantalho, o pardal, a galinha, a cigarra e outros bichos  que, com suas histórias de vida, aumentam seu desejo de voar e conhecer novos lugares.

Ciambroni trabalha com linguagem poética e simples, desenvolvendo o tema da liberdade.  Sem pieguices ou didatismo, seu texto flui naturalmente, passando muita emoção. A direção de Neuza Maria Faro também capricha na simplicidade, equilibrando bem os momentos de humor e os mais poéticos. A linguagem caipira adotada por todos os atores tem tudo a ver como texto e não dificulta o entendimento.

A única cena em que o bicho homem aparece é de extrema violência, realçando a ideia da pureza dos animais e da brutalidade humana de maneira gratuita. O figurino de Charles Lopes é original e apropriado, destacando-se pelas cores, que chamam a atenção. Um dos pontos altos da peça são as músicas, com ótimas letras e bonitas melodias. A da galinha que veio de Maceió é muito engraçada e ainda tem uma coreografia divertidíssima.

O elenco é de se tirar o chapéu: Odila Athayde faz uma vaquinha meiga e pura com naturalidade. Elisio José dá um show como Pardal, Galinha e Touro. Rakel Libório está bem como Mosca, Cigarra e Vagalume. Luciano Maia faz um singelo espantalho e Eliane Vieira é uma simpática presença como violeira. A Vaca Lelé é um espetáculo simples e de rara beleza, que emociona crianças e adultos.