Fotos: Carol Gonzales

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 29.11.2013

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Espetáculo Uma Aventura no Brasil conta a fábula do Gato de Botas

Na divertida versão da fábula de Perrault, o bichano ganha ares de brasilidade e apronta estripulias à moda do personagem de Suassuna

No simpático espaço do Teatro Viradalata, no bairro de Perdizes, em São Paulo, o astro atualmente não é, como o nome sugere, um cachorro vira-latas. O rei do pedaço, até 8 de dezembro, quando termina a temporada, é justamente um inimigo dos cães, o gato – e de botas, protagonista da peça de Caru Ramos e Flávia Maria que tem o seguinte subtítulo: Uma Aventura no Brasil.

O espetáculo, da Cia. Mariquita e dirigido por Fezu Duarte (Os Saltimbancos), é uma delícia. Bastante divertido. Foi acertada a ideia de trazer a clássica fábula para o universo da cultura brasileira. O texto adaptado é bastante competente, movimentado, com diálogos bem preparados. Uma boa surpresa. A direção sabiamente acompanha o ritmo do texto, impregnando o palco de uma agilidade proveniente da linguagem de quadrinhos e animações.

Não é exagero comparar a brasilidade safa desta concepção do gato de botas (interpretado com graça por Diego Rodda) com as estripulias de um dos personagens mais ricos e hilariantes da cultura brasileira, o João Grilo, brotado da imaginação fervilhante de Ariano Suassuna em O Auto da Compadecida. O gato é dessa estirpe de seres criativos até as últimas consequências. Se vira como pode – o tempo todo. Mas a montagem também guarda certos detalhes que não afastam o felino de suas origens, a fábula de Charles Perrault.

A trilha sonora é ótima, o que não é de se admirar, já que a diretora vem de uma carreira de muitos musicais para crianças e jovens. Aqui, mesclam-se Dalva de Oliveira e Ari Barroso com Gonzaguinha e Seu Jorge, entre tantos outros. Engraçada é a versão de ‘Atirei o Pau no Gato’, que ganhou uma paródia como se fosse ‘Another Brick In The Wall’, do Pink Floyd.

O cenário também merece menção. É mais um primor de Kleber Montanheiro, que também se inspira no Brasil popular para desfilar esculturas de metal feitas com pedaços de bicicletas velhas e atravessar o palco com fios de poste elétrico em que se encontram muitas coisas penduradas: sutiã, calcinha, tênis, pipas, bolas furadas. Genuinamente nacional.

Serviço

Teatro Viradalata
Rua Apinajés, 1387 – Sumaré – São Paulo
Tel.: (11) 3868-2535
Sábado e domingo, 17h30
Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia)
Temporada até 08/dezembro