José Mauro Brants, Soraya Ravenle
e o menino Bruno Miguel, que vive o papel-título, fazem parte do elenco afinado de Tuhu um espetáculo que tem a marca de delicadeza.
Foto Fernando Rabelo


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 07.06.1997

 

 

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Lirismo e humor em biografia musical 

Tuhu, O Menino Villa-Lobos é um projeto pioneiro da diretoria Karen Acioly e da produtora Evely Ficher para a ocupação do teatro Lamartine Babo, no Centro Cultural Light. Com ingressos gratuitos e um produto muito atraente, o evento, que se estende após o espetáculo com atividades referentes à peça é sem dúvida alguma o maior sucesso de público da temporada.

No palco, a história do menino Villa-Lobos, com direção de Karen Acioly, é um espetáculo que tem a marca da delicadeza. Aliás, essa é a marca registrada da diretora, a mesma do irretocável Pianíssimo. Dessa vez também assinando o texto, Karen, mesmo legitimada pela pesquisa biográfica de Maria Augusta Machado, brinca, como ela mesmo diz, com algumas verdades e mentirinhas da vida do compositor. Algo do tipo: se não foi assim, poderia ter sido.

Assim está em cena a vida do menino Heitor, o Tuhu, apelido tirado do som do apito do trem, desde suas aulas na infância com a tia Fifina, interpretada pela cantora lírica Agnes Moço, que acompanha a peça toda ao piano, até a sua primeira regência em Minas Gerais. Em meio à descoberta dos sons que iriam influenciar toda a obra de Villa-Lobos, a peça, sem didatismo ou pesquisa que chegue à frente do texto, têm saborosas pitadas de humor muito bem colocadas. Um perfeito equilíbrio entre o lírico e o risível.

Com um texto tão enxuto, a diretora não se descuidou nem da performance dos atores nem do espetáculo como um todo. A tarefa que parece óbvia é muitas vezes o grande achado de qualquer encenação. Lidando com atores já tarimbados de outros musicais, como Soraya Ravenle, José Mauro Brants, Marcelo Torreão e Bruno Miguel, Karen traz como grande surpresa as meninas do coral de canto de Agnes Moço, que, além de cantar com perfeição, interpretam seus pequenos papéis com graça inusitada. Em destaque Chiara Santoro no papel de Zildinha, a namorada mineirinha de Tuhu, que agrada em cheio a plateia com suas mineirices muito bem construídas.

Também na linha do humor, José Mauro Brants, numa de suas melhores atuações – entre outros papéis-, faz o pai de Zildinha, o inventor do fósforo de duas cabeças. Num espetáculo tão poético, a cena marcada milimetricamente pela direção, com o menino Bruno Miguel (o Tuhu), Chiara Santoro (Zildinha) e José Mauro Brants (seu pai), é um desses momentos teatrais inesquecíveis, onde a performance de um ator depende apenas da resposta do outro. A cena se completa na perplexidade da plateia até a gargalhada final.

O espetáculo cuidado nos mínimos detalhes tem bonecos de Fernando Santana, manipulados sob a supervisão de Magda Modesto, que preenchem cenas muito interessantes, como a orquestra mineira regida por Villa-Lobos. Trilha musical original com arranjos de Tato Taborda e, principalmente, belíssimos figurinos de Ney Madeira, assinando um de seus melhores trabalhos dos últimos tempos, Tuhu, O Menino Villa-Lobos é um espetáculo para toda a família. E esta tem comparecido em massa ao Centro Cultural Light, que periga se tornar o point da temporada.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)