Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 26.06.1993
Ao ritmo leve do sapateado
Quando se anuncia um musical de sapateado, feito também por atores, logo se espera que o espetáculo privilegie um outro profissional, o que na maioria das vezes acontece. Tip e Tap – Ratos e Sapatos, em cena no Teatro Nélson Rodrigues, é uma exceção, onde dança, música e interpretação convivem equilibradamente no mesmo espaço.
O autor Vinícius Marques ambientou sua história numa despensa com todos os enlatados e empacotados que enchem as prateleiras de uma família classe média. Cenário que por si só desperta interesse de crianças e adultos para desvendar o mistério sobre o que acontece quando se fecha a porta do armário. Nesse mundo de gostosuras e agentes de limpeza, um casal de hamsters sapateadores recebe a visita da cegonha, que por distração acaba entregando um bebê a mais.
A troca tardia tem que ser feita quando a dupla dos supostos irmãos estão ensaiando para se apresentar no Programa do Gato Falso. A dor da separação é imensa, mas o show tem que continuar. E continuar mesmo.
Tim Rescala criou uma trilha de qualidade, com ritmos diversos, que vão do samba carioca ao blues. Veículo ideal para Valéria Pinheiro e Sílvia Mattos criarem excelentes coreografias para atores e sapateadores, reafirmando o mito de que só os números muito bem executados dão ao público a impressão de que dançar é fácil.
A direção de Ronaldo Tasso atende a atores e ao espetáculo com a mesma competência. Alice Borges empresta à distraída cegonha Regina todo o seu humor bem elaborado, Regiana Antonini, Orlando Leal e Marcelo Torreão, tiram o melhor de suas personagens. A família de hamsters – Tip, Bebel Lobo, Tap, Renato Oliveira, Bia Pontes, a mãe, e Carlos Viegas, o pai – conduz a história com interessantes momentos de ternura.
Num espetáculo cheio de surpresas, os cenários de Eugênio Luís Barbosa impressionam logo a primeira vista, para ser percebido aos poucos, tantas são as riquezas dos detalhes. Pintados no telão ou confeccionados em módulos de madeira, os conhecidos produtos que aparecem na despensa chegam à lembrança sem se tornar uma ofensiva propaganda. O mesmo acontecendo com os figurinos de João Gomes, que retratam de maneira alegórica, mas que não impedem a sua identificação, conhecidas marcas.
Tip e Tap – Ratos e Sapatos sofre ainda com imprevistos da semana de estreia, mas já deu certo, decolou e aconteceu. Uma gostosura.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)