O elenco de Tempo Perdido mostra garra apesar das deficiências técnicas

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 28.10.1993

 

 

Barra

Confusão na década de 50

O fascínio que os anos 50/60 exercem sobre uma novíssima geração que conhece a época apenas na base do ouviu dizer, está se tornando a nova mania dos espetáculos dedicados ao público jovem. Referências cinematográficas de Filmes como Grease, American Graffiti e Peggy Sue, por certo inspiram esses autores a levar ao palco o inocente Rock and Roll dos milk-shakes espumantes. Mas como nem só de referências se constrói uma história de época, as informações acabam se confundindo e o arremedo se evidencia.

Tempo Perdido – A Nossa Turma é um desses casos. Escrita pelo muito jovem Leandro Wagner, o texto, a princípio, conta a história de uma turma de amigos, vivida nos anos 60. Em seguida, no entanto, ele se desvia dessa linha cronológica e acaba reunindo um pouco de tudo que supôs ter a ver com os anos dourados. No dia do enterro de sua mulher, Tiago Maia, abre o álbum de fotografias e começa a lembrar do tempo em “que era feliz e não sabia”. Ao som de In the mood, moças e rapazes chegam à escola, onde os mais diversos tipos se apresentam: Tiago, o bom amigo e conselheiro; Krica, a desinibida; Ana, a feiosa e CDF; Carla, a que veio para despertar o amor em dois amigos; Marco Antonio, o blusão de couro um tanto cafajeste; Bia, a que acaba cedendo, depois de uns cuba-libres, aos encantos de caio, que parece só veio para isso mesmo.

O texto exagera no estereótipo, com personagens superoprimidos, como o rapaz que é espancado pelo pai, ao a mocinha que dá festas incríveis em sua casa, onde acontece como se diria na época “de um tudo”. Ao final, a turma, sem uma mãe, um pai ou uma tia grudada no seu pé, embarca para passar férias num hotel. E olha que a história não é nem passada na pervertida Copacabana dos fifties.

Numa sucessão de quadros ora superdramáticos, ora desfilando um certo humor, o espetáculo vai contando sua história ao som de uma não menos confusa trilha sonora, incluindo entre outros, de sucessos Glen Miller, Elvis Presley, Celly Campello, Wanderléa, Jerry Adriani, Roberto Carlos, John Travolta e Olívia Newton-John. Discografia produzida entre 1940-1979.

Com uma tendência natural para o over acting, o elenco desperdiça algumas boas situações. Usando o tom de depoimento, como na cena do jogo da verdade, onde a maioria dos atores – com exceção de Mariana Santos, que se revela uma atriz de surpreendentes recursos – dá ao texto ares de discurso, o que só empobrece a encenação.

Desnecessariamente rebuscada, a coreografia da também diretora Fernanda Ulhôa (elaborada para não bailarinos) torna lenta a movimentação, que de maneira nenhuma acompanha a trilha sonora.

Fernanda tenta suprir a inexperiência do elenco concebendo cenas razoavelmente harmônicas, mas a s dificuldades operacionais com a troca dos adereços cenográficos e o excesso de black outs acaba comprometendo o ritmo da encenação.

Apesar dos contratempos, há que se louvar a iniciativa de pessoas tão jovens em escrever, atuar e produzir uma peça da melhor maneira possível. Mostrando respeito por seu público, o elenco em momento algum se perde em brincadeiras particulares. Até mesmo a trilha do espetáculo tem interpretação dos próprios atores e não uma simples reprodução do original.

Leandro Wagner, ao escrever sobre a classe de 50, revela alguns segredos muito atuais. Quem sabe na próxima ele conte tudo que está acontecendo com a turma em 1993.

Tempo Perdido, em cartaz, sábado e domingo, às 19h, no Teatro Henriqueta Brieba.

Cotação: 1 estrela (Regular)