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Quem faz teatro de boneco e quem faz teatro para crianças e quem faz teatro em geral, está cada vez mais unido. As linguagens do trabalhador-ator e do boneco, não são diferentes. Elas estão juntas porque o que interessa, no fundo, é a qualidade artística do espetáculo que se produz para crianças. Atualmente existe uma crescente utilização de bonecos nos espetáculos de atores para as crianças, assim como a presença do ator dentro dos espetáculos de bonecos, também para crianças.

Isto significa, portanto, a necessidade de nós discutirmos com maior profundidade o que é específico para a linguagem do teatro, o que é específico, fundamentalmente, para a linguagem do boneco. Podemos apontar, nesse sentido, algumas características: a necessidade da negação do realismo como prática artística num teatro para crianças; a necessidade do ator-boneco aprofundar-se para uma questão que nós estamos chamando que é a do “movimento” e a do “movimento próprio do objeto animado”, aquele que o boneco extrapola, completamente este tipo de movimento. Por exemplo: a um ator é impossível arrancar a cabeça e continuar falando. Ao boneco é totalmente possível.

Não é possível que um ator entre com um pé no lado direito do palco, com a mão no lado esquerdo do palco e a cabeça no teto. No entanto, ao boneco isto é permitido. Então o desenvolvimento, a estimulação da imaginação e da fantasia que este tipo de prática permite, pode colaborar muito para a produção de um teatro de qualidade para crianças em nosso Brasil.

Infelizmente constatamos atualmente, um esvaziamento completo das associações e sindicatos; constatamos que nós bonequeiros estamos muito afastados uns dos outros.

Um Festival de Bonecos vai demonstrar claramente algumas características peculiares de regiões distintas do Brasil. Por exemplo: O Nordeste do Brasil é um dos poucos lugares do mundo onde ainda existe um teatro de bonecos vivos, popular, feito por gente do povo. Isso existe em pouquíssimos países do mundo. Um Festival Nacional de Bonecos traria, mostraria esse valor artístico e cultural, que nós brasileiros temos que conhecer e desfrutar disso. Inclusive nós do Sul! Poderíamos ver essa manifestação em São Luiz do Maranhão, Ceará, no interior de Pernambuco e em Natal. É possível identificar um Teatro de Bonecos genuinamente brasileiro, feito pelo povo. Um teatro não erudito, se a gente puder assim chamar.

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Valmor Beltrame
Ator e Bonequeiro. Professor de Teatro de animação, Udesc – Mestre em teatro e Doutorando em teatro.

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Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 1º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (1997)