Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 06.03.1993
Pesquisa e produção de alta qualidade
A montagem de um Molière credencia a carreira de qualquer ator. Sua encenação, porém, não a tarefa das mais fáceis. Quando dirigida a um público infantil, já acostumado com divertimentos mais digeríveis, a realização se duplica em dificuldades.
Tartufo, em cena na Sala 115 do Museu da República, recebeu da Cia. Instável de Humor uma produção de alta qualidade, envolvendo minuciosa pesquisa de época que acaba por se revelar inteiramente na encenação. Considerado um dos textos mais discutidos de Molière, proibido por Luís XIV, a pedido da Rainha-mãe, essa sátira a hipocrisia chega ao palco com marcados jogos de intenções, onde a Cia. Tira o melhor proveito das situações de vaudeville, com o revezamento quase mágico de três atores interpretando dez personagens para contar a história de um convincente bajulador, que se finge de beato para explorar um homem rico, e acaba por controlar toda família, criando deliciosas situações de conflito.
Carmem Leonora, Eduardo Amir e Fábio Tubenchlak interpretam seus diversos personagens com tons bastante diversos, conferindo um ritmo intenso ao espetáculo. Os cenários, a cargo da própria Cia., se entrosam perfeitamente aos belíssimos figurinos de Ney Madeira. Ambos, justamente premiados no V Festival Coca-Cola de Teatro Infantil.
Utilizando como palco uma carroça cenográfica, onde se desenrola toda a ação, os Instáveis se cercaram ainda de criativa iluminação, que não dispensa a ribalta de luz de velas, bem como a pontuação musical ao vivo, executada por Alfredo Baltz, Sammy Fucks e Fábio Vianna, que também assina a trilha musical, em parceria com Caíque Botkay.
Numa profusão de cores e requintes de detalhes, Tartufo é um espetáculo indicado para crianças e adultos e a todos apreciadores das artes cênicas a procura daquele raro toque de genialidade que acontece de tempos em tempos num palco.
Cotação: 3 estrelas ( ótimo )