Matéria publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Rachel Almeida – Rio de Janeiro – 01.04.2006
Criação de centro de estudos e de prêmio visam estimular a reflexão sobre o teatro para jovens e crianças.
O teatro infanto-juvenil tem pouco espaço nas salas de aula do país. Com vontade de estimular justamente o lado mais acadêmico dessa arte, profissionais da área, mas com especializações diferentes, se uniram para criar um Centro de Estudo e Pesquisa do Teatro Infantil (CEPETIN), ainda sem uma sede. Mentores da ideia, o dramaturgo e crítico de teatro infantil do JB, Carlos Augusto Nazareth, o ator e produtor Rômulo Rodrigues e a dramaturga, diretora e pesquisadora Maria Helena Kühner começam a organizar o lançamento de uma série de ações ao longo do ano.
Mesmo antes da criação do CEPETIN, cada um deles, a sua maneira, já tentava suprir a falta de espaço para discussões sobre o teatro infanto-juvenil com projetos diferentes. Nazareth, por exemplo, criou um blog, o Vertente Cultural Teatro Infantil (vertenteculturalteatroinfantil.blogspot.com), com artigos sobre o tema. E estimulou a criação de um curso na Universidade Federal Fluminense (UFF).
– Quando fiz um curso de pós-graduação na UFF sobre literatura infantil conversei com a coordenadora, Sonia Monnerat, e chegamos à conclusão de que faltava essa parte mais reflexiva sobre o teatro infantil nas universidades. Então, ela me chamou para dar um curso de extensão e montar um seminário sobre o assunto na UFF – lembra Nazareth.
Marcados para o segundo semestre, o seminário e o curso fazem parte das ações incorporadas pelo Cepetin, assim como uma publicação trimestral com artigos de profissionais e um ciclo de leituras de textos de novos autores. O projeto é semelhante ao desenvolvido anualmente pelo Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude (CBTIJ), com sede no Catete, que promove debates e leituras de peças de novos autores na tentativa de buscar uma melhoria na produção da dramaturgia infanto-juvenil como um todo. Este ano, Rômulo Rodrigues foi um dos que tiveram suas obras lidas no 4º Seminário SESC CBTIJ de Teatro para a Infância e Juventude, realizado mês passado.
– Depois que o texto é lido e debatido, o autor repensa seu trabalho e faz mudanças – comenta Rômulo.
Diretor de projetos do CBTIJ, Antonio Carlos Bernardes diz que a ideia é mesmo apontar falhas na dramaturgia dos novos autores:
– Não queremos analisar só os textos que estejam quase prontos, mas também os que ainda precisam de melhoria.
A intenção dos diretores do Cepetin não é se limitar à pesquisa, mas detectar e sanar as deficiências da área no Brasil, tendo em vista a formação de plateia de uma maneira ampla. Por isso, entre as primeiras ações do projeto, está a criação do Prêmio Zilka Salaberry de Teatro Infantil, que homenageia a eterna bruxa do Teatrinho Trol e Dona Benta no Sítio do Pica-pau Amarelo, morta há um ano.
– A premiação indica aos pais e professores as melhores peças. Nos anos 90, quando havia prêmios para o teatro infantil, como o Coca-Cola e o Maria Clara Machado, o número de espetáculos com qualidade era maior. A iniciativa estimula a qualidade, provoca um aumento de público e acarreta mais espaço na mídia, que gera mais interesse em patrocínio – reflete Nazareth.
Com um corpo de jurados que reúne, além de Nazareth e Maria Helena Kühner, o ator e diretor Antonio Carlos Bernardes, do CBTIJ, e a jornalista Isabel Butcher, o Prêmio Zilka Salaberry de Teatro Infantil tem o objetivo de destacar (sem premiação em dinheiro, por enquanto) os melhores do ano nas categorias melhor espetáculo, autor, diretor, ator, atriz, cenógrafo, figurinista, iluminador e um prêmio especial.
A primeira edição, referente aos melhores espetáculos deste ano, acontecerá em março do ano que vem, mas os indicados serão conhecidos em dezembro.
– No catálogo que organizei, com 5.500 obras teatrais (o Catalogo da dramaturgia brasileira, disponível em www.dramaturgiabrasileira.org), percebi que as peças mais acessadas são aquelas que ganharam prêmios. É uma indicação de qualidade em um ramo em que ainda sem encontram muitos vícios, como a preocupação de passar uma mensagem moralizadora – conta Maria Helena, acrescentando que de 20% a 25% dos 5.500 espetáculos listados são destinados ao público infanto-juvenil.