Matéria publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Ricardo Schöpke – Rio de Janeiro – 02.05.2010
Sem Fronteiras para os Pequenos Espectadores
Idealizada pela área de teatro infantil do CCBB, a mesa Teatro Contemporâneo Infanto-juvenil para todas as idades, realizada na última quarta, serviu como pontapé inicial da nova filosofia de trabalho empregada pelo centro cultural, que retomou neste ano uma programação regular de teatro voltada para crianças, algo esquecido desde o fim dos anos 90. Ao redor da mesa e dos temas que tangem à produção infantil atual, reuniram-se nomes importantes, como a diretora Karen Acioly, Ricardo Schöpke, Miguel Velhinho (Grupo Sobrevento), Marcia Frederico (Presidente do CBTIJ – Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude); e também por novos realizadores.
Com excelente mediação de Miguel Velhinho, a discussão foi aberta com as palavras da Marcia, que destacou a importância de novos projetos de teatro jovem, como o CBTIJ – Boca de Cena, e ressaltou a dificuldade fazer a seleção de escolha das peças dentre pouquíssimas opções de qualidade apresentadas. Ela ainda contou um pouco de sua experiência no trabalho com a sua companhia, nos anos 90, em peças como Enganado, Surrado e Contente. Ela anunciou que o CBTIJ irá realizar, no segundo semestre, uma mostra de temas tabus organizadas com países nórdicos. Disse ainda que a nova mostra do SESC CBTIJ já está com inscrições abertas desde o dia 21 de maio.
Karen contou detalhes da sua trajetória, iniciada com Lúcia Coelho, como os seus sensíveis processos de montagem dos espetáculos Fedegunda e Ogroleto, dois espetáculos diferenciados no panorama contemporâneo do teatro realizado para crianças. Ela ressaltou a importância de ser uma realizadora independente. Anunciou a oitava edição do FIL – Festival Intercâmbio de linguagem, que será realizada em vários espaços da cidade no mês de julho; e lembrou de sua entrada – através de Arthur da Távola e a sua continuidade na gestão de Miguel Falabella – na Rede Municipal de Teatros, no Teatro do Jockey.
– Era um espaço onde as crianças não tinham vez – recordou Karen.
Ela defende um teatro sem fronteiras, e sem espaços definidos, onde todos os temas são bem-vindos para os pequenos.
– O teatro jovem deve ser feito nas ruas, praças e lugares alternativos – destacou.
Como representante da Cia. Boto Vermelho, com mais de vinte anos de trabalhos prestados ao teatro infantil, destaquei que nunca pensei em fazer espetáculos somente para as crianças, e, sim, para a infância em seu estado bruto. A criança era o meu maior alvo junto com todos aqueles que conservam a infância dentro de si. Todos aqueles que não se deixaram endurecer pela vida, todos aqueles que precisam deste estímulo para poder voltar a sonhar. Sobre o espaço do teatro infantil na mídia, destaco como uma das grandes ações atuais o apoio que o Jornal do Brasil nos concede, com a publicação regular de crítica especializada nos dias de sábado.
Myriam revelou que depois de oito peças dirigidas, este era o seu primeiro projeto para crianças. Em seguida deu um belo depoimento sobre todo o processo de criação do seu delicado espetáculo, que fala da solidão e melancolia infantil, mas com humor e poesia. Demonstrando muita sensibilidade nesta sua transição do teatro adulto para o infantil. Alexandre Boccanera falou que nunca construiu um espetáculo pensando exclusivamente no público infantil. Com seu trabalho de bonecos, disse que sempre buscou em suas produções um horário intermediário que pudesse servir a todos: crianças, jovens e adultos.
– É assim que estou fazendo meu novo projeto, As Coisas, criado a partir da obra de Arnaldo Antunes (apresentado no CCBB no horário das 18h, até o dia 27 de junho) – lembrou Boccanera.
A mesa também teve seus momentos polêmicos, como a discussão sobre a categorização de nomes como teatro infantil, teatro jovem e teatro adulto, e a necessidade ou não de dividirmos a s crianças em faixas etárias – em rótulos. Grande parte da mesa concordou que o bom teatro é feito para todos.