Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 04.06.1982
Um espetáculo tradicional
A Revolta dos Brinquedos, de Pedro Veiga e Pernambuco de Oliveira, com direção, cenário e figurino deste último, em cartaz no Teatro Vannucci, é exemplo típico de uma montagem para crianças bem tradicional. Tanto o texto, escrito em 1948/9, como a encenação, caracterizam-se pelo que se poderia chamar de “antigo teatro infantil”. A montagem bem acadêmica, sem voos, apenas funcional. E funciona. Há muita correria, perseguições; e há ainda, a marcação mais lugar comum de toda a história do teatro infantil; dois personagens que vêm andando de costas e que esbarram um no outro. Mas tudo é feito com tamanho cuidado na parte de produção e na parte artística propriamente dita que o resultado é dos melhores em termos de empatia com a criançada. Para essa empatia contribuem, decisivamente, a existência, no palco, de uma rela relação crianças / brinquedos; da existência de um recurso de dramaturgia sempre eficiente, como um “julgamento”; e da existência do humor, aqui entregue ao personagem Ursinho, muito bem defendido por Hélcio de Souza.
Além disso, o elenco atua com segurança, com boa adequação dos tipos físicos, valendo um destaque para a performance de Suzana Queirós, que convence o espectador da verdade de seu personagem; uma menina má e que descarrega nos brinquedos a sua solidão; que reflete, através de sua relação com os brinquedos, a relação existente entre ela e os pais. O mais importante no trabalho de Suzana, com boas reações faciais e com um comportamento sempre coerente, é a maneira de compor uma menina sem apelar para o recurso fácil, pobre e irritante do tatibitate.
A montagem corre com um bom desenvolvimento, com ações e ritmos despertando o interesse. Há momentos de climas expressivos, como na cena em que a menina se desamarra e reassume o poder.
Escrita em 1948/9 justifica-se o apelo didático dos autores no final trazendo à cena um personagem alegórico (Razão) para resolver o conflito. Como a montagem foi dirigida por um dos autores, bem que poderia ter havido uma mexida para evitar que a situação se resolvesse tão arbitrariamente através de um “deus ex-machina”.
A Revolta dos Brinquedos é um espetáculo que alcança seus objetivos: contar de maneira tradicional uma história, mas buscando contá-la da melhor maneira possível.