Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 23.08.1997

 

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Uma montagem aconchegante

Rapunzel é um dos contos mais apreciados dos irmãos Grimm. Recolhido do folclore alemão no século 17, a história muitas vezes encenada ainda mantém alguns atalhos na trama, sendo esta uma das principais características da tradição oral. Isto é, o imponderável se torna, pela repetição, inquestionável. Assim, é mais do que natural uma mãe prometer a uma bruxa sua única filha em troca de rabanetes ou rapunzels, vindo daí a origem do nome da menina.

A versão de Leonardo Simões acrescenta ao conto original alguns atrativos. Contando uma história dentro da outra, Simões faz do seu espetáculo Rapunzel, em cena no Museu da República, uma encenação muito aconchegante que, sem carregar nas tintas da modernidade, coloca a plateia bem próxima do enredo. Ambientado numa área de serviço, a história tem como ponto principal uma empregada doméstica, Celestina, que cansada de atender os pedidos absurdos de seus patrões, escapa pelo sonho da dura realidade.

Encarnando propositalmente uma espécie de Cinderela, Celestina ao mesmo que conta à história, participa da trama com mais três personagens que se revezam nos demais papéis. O toque de originalidade fica com a cena comentada em momentos exatos, deixando a conclusão para a plateia.

Leonardo Simões concebe seu espetáculo com elementos simples e de grande identificação. Num cenário completamente desglamourizado, como era de se esperar de uma área de serviço com seus secadores de roupa poluindo a paisagem, o cenógrafo Ney Madeira junto com a Cia Truanesca, responsável pelo espetáculo, cria uma ambientação que mistura muito bem o real e o fantástico. Exatamente como em qualquer apartamento das redondezas, está em cena uma profusão de estamparias no varal, que se transformam sem muitos truques na torre da bruxa ou num jardim de espinheiros.

Seguindo a proposta do texto e da direção, todos os adereços de cena são feitos de escovas, vassouras e outras traquitanas domésticas. Mesmo para a parte musical, com exceção do violão tocado por Lula Ferreira, a percussão é toda feita com panelas, conchas e um balde muito bem tocada. No caso, o mérito vai para o assessor musical Paulo Menezes.

Ainda no caminho da simplicidade, o elenco cria personagens muito adequada linha da encenação. Em destaque, a ala feminina com Kelsy Ecard, em ótimas interferências no papel de Celestina e Mônica Muller compondo com fino humor Rapunzel, e sua mãe Hildegarda. Ficando com personagens mais discretos Paulo Heusser e Lula Ferreira.

Sem nenhuma pretensão estética, Rapunzel é um espetáculo de fácil comunicação com a plateia, não pela história já conhecida, mas pelo jeito com que é contada.

Cotação: 2 estrelas (Bom)