A peça trata com música e humor, da ecologia e das relações familiares

 

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 28.08.1993

 

 

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Delicioso conto de fadas

Concebido em meio aos preparativos da Rio-92, o texto de Sonia Rodrigues Mota foi um dos vencedores do festival Coca-Cola Ecologia. Originalmente intitulado A Princesa do Meio e a Floresta Encantada, sua trama, além de enfocar problemas como o desmatamento e a preservação do meio ambiente, não se ateve apenas ao tema proposto pelo concurso estendeu sua história às relações familiares. A peça se inspira nos contos de fadas, onde os grandes feitos são sempre atribuídos ao primogênito e ao caçula, e o filho do meio faz o mero papel de coadjuvante. Mas Sonia resolveu dar o devido resolveu dar o devido destaque ao que ela chama de “o recheio do sanduíche”.

Se a primeira montagem foi carregada de molho, a nova versão começa a cortar os excessos já no título. A Princesa do Meio, em temporada no Teatro Cacilda Becker, é o resultado da afinada parceria da autora com a direção de Christina Bethencourt. Da quilométrica corte do reino imaginário restam apenas dois nobres representantes, que dão seu recado condignamente sem os atropelos da montagem anterior. Os muitos blecautes foram substituídos por cenas de ligações mais suaves, e os pesados cenários trocados por adereços que contribuíram para agilizar a trama.

Em sua estreia como diretora, Cristina Bethencourt, mesmo com um elenco de performances desiguais, conseguiu equilibrara a atenção entre atores e espetáculo e enriquecer a encenação com pequenos detalhes, que acabam se revelando importantes no conjunto. A presença constante das três fadas em pontos estratégicos do palco, por exemplo, é um achado em termos de composição cênica.

Também no elenco boas surpresas acontecem, Hebe Cabral, que vinha apenas realizando papéis episódicos, se revela bastante segura interpretando a Rainha. Marisa Avelar e Gustavo Ottoni mais uma vez levam para o palco seu habitual humor bem-construído, e Marina Vianna desempenha, com grande desenvoltura, a difícil tarefa de compor uma personagem vivida anteriormente pela atual diretora do espetáculo.

Os demais elementos que contribuem para a construção do espetáculo – luz, música e cenografia – igualmente se afinam. Os adereços cênicos criados por Olinto Mendes Sá vão se transformando aos olhos do público em diversos ambientes. Dos surpreendentes cubos de madeira saltam os jardins e depois uma floresta inteira, e tudo funciona em grande estilo. A iluminação de Washington Duarte, que teve ainda alguns toques de Paulo César Medeiros, interfere beneficamente na ambientação. Finalmente, a trilha sonora composta pela dupla Luli e Luciana, mesmo sendo interpretada com alguma dificuldade pelo elenco, faz um interessante contraponto ao enredo.

A Princesa do Meio é um gostoso conto de fadas, com reis, princesas e monstros, passado num local imaginário, mas que pode muito bem estar acontecendo na sala de visitas do espectador. Essa dualidade é encantadora.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)