1) INTRODUÇÃO

Embora se saiba que 42% da população brasileira tem menos de 15 anos, contraditoriamente, a marginalidade do teatro infantil e juvenil em nossa cultura é um fato inegável. Marginalidade que vem desde aspectos mais gerais, ligados a uma visão atual na qual a criança e o jovem, não sendo economicamente produtivos, pouco contam socialmente, a outros aspectos nada desprezíveis dessa mesma realidade: o atual contato direto e pessoal da criança com os objetos da cultura minimizando a mediação tradicional da escola e da família, a desigualdade  econômica e social, a evasão escolar, o trabalho infantil etc

Aspectos que geram dificuldades e obstáculos que não podem ser ignorados por uma política cultural para o setor: a subordinação, nas casas de espetáculos, do espetáculo infantil ao adulto, nos cenários, refletores, e condições gerais de produção; a dificuldade de acesso a bons textos existentes, gerando descosidas improvisações, ou seguidas e pouco criativas adaptações de contos, filmes e programas e Tv, só raramente felizes; a rentablidade possível do produtor, com apenas 2 espetáculos semanais e elevados custos de aluguel, se acaso; a falta de informação do público potencial, pelo descaso da mídia para com esse teatro etc. etc.

Aspectos que obrigam a examinar detidamente todos os ângulos da comunicação com a criança e o jovem, e agir no sentido de qualificar o que lhes oferecido, tanto para evitar que se continue a aceitar sob o rótulo de “teatro infantil, ou juvenil” os péssimos espetáculos (?…) caça-níqueis que ainda são oferecidos com visão exclusivamente mercadológica, como para evitar que se torne inútil todo um esforço de renovação da educação e da cultura através do teatro. Com a consciência de ser ele um instrumento pedagógico importante, por agir sobre a sensibilidade, a afetividade, o senso crítico, enfim, sobre todos os elementos ligados à criatividade e ao amadurecimento desse importante segmento social. E até para que a inserção do “jogo dramático” na educação artística seja orientada e feita de modo a contribuir efetivamente para esse  desenvolvimento.

2) OBJETIVOS

Partindo dessas premissas sentimos ser necessário:

a) um exame permanente e atento do teatro oferecido à criança e ao jovem, e uma permanente análise crítica da realidade existente, para detectar tanto as falhas a serem combatidas como as possibilidades a serem desenvolvidas, ampliadas e divulgadas;

b) uma atuação imediata, incisiva e decisiva neste sentido, em todos as etapas, da produção, à distribuição e à fruição, e junto aos elementos por elas responsáveis;

c) uma atenção à complexa problemática que envolve a comunicação com a criança em seus diferents aspectos. Atenção que se fundamenta no fato de que, no teatro com ou para a criança, o elemento básico da comunicação e que deve alicerçar toda a sua prática é o receptor, isto é, a própria criança ou jovem. Ou seja, a produção deve atender a suas necessidades e interesses, e não tratá-los como consumidores passivos de produtos ofertados.

3) ATIVIDADES

É desss objetivos que surgem as atividades a serem desenvolvidas:

1) Seminários: abrangendo informação teórica, discussão e atividades práticas sobre todos os aspectos ligados à criação teatral. Com equipes formadas não só por elementos ligados à prática teatral, como a áreas afins: pedagogia, psicologia, antropologia, etc. De modo a obter uma visão abrangente do mundo subjetivo da criança e do jovem, e da realidade em que se acham hoje inseridos.

2) Ligação Teatro-Escola: mantendo e ampliando cada vez mais uma atuação junto a professores e pais de alunos. O que pode ser feito não só atraindo-os permanentemente para os seminários, espetáculos e atividades a serem realizados, ou levando às escolas os esptáculos e atividades que tenham perfil adequado a essa forma de apresentação, como, se e quando possível, criando ou usando outras formas de comunicação hoje possíveis: parcerias com criadores de objetivos afins  (ex:o Multi-Rio da prefeitura do RJ), e com outras formas de comunicação: sites na Internet, programas de rádio, programas de Tv existentes etc.etc.

3) Concursos de Dramaturgia: de textos específicos para a criaça e para a tão esquecida faixa jovem. Com atribuição de prêmios e menções honrosas, e edição dos selecionados em volume único, a ser amplamante distribuído e divulgado.

4) Banco de Textos: na Internet, ou com sinopses e dados que permitam a orientação de possíveis escolhas, ou, com a devida autorização dos autores, digitados na íntegra para download dos interessados. Com o cuidado de apresentar somente textos que venham a constituir um acervo de reconhecida qualidade.

5) Patrocínios de Montagem: com auxílio à encenação de bons trabalhos, a partir da análise de projetos apresentados, com inscrição aberta aos profissionais em atividade. É uma forma de fazer uma seleção prévia – e necessária – da programação a ser posta em cartaz.

6) Ativação do Movimento Teatral: rodízio de espetáculos selecionados a diferentes bairros da cidade e a diferentes cidades do estado. Que pode ser ocasião de descoberta e/ou utilização de espaços a serem usados como centros culturais – entre os quais as próprias escolas, salões paroquiais, clubes, etc. Paralelmente, realização de Festivais de vários tipos ( Teatro Jovem, Teatro Infantil, Teatro de Formas Animadas, Teatro Escolar , Teatro Internacional)

Nesse item se inclui a possível criação de novos programas de TV e de Rádio destinados à clientela visada, a exemplo de bem-sucedidas experiências anteriores ou atuais.

7) Premiação dos Melhores do Ano: destacando os melhores espetáculos e profissionais nas categorias habitualmente contempladas.( Espetáculo, direção, ator, atriz, cenógrafo, figurinista, trilha sonora, categoria especial). Um desdobramento importante e possível dessa premiação é a circulação desses espetáculos por, e entre, várias capitais, estimulando um intercâmbio dos mais fecundos e produtivos.

8) Publicações: visando ampliar, por todos os meios possíveis, a possibilidade de maiores informações e orientação a profissionais, grupos, e a todos os lidam com as faixas etárias em foco, da edição de boletim informativo (impresso e distribuído nas escolas, ou via Internet, com endereço amplamente divulgado) a obras de interesse técnico-artístico ou pedagógico. Com temática tendo em vista a formação/ atuação dos diferentes agentes que lidam com a criança / o jovem ( Exs: a linguagem infantil  e seu universo vocabular e expressivo; a percepção sonora e plástica da criança, sua utilização do espaço, corpo, som e sistemas semióticos; as faixas etárias e suas diferenças no desenvolvimento; o possível aproveitamento dos recursos existentes na realidade atual e suas formas de comunicação etc etc.

9) Intercâmbio com entidades, associações e grupos nacionais e internacionais, de modo a inaugurar e incentivar uma permanente busca de novos valores, novas experiências e novas linguagens.

Acreditamos que esse amplo leque de possíveis atividades, muitas das quais já em curso, mas ainda necessitando de maior apoio e expansão, pode oferecer uma progressiva e abrangente ativação do Teatro Infanto-Juvenil no sentido desejado.

(*) Texto elaborado por Maria Helena Kühner e Antonio Carlos Bernardes e entregue a Secretaria Estadual de Cultura em 2009, como sugestão do CBTIJ – Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude, como sugestões de uma política de continuidade ao teatro infanto-juvenil.