Elke Maravilha e Pedro Eugenio em espetáculo onde sobressaem a música e os figurinos


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 13.02.1997

 

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Aventuras no Egito 

Pipocas de Papiro, em cartaz no Teatro da Paria, é um texto de Ricardo Mack Filgueiras, dirigido pelo talentoso ator Luiz Carlos Niño. Niño, filho do diretor Luis Mendonça – um dos criadores do teatro popular no Brasil – e da atriz Ilva Niño, é dono de uma vasta cultura teatral e principalmente de timing de espetáculo. Por isso mesmo sabe que o seu não está no ponto.

O texto de Ricardo Mack, com passagens bem-humoradas e com espaço para que o diretor crie ótimas cenas coreográficas e acrescente o seu próprio toque de humor, tem em seu enredo uma história bem contada, mas que necessita de elenco afiado para que a trama se desenvolva inteiramente e tenha algum envolvimento com a plateia. O que infelizmente não acontece.

A história se passa no antigo Egito, quando Pestepatra, interpretada por Elke Maravilha, tenta derrubar o faro, seu tio, para se tornar à rainha do Nilo. O enredo que poderia ser apenas um joguinho de poder é recheado de cenas e romance que só enriquecem a história. A inserção de alguns elementos mágicos confere à obra o toque dos contos de fadas.

A direção de Luiz Carlos Niño também é cheia de surpresas. Assim que Pestepatra (Elke) chega ao poder, todos os habitantes do reino começam a usar estranhas e superdimensionadas perucas, uma marca da triz. As coreografias, também assinadas pelo diretor, tem o ótimo compasso do sapateado, e movimentam bastante a cena. Mesmo que estas por motivos técnicos, obriguem o elenco a usar os sapatos do tap em pleno antigo Egito. Uma curiosidade muito apreciada nos filmes dos anos 50, no cinema épico de Hollywood. Fora este deslize, talvez intencional, dança e música se completam no palco, num elenco que baila muito melhor do que interpreta seu texto e cria seus personagens.

Mas se a direção de Niño cuida bem do espetáculo, sua direção para atores não alcança o mesmo brilho. Porém existem exceções. Elke Maravilha interpreta na medida exata seu papel de vilã. Sem tirar partido de seu natural histrionismo, a atriz generosamente economiza seus gestos para dar espaço aos demais. Em muitos momentos, porém, seu esforço em contracenar é impedido pela ausência de um interlocutor à altura. Outra boa atuação fica com Pedro Eugênio, o desajeitado faraó. Este, um pouco mais egoísta, faz suas cenas solo, independentemente do apoio do elenco. O restante, mesmo com papéis de importância na trama, representa seus personagens com a timidez dos iniciantes. Sem muita intimidade com o palco, dizem seus textos sem convicção, o que fatalmente prejudica o entendimento e principalmente seu envolvimento com a plateia.

A encenação de tom irregular, tem músicas interessantes de Núbia Moreira e Luiz Carlos Niño, completamente integradas à coreografia. Também de bom gosto, os figurinos idealizados pelo encenador com participação do elenco são feitos de material simples mas de grande efeito visual. Já a iluminação de Flávio Mendes escurece a ação além do suportável. Cabe ao atento diretor, que ainda afina o espetáculo, resolver alguns problemas técnicos e principalmente de interpretação para que Pipocas de Papiro decole como merece.

Cotação: 1 estrela (Regular)