Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 09.11.1991

Uma Trupe sem muito equilíbrio

A julgar pelos títulos em cartaz, nunca esteve tão na moda a figura do palhaço. De uma maneira ou de outra, eles aparecem para resolver as situações mais insólitas e misturam-se aos enredos mais improváveis, como figura central da trama ou como fio condutor da história.

Palhaços, peça infantil com texto e direção de Jorge Ruy, em cartaz no Teatro do Planetário, é um desses casos, onde o título pouco ilustra o que está acontecendo no palco, mesmo que palhaços e seu circo estejam em cena.

Baseado em duas farsas medievais de autores desconhecidos, O Pastelão e a Torta e A Farsa do Advogado Pathelin, a concepção do espetáculo é cercada de boas intenções, como a música ao vivo pontuando a ação e por vezes substituindo o texto, a pesquisa de linguagem gestual da commedia dell’arte e a luz e os efeitos visuais no tom exato que o espetáculo deveria apresentar para contar a história de uma companhia circense tiranizada pelo dono do circo.

Mas se o senhor Pantaleão é extremamente autoritário com sua trupe – os palhaços Bucha, Estica e Risonho e a senhora Pantaleão-, Jorge Ruy deixa os atores Samir Murad-Meihen, Roney Bodevan, Elídio J. Gomes, Célia Pamplona e Bel Finamore entregues a própria sorte no espaço cênico, que não conseguem ocupar com desenvoltura, dando ao espectador a nítida impressão de que não foram orientados nesse sentido.

Com material vocal deficiente, a companhia teatral O Corpo de Teatro do Brasil desenvolve a ação proposta de maneira diversa, no que tange à interpretação sem a unidade que supostamente deveria apresentar.

O desequilíbrio do espetáculo, no entanto, parece não interferir na sua empatia com o público infantil, que literalmente entra em cena e dela participa. Assim pelo menos agiam as crianças que no último domingo lotavam o teatro do Planetário e de lá saíam cantando o refrão da música final:”Pra esperto, esperto e meio”.

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