Crítica publicada no Jornal do Brasil, Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 13.07.1991

Barra

Diversão para pais e filhos

A utilização da arena romana por leões e cristãos por certo não acusava problema para os assistentes na hora de escolherem seus lugares. O mesmo não acontece com os improvisados palcos desse tipo que proliferam nesta cidade e que poderiam ser chamados de meia-arena, já que o telão que pressupõe o cenário indica, mesmo ao mais desavisado dos espectadores, que é lá que se desenvolverá a ação.

A peça infantil Os Saltimbancos, de Sérgio Bardotti, com adaptação de Chico Buarque, é um desses casos, em que só a plateia frontal se dá bem.

Daquele Os Saltimbancos, que estreou no Canecão em meados dos anos 70, com um elenco gigantesco e uma produção faraônica, ao espetáculo que está em cena no minúsculo Teatro Posto Seis há uma distância que cobriria o on the road de Jack Kerouac.

O que acontece é que a montagem de Os Saltimbancos, cortados os excessos de custo com figuração e cenário, fica reduzida a uma peça de quatro personagens que, contando exclusivamente com o talento dos atores, pode mambembar pelos mais diversos espaços, tanto os do lucrativo projeto-escola quanto às famigeradas festas de aniversário.

A direção de Roberto Muniz aposta tudo na versatilidade de seus atores, na brilhante direção musical de Paulinho Machado e manda ver. Confiou tanto nos atores que cochilou na direção. Assim, o espetáculo concebido para o palco italiano está totalmente inadequado na meia-arena, deixando a lateral a ver perfis.

Não se sabe a quem creditar as interferências no texto, que não chegam a comprometer o original, a não ser quando a Galinha diz que fugiu de casa porque seu patrão resolveu matar seus pintinhos, dando a impressão de que ela vinha diretamente da fazenda de Jim Jones nas Guianas.

A garra dos atores, no entanto, segura o espetáculo e justifica a ocupação total dos 130 lugares do teatro. Ivana Pimentel compõe a Galinha graciosamente, envelhecendo a personagem no tom que o texto pede. Sem os gritos e saltinhos tão comuns nas galinhas que habitam os palcos infantis. Marcelo Caridad, como Burro, está espertíssimo. Seu tempo de comédia é exato. A Gata – Inessa Franco – não é, enquanto bicho, nenhuma Sarah Bernhard, mas enquanto gata causava um certo frisson na garotada, provocando comentários impublicáveis.

Os Saltimbancos é um espetáculo divertido para adultos com mais de 30 anos, que podem cantarolar as músicas com o elenco, e também para crianças. Mesmo não conhecendo a badalada trilha sonora, elas podem divertir-se, além da peça, com a música ambiental de Mara Maravilha, repetindo, com a sinceridade de que só as crianças são capazes, o refrão: “Não faz mal; eu to carente, mas eu to legal”.

Cotação: 2 estrelas ( regular )