Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 02.11.1997
A vilã Cruela Cruel rouba o espetáculo
Quem for ao Teatro Ginástico assistir a Os Dálmatas – O Musical pensando que vai encontrar algo parecido com o popularíssimo filme de animação dos Estúdios Disney, ou sua nova versão para cinema de atores protagonizada por Glenn Close, que não chega a agradar tanto como o desenho, pode tirar o cachorrinho da chuva. A versão teatral, por diversos motivos técnicos, é mais um espetáculo que vem a reboque do sucesso cinematográfico que, como seus companheiros de estratégia marqueteira, não sobrevive só pelo título.
Porém, a versão teatral tem algo em comum com a do cinema. Nela também sai ganhando a simpatia do público a vilã que todos adoram odiar: Cruela Cruel interpretada no melhor mau humor pela atriz Berta Loran. Berta, em seu primeiro trabalho para o público infantil, tem comunicação imediata com a plateia. Sem carregar na caricatura, o que seria óbvio para uma atriz menos experiente, ela brinca naturalmente com a maldade da personagem, assim como fazem as crianças em suas manhas, conseguindo um diálogo inusitado com o público que, por muito pouco, não torce pela vitória da Cruela. A atriz, que tem os melhores momentos do espetáculo, desce a plateia expondo seu personagem à apreciação pública numa troca muito interessante de informações.
Apesar do grande trunfo, o espetáculo adaptado por João Luiz Azevedo, Mônica Leite e Amilton Amaral, seguindo linearmente o enredo original, não chega a decolar como peça musical que pretendia ser, e sim como texto no qual são inseridos alguns números de canto e dança. Contando com um corpo de baile muito jovem e pouco experiente, esses números têm maior impacto não pela qualidade da performance, mas pelas entradas pela platéia, onde o público pode ver mais de perto os dálmatas dançantes. A estratégia ultra convencional ainda surte efeito.
Amilton Amaral na direção tenta dividir sua atenção para ator e espetáculo, mas o tamanho da produção escapa do seu controle. Assim, alguns atores, como Milton Corrêa e Castro (Pongo) e Lena Carvalho (Naná), que poderiam render bem na linha do humor, são deixados muito à vontade no palco. Nesse caso, a graça apelativa fatalmente acontece. Já Mariana King (Anita) e Genilson Gouveia (Rogério) estão contidos em seus papéis e nem por isso essa seriedade foge a caricatura. Cabe ao diretor mediar os talentos.
Mesmo com esses contratempos, Os Dálmatas – O Musical é uma peça que ainda pode decolar, se acertados os tempos de interpretação e enxugados alguns números musicais, principalmente aqueles em que a jovem linha do coro tenta acompanhar os passos da coreografia por uma bailarina guia. Contando com uma história muito querida e já bastante conhecida do público, esse musical poderia se dedicar melhor ao gênero que escolheu.
cotação: 1 estrela (Regular)