Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 27.07.1997

 

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Um musical como há muito se espera

O making-off, quase uma invenção dos anos 90, é sempre muito apreciado. Na maioria das vezes ele mostra os truques de uma filmagem, a carreira de uma banda na estrada ou apenas registra as etapas de uma montagem teatral. Na era do clipe, a invenção ganhou mais velocidade e sempre chega com interesse diluído apenas como peça promocional. Daí a ideia de Tim Rescala, o autor de A Orquestra dos Sonhos, em cartaz no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil, de construir uma obra para o público infantil a partir dos ensaios de uma orquestra e do dia-a-dia desses músicos. E a proposta soa mais do que original.

Com a dedicação de um ano de trabalho, Tim escreve sua peça e partitura musical sem muitas concessões. A ideia é levar ao público realmente uma ópera, ainda que de câmara, e não mais um texto com inserções musicais.

A história que se conta toda cantada é dividida em três atos. Usando personagens, carregados de caracteres, o enredo envolve a insatisfação de uma orquestra lesada por seu maestro e pelo empresário, arma um complô contra os dois e no dia do concerto mais importante da companhia resolve lançar um novíssimo compositor: Zeca, o copista, que invariavelmente trocava as notas das partituras, mas que na verdade era um autor a ser descoberto. Além das tramas paralelas de romance e aventura, é encenada, como entreato, uma fábula, com direito à princesa, vilão e mocinho.

Para a diretora Karen Acioly ficou a difícil tarefa de reger o elenco formado por músicos/cantores/atores, sem que nenhum desses atributos ficasse comprometido na cena. Seguindo o caminho mais difícil, Karen cria um espetáculo intimista, sem exageros de representação, e é plenamente recompensada em sua estratégia. Está em cena o teatro musical que há muito se busca em nossos palcos.

No elenco de surpreendente qualidade, tanto nas suas reais funções, de músicos e cantores, como na representação, se destacam: Monique Aragão como uma vilã muito interessante, Juliana Franco conquistando a plateia não só pela doçura da personagem Maria, mas principalmente pelo bel-canto, enquanto Maria Teresa Madeira segue um caminho bem-humorado na pele da pianista Isabella. Zé Rescala, o Zeca copista, em ótima composição de personagem, é o azarão que conquista a plateia.

Completando essa montagem tão cheia de acertos, os cenários de Lídia Kosovsky e Pedro Girão, vão se revelando em cena. São pequenos adereços que se transformam aos olhos do espectador nos mais diversos ambientes, ampliados em suas funções pela luz precisa de Paulo César Medeiros. O iluminador acompanha o espetáculo como se seguisse uma partitura. Outro grande achado são os figurinos de Ney Madeira, tanto pelos trajes de orquestra e fábula, como por adereçar os músicos de apoio.

Orquestra de Sonhos é um espetáculo de modelo arriscado que prende a atenção da plateia de adultos e crianças durante os 90 minutos de sua duração. O making-off, quase uma invenção dos 90, é sempre muito apreciado.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)