Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo –  10.05.2013

Barra

Música erudita brasileira para crianças

‘Operilda’, na pele e no texto de Andréa Bassit, é uma das melhores atrações em cartaz em São Paulo para toda a família

Andréa Bassit, na pele da divertida bruxinha Operilda, já participou inúmeras vezes da série Aprendiz de Maestro, na Sala São Paulo. Agora decidiu escrever ela mesma, como boa dramaturga que é, um espetáculo solo para a personagem, Operilda na Orquestra Amazônica, para fazer carreira de forma independente, fora da bem sucedida programação de concertos para crianças nas manhãs da Sala São Paulo.

Andréa acertou em cheio. Em tudo. Está em cartaz apenas aos domingos, às 11 horas, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede de São Paulo, mas será por um bom tempo: a temporada só termina em 28 de julho. Vale a pena se programar para este puro encantamento musical, calcado exclusivamente no repertório brasileiro de música erudita. Para usar uma expressão da própria Operilda, trata-se de um espetáculo “muitíssimo importantíssimo”.

O texto de Andréa Bassit é muito, muito bom. Foge das boas intenções didáticas, apesar de ser altamente recomendável para escolas. As falas de Operilda têm ritmo, cadência, sensibilidade, momentos de extrema delicadeza e poesia, trechos bem brincalhões, enfim, nada como saber realmente escrever. Não há momentos chatos, cansativos, professorais, arrastados. A história da música erudita no Brasil flui que é uma beleza. Como atriz, ela esbanja carisma. E, de quebra, canta bem afinadinha.

A direção acertada de Regina Galdino contribui para o sucesso da difícil empreitada. A diretora conseguiu uma espertíssima integração entre a atriz e seis músicos em cena: Elaine Giacomelli (piano), Clara Bastos (contrabaixo), Paula Souza Lima (violino), Joca Araújo (clarinete e flauta), JoyBone (trombone) e Eduardo Contrera (percussão). Longe de ficarem tímidos e estáticos, esses músicos se deslocam pelo palco o tempo todo, sentam no chão, dançam, se vestem de índios, manipulam adereços, tudo com muita naturalidade e, ao mesmo tempo, precisão.

O cenário de Marco Lima, alusivo ao verde das matas brasileiras, vai funcionar melhor quando a peça fizer outras temporadas em teatros de palco maior. Mas os adereços são um atrativo à parte, como o sensacional guarda-chuva que se transforma em roda de trem ou o estandarte dupla-face, que funciona para a cena do abre-alas de Chiquinha Gonzaga e para a cena do oratório do Padre Maurício. Há também o Livrildo, livro com capa em forma de bandeira brasileira, sem falar na inteligente e linda solução final para resolver a questão de como montar uma orquestra amazônica. Aliás, os cinco últimos minutos do texto de Andréa Bassit nem precisariam de música: suas palavras são música pura para nossos ouvidos.

Alguns pontos altos do feliz casamento do texto de Andréa Bassit com a música que ela se propõe a homenagear são os trechos com o chorinho de Ernesto Nazareth, as harmonias de Tom Jobim e o tributo a Camargo Guarnieri. Mas imbatíveis na emoção, pela competente direção musical de Miguel Briamonte, são os trechos em referência a Heitor Villa-Lobos, com o Trenzinho Caipira e a Melodia Sentimental. E há a cereja do bolo: Andréa cantando um trecho famoso de O Guarani, de Carlos Gomes, exatamente como Elis Regina fazia em seu show antológico, Falso Brilhante. Arrepiante. Não deixe seus filhos fora disso.

Serviço

Operilda na Orquestra Amazônica

Teatro doCentro Cultural Banco do Brasil – São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 – Sé – São Paulo
Horário: Domingos, às 11h

Ingressos: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia)
Capacidade: 125 lugares
Mais informações: (11) 3113-3651/3652
Temporada: até 28 de julho