Objetivos
Avaliando-se a dimensão estrutural e as muitas variantes das quais se pode valer o Teatro Educativo, é a sua atuação, no contexto educacional, a base, o alicerce, o trampolim para a unificação, entre todas as disciplinas, dos ideais da educação integral das crianças.
Dessa forma, por seus objetivos diretos, o ensino dessa disciplina corresponde a uma constelação curricular na qual os mais variados fins isolados partem à busca do fim global.
Por essa razão, passo a expor os objetivos diretos e consequentes do Teatro Educativo.
1 – Objetivos Gerais (Educacionais):
Tendo-se como núcleo do agenciamento curricular a criança em relação ao professor, os objetivos gerais correspondem às aspirações educacionais mais generalizadas. Compõe-se o quadro de objetivos gerais das premissas dominantes, sob as quais as regras são delineadas e adotadas. Uma visão superior é prometida neste enfoque, estabelecendo-se os princípios mais altos (não longínquos) da aspiração educacional, no que se refere exclusivamente à criança, como um comboio férreo cujo veículo de tração é a dramatização.
Submete-se à apreciação consciente dos diversos valores reais, no propósito geral de assumir, o Teatro Educativo, certa liderança no conjunto das tarefas imprescindíveis à educação integral das crianças.
Abaixo registra-se os objetivos educacionais mais marcantes:
1.1 – desenvolvimento integral e harmônico do aluno (criança);
1.2 – a descoberta de si mesmo, no que concerne ao aluno, em relação ao seu mundo social;
1.3 – autovalorização no conjunto grupal das participações;
1.4 – autorrealização;
1.5 – integração no meio ambiental.
2 – Objetivos Específicos (Discentes):
Observamos, no item anterior, o quadro de valores globais na distribuição dos objetivos do Teatro Educativo. Entretanto, não podemos esquecer as necessidades pedagógicas em relação ao indivíduo, sem o que não atingiríamos a meta principal. As necessidades individuais são constantes do princípio que estabelece providências de caráter imediato. É no aperfeiçoamento das moléculas que se forma integralmente o corpo. Assim, dentro dessa filosofia, equacionamos os diversos pontos básicos para os objetivos específicos:
2.1 – no campo psico-social:
– autodescoberta;
– integração ambiental adequada;
– relacionamento social adequado;
– desenvolvimento da cooperação;
– desenvolvimento da responsabilidade;
– autodisciplina;
– desinibição, etc.
2.2 – no campo da aprendizagem:
– desenvolvimento das potencialidades físico-mentais;
– desenvolvimento da expressão e comunicação;
– desenvolvimento da psicomotricidade;
– reconhecimento dos recursos naturais e a maneira de colocá-los em prática; aquisição de atitudes de higiene e respeito ao próprio corpo físico;
– aquisição de atitudes de higiene e respeito ao próprio corpo mental;
– aquisição e desenvolvimento das funções de liderança positiva;
– aquisição de conhecimentos sobre espaço, tempo e ritmo;
– desenvolvimento da consciência crítica, sintética e analítica;
– reconhecimento do espaço próprio em razão do espaço alheio;
– reconhecimento da importância da participação individual no contexto grupal;
– desenvolvimento das potencialidades intelectuais de raciocínio, percepção, criatividade etc.
2.3 – no campo terapêutico:
– análise, através dos resultados práticos, das deficiências físico-mentais dos educandos;
– correção da coordenação motora;
– correção das deficiências comportamentais sem maiores consequências;
– correção de atitudes essencialmente sociais;
– correção da postura física;
– recreação etc.
Obs.: estas indicações partem, única e exclusivamente, ao encontro da colaboração médico-pedagógico, não entrando no mérito específico da área científica da medicina.
3 – Objetivos Consequentes (Docentes):
Contudo, os objetivos em registro não poderão ser divorciados das necessidades docentes. É o professor (e a escola), no sentido tridimensional da ação, a terceira evidência no processo EDUCAÇÃO-CRIANÇA-PROFESSOR. Assim, registramos os propósitos consequentes e específicos, que se nos apresenta num senti de reversão, isto é, a experiência parte do campo discente em retorno ao docente. Melhor explicando: o professor adquire conhecimentos teórico-práticos, desenvolve o seu trabalho com recursos próprios e proporciona, a si mesmo, automaticamente, a análise dos resultados.
Portanto, além de oferecer recursos aos educandos e à própria educação, dá-se possibilidades aos mestres de avaliarem o processo, além da promoção do Teatro Educativo ao seu verdadeiro posto na educação.
Eis os objetivos consequentes:
3.1- proporcionar recursos didático-pedagógicos aos professores, como complementação dos recursos já existentes;
3.2 – proporcionar experiências agradáveis e úteis (sócio-recreativas/educativas), como revisão, através de outros aspectos, dos exercícios próprios do Teatro Educativo;
3.3 – desenvolver a integração global TEATRO EDUCATIVO-DISCIPLINAS-FAMÍLIAS- COMUNIDADE; 3.4- promover o aproveitamento dos recursos humanos grupais (docente / discente / familiar / comunitário), pondo em evidência a contribuição que cada membro possa oferecer ao conjunto de finalidades;
3.5 – divulgar novas técnicas para a aplicação de exercícios dramáticos educativos e para montagens de peças didáticas com crianças;
3.6 – especializar, de um modo global, o professor no que se refere às técnicas gerais do Teatro Educativo.
Método
1 – Introdução
Buscando no trinômio “desenvolvimento físico- mental/sociabilização/recreação” as bases para o método, cuidamos da colocação da criança como o núcleo no agenciamento do currículo. O que se prevê é a elaboração da constelação curricular, na qual a criança defina-se como o elo central entre os componentes da órbita educacional. Assim, temos:
a) núcleo da constelação curricular: a criança;
b) componentes da órbita educacional:
b.1 – os objetivos do Teatro Educativo, no contexto da educação em geral;
b.2 – o professor, no seu sentido global de artesão da personalidade humana; b.3 – os meios, pelos quais utilizar-se-ia o próprio programa em apreciação.
Por outro lado, procuramos posicionar os vários elementos de realização da presente proposição, de maneira lógica, admissível e prática, de modo a:
b.1.1 – oferecer destaque irredutível à colocação dos objetivos;
b.1.2 – oferecer condições básicas para a seleção e organização dos conjuntos de objetos didático-pedagógicos necessários;
b.1.3 – oferecer ilustrações fiéis à realidade, para as devidas e necessárias anotações do sistema global;
b.1.4 – oferecer critérios simples e bem fundamentados, na procura da forma mais adequada de avaliação;
b.1.5 – oferecer estratégias flexíveis e funcionais, tendo-se em vista, acima de tudo, as exigências das condições biopsicossocial da criança, além dos recursos materiais e humanos da esfera docente.
2 – O Conjunto de Elementos para a Elaboração do Programa
– Teoria das Imagens em relação à Manifestação Humana
– a formação das imagens-símbolos mentais;
– imagens científicas, estéticas e sociais;
– imagens e experiências;
– os sentimentos através das imagens;
– a codificação das imagens-símbolos;
– a ambivalência das imagens codificadas.
– Teoria da Psicologia aplicada ao Teatro Educativo
– o instinto de imitação;
– a origem dos vícios;
– a ação preventiva do Teatro Educativo;
– o teatro no treinamento de excepcionais;
– Teoria do Teatro como Fonte de Comunicação
– o teatro e as artes plásticas;
– o teatro e a arte literária;
– a música e a poesia no teatro;
– a realimentação positiva e consequências.
– Os Elementos Práticos
– expressão corporal educativa;
– exercícios de identificação e relacionamento de imagens paralelas;
– exercícios de identificação e relacionamento de imagens de contraste;
– exercícios de identificação e relacionamento de imagens cruzadas;
– progressão da imagem visual;
– progressão da imagem gráfica;
– exercícios de criatividade plástica;
– exercícios de criatividade redacional;
– exercícios de respiração e relaxamento;
– exercícios de percepção auditiva;
– exercícios de improvisação e dramatização;
– exercícios de dicção e articulação das palavras;
– exercícios de dramatização de textos didáticos;
– exercícios de seleção, elaboração e montagem de textos didáticos;
– leitura dramatizada.
3 – Avaliação dos Resultados
A Avaliação dos resultados de um programa educacional empregado a título de desenvolvimento intelectual deve Ter fundamentos através de técnicas específicas. Todos os sistemas de avaliação dos métodos não ativos, principalmente aqueles que se utilizam de cômputo de notas (números ou conceitos determinados em razão de testes ou trabalhos), perdem o valor executivo em nosso processo.
Dessa forma, equacionamos o sistema mais adequado à avaliação dos resultados na aplicação do Teatro Educativo, seguindo inicialmente as seguintes regras:
a) os programas devem ser elaborados levando-se em conta a condição de um todo e não em partes separáveis;
b) estimular os alunos para que desenvolvam os trabalhos interessadamente, sem promessas de prêmios aos melhores resultados, colocando o progresso de cada um em função de um futuro melhor (não um futuro na arte de ser ator (que não é nosso objetivo direto), mas em todos os sentidos);
c) fornecer orientação sistemática à medida em que as dificuldades forem surgindo, sem envolver-se diretamente na solução das questões;
d) adaptar todo e qualquer exercício, sempre que o pré-elaborado não for assimilável pelo grupo praticante;
e) tecer comentários justos e educativos, fornecendo exemplos objetivos, à medida em que as falhas ocorridas prejudicarem o sentido geral do exercício e suas metas.
A avaliação, que denotará todas as fases evolutivas (três) de cada aluno, ocorre por vias específicas, de acordo com os seguintes princípios:
1) No primeiro estágio, quando se inicia as práticas do Teatro Educativo, somente ao professor cabe a responsabilidade da avaliação. Tendo em vista a necessidade de se formar a percepção analítica e crítica do indivíduo, principalmente no que se refere à autocrítica e à análise grupal, o professor deverá gradativamente estabelecer um roteiro de conselhos e sugestões, para não evidenciar a correção de erros, o que, na realidade, é o que se busca. A finalidade desse sistema é oferecer ‘melhores recursos’ para as próximas atuações. Com isso, o próprio aluno é chamado à avaliação indireta, baseado nas imagens oferecidas pelos trabalhos apresentados em conotação com as sugestões e conselhos do professor. Ao professor cabe analisar o empenho, a participação e a espontaneidade individual (fatores de desinibição e sociabilização), além da conotação efetiva entre as imagens fornecidas pela execução dos exercícios e as próprias (fator de percepção).
2) No segundo estágio, a avaliação do professor já segue processo mais rígido, tanto no âmbito individual como no grupal. A observação crítica da participação individual, levando-se em conta a contribuição que as idéias e soluções de cada um ofereçam à construção do trabalho, é fator preponderante de avaliação. A atividade comportamental, a responsabilidade e senso autocrítico é observado como um todo na feitura do esquema avaliatório. A avaliação grupal, por parte dos próprios alunos, é necessária pois os elementos oferecidos por essa participação deverá influir na decisão final do docente. À medida em que cada aluno cria isoladamente, manifestando-se à altura do nível médio do grupo, anota-se a evolução procedente dos resultados das práticas e dos recursos naturais, descobertos e desenvolvidos.
3) O terceiro estágio, que é a última etapa do método, exige do avaliador todo o sistema de conotações entre as imagens oferecidas pelos indivíduos em relação ao grupo total. Fatores como indícios da verdade nas atitudes, determinação nos elementos que compõem a atividade global, interesse em relação aos resultados da própria manifestação em paralelo com os interesses grupais, demonstram a formação da personalidade do educando. Sua condição de comunicar efetivamente, exteriorizando seus pensamentos de maneira lógica e inteligente, são pontos básicos na construção intelectual do aluno e devem servir de peças essenciais na avaliação individual.
Roberto Villani
Professor e autor teatral