O Unicórnio: busca da amizade e fantasia

Crítica publicada no jornal O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 17.01.1986

 

Há uma Certa Plasticidade em Meio à Confusão

Em O Unicórnio, cartaz no Teatro Delfin, o autor Paulo César Coutinho retoma um tema que tem desenvolvido não só em teatro mas também em roteiros de espetáculos de balé: a mitologia. Desta vez, misturando centauro com unicórnio, duende com salamandra, constelação com Nossa Senhora, Paulo César pretende, simbolicamente, mostrar a importância da amizade e da fantasia. E conta a história de um príncipe cujo pai desapareceu no “bosque da fantasia”; a mãe e o padre que o tutelam não permitem que vá lá brincar. Paralelamente, um unicórnio que está sozinho no mundo sai em busca de um amigo, encontra Florim, o príncipe, e o leva a conhecer o bosque e o alquimista que mora lá. No final, o alquimista é o rei sumido, pai de Florim, e por interferência de Nossa Senhora, volta a viver com a rainha e o filho no palácio, em harmonia.

A encenação do diretor Jorginho Ayer é extremamente confusa. Os personagens entram e saem do palco, os dois cenários (palácio e floresta) vão e voltam a cada cena, quebrando o ritmo da peça. Os figurinos são corretos, mas sem um mínimo de criatividade e ousadia. E o unicórnio, interpretado por Rogério Fabiano, que deveria sobressair-se entre os demais personagens, ocupa um papel secundário.

Se o resultado final do Unicórnio deixa a desejar, pela falta de unidade e coerência na resolução do conflito apresentado, não se pode deixar de ressaltar os bons momentos do espetáculo, garantidos, entre outros, por Tereza Piffer. Tereza é uma atriz que tem crescido a cada trabalho e, aqui, consegue compor a Rainha Rudebranda (meio rude, meio branda) mãe de Florim, com total escracho. O jovem ator Luis Fernando Bavier, 11 anos, sai-se bem e convence como o príncipe Florim. Também vale mencionar a cena em que o duende (Cláudia Netto), contracena com a Salamandra (Cristina Bethencourt) em belo momento plástico (coreográfico-musical) do Unicórnio.