Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 09.10.1993
Viagem repleta de alternativas
Na maioria das vezes, só muito tempo depois percebemos que mais interessante do que alcançar um objetivo é o caminho percorrido até ele. O Topo da Montanha é assim. Um texto sobre o caminho. A autora, Teresa Frota, a princípio usa a escalada da montanha como metáfora ao crescimento interior. Se este, porém, era o alvo, mais uma vez o percurso se sobrepõe à meta, e o que vemos no palco é um exercício de imaginação.
Três crianças – Atrito, Bárbara e Perdigão – sabem que fora da proteção de suas casas existe uma montanha.
No topo mora um velhinho com um pote de ouro, ou uma linda moça que canta muito alto, ou ainda uma bruxa má e horrorosa. Pode ser bom, mas pode ser ruim. É preciso subir a montanha para saber. Na bagagem, o inútil e o necessário se completam. Cada um se equipa como pode. Tudo muito parecido com a linha vida.
Renato Icarahy, em sua concepção cênica, cria um espetáculo rico em movimentos e muito bem acabado. Tão bem acabado que a moldura acaba ofuscando o próprio quadro. Apostando na agilidade do espetáculo, algumas importantes intenções do texto acabam se perdendo, como no caso das cenas de ligações dos gnomos, comprometendo o ritmo da encenação. Embora os atores Raul Serrador e Nilvan Santos mostrem um ótimo trabalho de corpo, o excesso acrobático e a repetição do texto tornam os “entreatos” cansativos.
Os cenários, criados por Olinto Mendes Sá, mostram uma montanha alegórica e convenientemente teatral. São molduras encaixáveis que sobem e descem ao sabor da caminhada. O desnível dos planos dá a impressão exata dos obstáculos a serem ultrapassados. Também de ótimo efeito são as letras de Renato Icarahy para as músicas de Gustavo Ariani. Um dos pontos altos, do espetáculo.
No elenco, Fábio Tubenchlak é o irresistível velhinho da montanha, numa composição cheia de recursos. Felipe Martins, no personagem Atrito, estabelece imediata empatia com a plateia, enquanto Vera Regina e Edgar Amorim (como os personagens Bárbara e Perdigão, respectivamente) cumprem corretamente seus papéis. Mas este último exagera na criação do tipo, com desnecessária e caricatural gagueira. Teresa Frota, em aparições episódicas como Sereia, Fada e Bruxa, marca uma interessante presença no palco.
Contando uma história diferente para cada espectador, O Topo da Montanha pode ser assistido exatamente com todas as alternativas que propõe seu enredo: um alegre musical, uma fábula sobre o crescimento, uma incursão ao imaginário fantástico. Enfim, uma viagem por um caminho onde tudo será como lhe parece.
O Topo da Montanha está em cartaz no Teatro II do Centro de Cultura do Banco do Brasil, aos sábados (16H e 18h) e aos domingos (17h), com ingressos a CR$ 150.
Cotação: 2 estrelas (Bom)