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“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua construção.”                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 Paulo Freire

É da maior importância considerar que o teatro de bonecos será um dos mais eficazes instrumentos de ensino num futuro bem próximo. Com o boneco nas mãos o professor poderá alfabetizar, contar histórias, dar aulas de geografia, ciências, história, matemática, utilizando qualquer uma das técnicas possíveis.

O boneco ensina de uma forma diferente, e essa diferença está na maneira lúdica e jocosa com que ele se comporta. Seus trejeitos e vozes engraçadas despertam o interesse das crianças proporcionando a interatividade e a aprendizagem acontece de forma mais espontânea.

As crianças podem manipular os bonecos, criados por elas mesmas com materiais reutilizáveis, e improvisar em cima do tema proposto pelo professor. Ou melhor, deixar que criem uma situação dramática, e resolvê-la. Assim fazendo, as crianças estarão se tornando mais preparadas para a vida, pois resolver essas situações cênicas, quer dizer criar repertório para resolver as situações do cotidiano.

Uma oficina de teatro de bonecos pode ser montada em qualquer sala, desde que seja ampla. O arte-educador se encarrega das ferramentas e a criançada traz a sucata de casa. Dessa forma, acontece também um ato de consciência ambiental, com a diminuição de resíduos sólidos domésticos na forma de caixas de papel, embalagens plásticas etc.

Então, já que tornar o aprendizado convencional mais divertido e prazeroso é o desafio do educador moderno, traçamos uma série de ações para que isso se torne uma realidade dentro de sala de aula:

– Definição da temática da peça a ser construída: conteúdos de língua portuguesa, folclore, tema livre, meio ambiente etc…
– Apreciação de livros, procurando notar as peculiaridades das ilustrações e as relações entre os personagens da história.
– Prática de desenho, tendo como base: letras e números, para que a prática do desenho seja encarada com mais facilidade. É o começo da criação de personagem.
– Elaboração de um roteiro coletivamente (texto dramático).
– Apreciação e investigação dos materiais reutilizáveis visando a criação dos bonecos.
– Confecção dos bonecos e elementos de cena com os materiais adquiridos.
– Jogos teatrais.
– Ensaio da peça visando a apresentação. (Tempo de reflexão e aperfeiçoamento do roteiro).
– Definir e divulgar a data do espetáculo.
– Apresentação da peça com as presenças dos pais, parentes e amigos. A duração é de 15 minutos em média.
– Avaliação sobre o processo vivenciado.

Esse trabalho vem sendo desenvolvido em Belo Horizonte com o público de ensino fundamental, de 1ª a 4ª séries. Desde 2002, já produzimos 8 peças inéditas No final do trabalho, vem sendo comum os pais comentarem que as crianças ficaram mais desinibidas, comunicativas e mais humanizadas. Isso se deve principalmente pelo fato de jogarmos cenicamente, também com trabalho de voz e pelo poder de sensibilização que o teatro traz consigo.

No meu conceito, a educação artística é a disciplina-mãe dentre todas as outras. Não por ser melhor, mas sim porque todas as matérias do currículo devem beber na fonte da arte-educação. Tenho dois exemplos pra dar. Lá vai o primeiro.

Tenho uma amiga que formou-se em matemática, e sempre dizia que não seria reconhecida como professora chata, que terá um jeito todo especial de ensinar. Quando começou com a prática, pode ver que o buraco era mais em baixo. O conteúdo de matemática é muito técnico, específico, e com o passar dos meses seus alunos foram ficando com preguiça. Ela me confessou seu drama e eu lhe dei de presente um fantoche recomendando que pensasse numa forma de usá-lo em sala de aula, como professor substituto. Pois bem, na semana seguinte, no meio da sua aula, minha amiga, de propósito, deixa o giz cair no chão, quando abaixou para pegá-lo, sua mesa, que ficava no meio da sala a encobriu. Era a tenda. E quem surgiu então? Alguém adivinha? Foi o fantoche que eu havia lhe dado assumindo a postura de professor. Isso quebrou aquela tensão, deu frescor a aula, e a resposta dos alunos foi muito positiva.

O outro exemplo que tenho para relatar é sobre a encenação que fizemos sobre a Inconfidência Mineira. Numa ação em conjunto entre Educação Artística e História, confeccionamos os bonecos da trama (Tiradentes, os inquisitores, etc.) enquanto o professor de história cuidou da adaptação do roteiro. Os pequenos bonequeiros aprenderam com muito mais satisfação a matéria, pois havia uma atividade prática de artes. Enquanto fomos produzindo os bonecos, também fomos relembrando a história. Ou seja, o aprendizado aconteceu de forma mais natural, fora do âmbito tradicional. E fazendo arte: trabalhando com tintas, desenhando, recortando… Mas o melhor de tudo foi que desenvolvemos o fazer artístico, fizemos a montagem, e apresentamos no auditório para as outras turmas. Ou seja, o conteúdo de uma única série chegou a todos os alunos do escola.

Colocamos esta metodologia no papel, e tivemos a honra de ficar em 1S lugar na IVa Mostra de Inovações Pedagógicas em Língua Portuguesa, do Sesc-MG. Premio este que visa fomentar a teorização da prática de ensino. Afinal, pouco se escreve sobre o que é aplicado dentro de sala de aula. O projeto “Pequenos Bonequeiros” se destacou dentre os demais projetos pela interdisciplinalidade lúdica que traz consigo, além da educação ambiental.

É também um projeto de arte inclusiva, pois já o adotamos em vilas e favelas, e com a montagem concretizada pela comunidade, existe a perspectiva de renda pro grupo. Ou o elenco pode comercializar o espetáculo, ou conseguir incentivo de empresas que assimilaram o que é responsabilidade social. Quem quiser adotá-lo, sinta-se à vontade. Pedimos somente que nos comunique, para simples documentação.

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Rafael Sol
Graduando em Educação Artística, habilitação em Música pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Arte-educador. Professor de teatro de bonecos, músico, bonequeiro e ator.

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Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 8º e 9º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (2004 e 2005)