Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 26.10.1991

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Uma Farsa cheia de Surpresas

Tão antigo como o seu significado é a vontade de revelá-lo. Mas o segredo é e sempre será a alma do negócio. Já o seu parente mais próximo, o sigilo, parece que nasceu para ser quebrado. Quando isso acontece, pode até transformar a loura gélida em sex symbol. Enquanto alguns se divertem com o dramalhão mexicano e outros se deliciam com o romance de escândalos, modelo Harold Robins, o Paço Imperial abre seu espaço para uma farsa medieval de incrível atualidade.

O Segredo Bem Guardado, recolhido da tradição oral italiana, chega a cena por competente adaptação de Márcia Frederico, resultado de quatro anos de pesquisa. A montagem pega o espectador de surpresa, fazendo-o percorrer o misterioso caminho que antecede a chegada ao palco como se visitasse uma interessante galeria povoada pelos mais diversos tipos de teatro medieval, personificado por atores em suas atividades rotineiras. Como, por exemplo, a atriz que é surpreendida se maquiando e pode revelar as suas máscaras de atuação: riso, choro, desconfiança e”as muitas voltas que a cara dá”. Seguindo o caminho, se encontra o ator e seu baú de mil possibilidades, onde os figurinos vão se transformando.

Percorrida a galeria de tipos, enfim se encontra o palco. É como se um gênio nos concedesse mais um desejo, nesse teatro em que o público rompe a cortina para desvendar a encenação

De enredo simples, O Segredo bem guardado, conta a história de um camponês que acha um tesouro na floresta e passa a viver um dilema: como fazer para que sua mulher linguaruda guarde o segredo? Como esconder da aldeia sua súbita riqueza? Ficar com o tesouro ou devolvê-lo a floresta? O problema é resolvido com bastante engenho pelos atores. Evandro Melo faz um Gênio bem versátil, principalmente quando sustenta sozinho o prólogo da peça, deixando o humor para a interpretação de sua outra personagem, Assuntinha, uma fofoqueira da aldeia que, em dupla com Liseta (Rogério Freitas), delicia a plateia com suas intervenções. Ricardo Venâncio, o Juanelo, é um excelente contraponto a histriônica Leonela de Márcia Frederico.

Com direção, cenários e figurinos do também ator Ricardo Venâncio, O Segredo Bem Guardado prova – chegando ao palco como produto final de cuidadosa pesquisa de época, em seus mínimos detalhes – que o teatro dedicado à infância pode e deve ser criativo. Mais não se fala, mesmo porque já dizia um esperto italiano anônimo:”In bocca chiusa non entro mai mosca”. Descubra o segredo.