Crítica Publicada no Jornal O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 31.10.1986

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O Forte apelo visual de Santiago

Qual será a justificativa para que uma criança de menos de 2 anos de idade assista a uma peça de teatro sem desgrudar os olhos do palco durante uma hora? No mínimo, o apelo visual e auditivo é muito forte. E quando, além disso, a platéia infantil mais velha, que já tem suficiente compreensão dos diálogos, ri ou se emociona com o que é dito? Para autor e atores, o objetivo de seu trabalho foi atingido. Esse é o caso de O Rei Mago, de Thiago Santiago, com direção de Lúcia Coelho, cartaz do Teatro Gláucio Gill.

A história dos três reis magos, que se deslocam em direção a Belém com presentes para o menino cujo nascimento anuncia uma nova era, é contada numa linguagem simples, sem qualquer conotação religiosa, por cinco atores que interpretam o dobro de personagens. A opção da diretora pelo estilo clown foi definitivamente para dar ao espetáculo um grande contraste entre os momentos de gargalhada e os momentos de pura emoção, como na morte do cego bêbado. E o espírito circense de O Rei Mago, é responsável pelo ritmo intenso sem quebras, bem ao gosto do público infantil, que fica preso à trama, na expectativa do que vai acontecer. Sem nenhum caráter moralizante, a peça pode levar a reflexão crianças e adultos.

O elenco, dirigido pela experiente Lúcia, tem um excelente rendimento cênico. Andréa Dantas faz o cego de forma emocionante, enquanto Luís Carlos Niño é um engraçadíssimo Baltazar. A adaptação do texto de Thiago Santiago, feita pelo grupo, deu maior dinamismo a representação. Enquanto o cenário de Lídia Kosovski aproveita com criatividade o espaço disponível para o horário infantil do Gláucio Gill, seus figurinos são impregnados de humor. A trilha sonora de Caíque Botkay, muito bem interpretada pelos atores, reforça as emoções contrastantes. O Rei Mago é daquelas produções em que tudo funciona bem e o entrosamento dos vários itens da ficha técnica conduzem ao equilíbrio do espetáculo, que deve ser prestigiado pelo público.