Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 16.01.1993
Um brinquedo bem delicado
Talvez pela dificuldade de se colocar em cena um enredo tão simples, mas de difícil realização, a história do cisnezinho que foi parar no ninho errado não é dos clássicos mais populares em nossos palcos.
Com versão de Maria Clara Machado, de 1976, O Patinho Feio, em cartaz no Teatro de Arena, é um delicado musical que recebeu da direção de Fernando Bechy o extremo cuidado de armá-lo como um interessante brinquedo, em que tudo funciona na hora exata. Mesmo contada em quadros, a história flui aos olhos do expectador, que acaba por se envolver no enredo, sem perceber que já conhece o desfecho.
Numa feliz coincidência, os jovens atores – também há pouco saídos do ninho – interpretam seus personagens com emocionante vigor, ainda sem os fatais vícios de representação tão comum nos espetáculos em que o público é convocado a escolher entre o bem e o mal, entre o belo e o feio.
Carlos Tenelli, no papel-título, empresta ao personagem a coragem dos diferentes, sem cair no óbvio dos coitadinhos. Marcius Mélhen faz um gato cheio de molejo e malandragem, numa interpretação sem caricaturas. O restante do elenco mantém o equilíbrio do espetáculo.
Bechy, que além da direção assina cenários e figurinos de muito bom gosto, utiliza na montagem a trilha original de John Neschling, que, num toque de genialidade e bom humor, recorre a antigas brincadeiras infantis, sendo impossível sair do teatro sem cantarolar a vinheta de apresentação das irmãzinhas: Pati, Peti, Piti, Poti e Adelaide.
O Patinho Feio é um espetáculo que conquista a plateia pelo conjunto harmônico e pela cativante simplicidade com que a história é contada.
Cotação: 2 estrelas ( bom )