A Chegada da família real, à cidade, em 1808: viagem de 200 anos no Teatro Gonzaguinha

Crítica publicada na Revista Veja Rio
Por Bernardo Araújo – Rio de Janeiro – 03.08.1996

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Futuro do Pretérito

O Passado a Limpo faz o Rio viajar no tempo

A ideia de voltar ao passado para mudar acontecimentos e com isso determinar o futuro não é das mais originais. As séries de cinema De Volta Para o Futuro e O Exterminador do Futuro, por exemplo, já falavam nisso.

Como boas ideias existem mesmo para ser usadas, Rogério Blat, autor e Ernesto Piccolo, diretor, reciclaram o velho mote e o adaptaram ao personalíssimo estilo criado por essa dupla dinâmica do teatro jovem, que recentemente produziu as ótimas Funk-se e Com o Rio na Barriga, escrevendo O Passado a Limpo, recém estreada no Teatro Gonzaguinha.

A peça conta a história do jovem Mariano (Pedro Garcia), um rapaz com preocupações à frente de seu tempo que no longínquo ano de 1808 já pensava em limpar as ruas do Rio.

Preocupado com a impressão que a sujeira causaria na família real, já a caminho da colônia, fugindo de Napoleão, Mariano compra um escravo (Leandro Santana) e, a seu lado, lidera um solitário mutirão de limpeza, contra tudo e todos. O que ele não sabe é que o escravo, com mais três amigos, veio do ano de 2050 para tentar melhorar o Rio do terceiro milênio.

A peça tem todos os elementos característicos dos outros trabalhos dos autores: uma multidão no palco, muita animação, efeitos sonoros impressionantes, boa música e um alerta, nada panfletário, sobre os cuidados com a cidade. O elenco, como sempre, tem boas surpresas, entre elas o protagonista, o escravo Matubaré, e dom João VI, interpretado por Cláudio Caparica. E alguns equívocos, como o intérprete do policial Abílio (Carrique Vieira), que exagera na afetação na tentativa de ser engraçado. O texto tem inevitáveis referências ao futuro, com algumas confusões, pequenas indefinições quanto ao passado, como no tratamento dispensado a dom João, às vezes rei, outras príncipe regente, e uma suave tentativa de estender o espetáculo ao público infantil.

Nada que comprometa o resultado

O Passado a Limpo

de Rogério Blat
Teatro Gonzaguinha (220 lugares)
Centro de Artes Calouste Gulbenkian
Rua Benedito Hipólito, 125, Praça Onze
221-6213
Sábado e domingo, às 17h
R$ 5,00
Estreou em 22.06.1996