Crítica Publicada no Jornal  O Globo
Por Rita Kauffman – Rio de Janeiro – 1986

Sobre O Ouro das Estrelas e da TV

O tema não é incomum: os efeitos dos seriados de televisão sobre a fantasia das crianças. É em torno desse assunto que se desenvolve O Ouro das Estrelas, última realização do Teatro Feliz-Meu-Bem no Teatro Villa-Lobos, que apresentou, nos últimos anos, O Mistério do Boi Surubim, As Sete Quedas do meu Pobre Coração e A Idade do Sonho. Se a ideia não é nova, a forma do espetáculo adotada pelo grupo é. Despojamento de cenários, um grande espaço aberto, na medida em que o espetáculo noturno permita, com um close no texto e na interpretação.

A direção de Vicente Maiolino se deteve mais na construção plástica de O Ouro das Estrelas e no trabalho do ator, (todo o elenco se sai muito bem, com destaque para Oberdan Junior como o menino). Menos numa leitura crítica do material apresentado pelo texto de Tonio Carvalho. Enquanto que primou no capricho pelos figurinos e objetos de cena, Vicente deixou rolar a história do menino mascarado pela indiferença familiar e que se refugia na fantasia oriunda da televisão, terminando por entender que “eu te amo” é a chave mágica que resolve todos os problemas. Misturando nave espacial com super-heróis, vozes em off e até um mago, há momentos em que o excesso de símbolos e o próprio texto são responsáveis por uma certa confusão, que dificulta o entendimento da criançada e dispersa sua atenção.

O Teatro Feliz-Meu-Bem se caracteriza pela busca séria de uma linguagem de teatro para crianças e está em fase de transição. Vamos aguardar sua próxima realização. Em O Ouro das Estrelas o destaque é a belíssima trilha musical, repleta de efeitos especiais, num trabalho eficaz desenvolvido por Patrícia e Raquel Durães, juntamente com Maurício Pinho.

Olho neles, produtores teatrais.