Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 05.08.2001
O Mistério de Feiurinha: Direção eficiente tira proveito de ótimo texto
Conto de Fadas Com Criatividade
No teatro infantil há algumas vertentes dramatúrgicas, digamos assim, que de tanto serem sistematicamente encenadas com pouquíssimo tutano e muito oportunismo acabaram tendo seu “filme queimado”. A principal delas talvez seja a dos contos de fadas. Sem criatividade, com pouco mais a oferecer do que um pastiche ou dos clássicos imortalizados por Disney – que por sua vez já é um pastiche, mas de boa qualidade, é bom notar; da literatura – ou dos próprios livros, autores e diretores não perdem tempo tentando mexer em time que está ganhando. E repetem tudo.
Esse não é o caso, porém, da divertida O Mistério de Feiurinha, premiada peça de 1988 que o diretor Leonardo Simões devolve ao palco, o do Teatro do Leblon, depois de ter tido várias montagens ao longo desse período. Simões marcou um golaço ao adaptar para o teatro o texto do escritor Pedro Bandeira, consagrado autor de livros juvenis, que criou uma história com as principais damas dos contos de fadas: Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho e Rapunzel.
Brincando com o pastiche, Bandeira começa a história indo além de onde as outras pararam, naquele “e foram felizes para sempre…” depois daquela última página, as princesas continuam felizes nos seus papéis de esposas dedicadas e mães pródigas. Aliás, todas, menos Chapeuzinho (Luciene Amarante), que não encontrou um príncipe encantado e vive reclamando de ser “encalhada”, estão imensamente grávidas.
Texto tem várias situações engraçadas
Mas o sumiço de Feiurinha, uma das princesas da comunidade, assusta as outras e elas começam a se perguntar o que acontecerá agora, já que a história prometia um “feliz para sempre” para todas. Branca de Neve (Rosane Moreira), a mais enérgica, resolve pedir ajuda a algum autor para resolver o mistério. Manda seu lacaio Caio (Marcos Ácher, excelente) procurar alguém e este encontra…Pedro Bandeira (vivido por Guilherme Guaral). Até que ele descubra o motivo do sumiço, num desfecho inventado por quem é obviamente apaixonado pelos livros, várias situações engraçadas acontecem.
O encontro das barrigudas é um prato cheio para provocar boas risadas. As alfinetadas trocadas entre Branca e Cinderela (Cecília Vaz), a lentidão mental de Bela Adormecida (Beatriz Gmal, que também faz a empregada Gerusa) e a desilusão de Chapeuzinho divertem por sacudir as etéreas figuras forjadas na imaginação de todos.