O elenco de O Mensageiro das Estrelas: verdade cênica mas excesso de palavra


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 19.10.1997

 

Barra

Galileu em montagem educativa 

O Novo Teatro do Estudante, grupo dirigido por Ronaldo Nogueira da Gama, mais uma vez investe no teatro educativo – o espetáculo anterior foi O Homem que Calculava – trazendo ao palco do Teatro do Planetário, na Gávea, O Mensageiro das Estrelas, que conta a vida e a obra de Galileu Galilei em montagem bastante informativa. Mas se os feitos do físico italiano estão expostos passo a passo, muito do jogo teatral se perde na encenação.

Ainda que algumas cenas sejam bem construídas, o excesso da palavra acaba dispersando a atenção da plateia mais jovem, que rapidamente transforma o programa da peça num telescópio, como o de Galileu, e passa a se observar mutuamente enquanto os pais não desgrudam os olhos do espetáculo.

No texto de Ronaldo Nogueira nenhum detalhe das investigações de Galileu foi perdido. Está na história sua educação no mosteiro de Vallombrosa, sua descoberta da contagem do tempo observando um lustre na catedral de Pisa, sua experiência, ainda que alegórica, que desmente a teoria de Aristóteles sobre a queda de objetos de pesos diferentes, o aperfeiçoamento das lentes de aumento que geraram o primeiro telescópio, e por fim seu depoimento da Inquisição negando ser a Terra o centro do universo. Tudo isso, e mais muita cor local e tantos outros elementos que sustentem o fio condutor da trama, mostrando num curto espaço de tempo, não deixam para o público mais jovem tempo hábil para assimilar as informações ou para se envolver com o espetáculo.

O ideal seria enxugar alguns diálogos e desenvolver melhor outras cenas importantes. Uma delas, logo no começo do espetáculo, quando ainda se pode prender a atenção do espectador, é a de Galileu jogando realmente os objetos de pesos diferentes que caem com a mesma velocidade, para desmentir a teoria de Aristóteles, e não apenas simulando a ação com objetos imaginários. Do jeito que é feito não desperta nenhuma curiosidade de experimento.

A direção de Ronaldo Nogueira da Gama tem no melhor da sua criação a performance dos atores. Mesmo que o texto não permita muita aproximação com a plateia – com exceção do mensageiro interpretado com muita graça por Arildo Figueiredo – os atores carregam seus personagens de uma verdade cênica impecável. Assim estão no palco: Isio Ghelman como Galileu e Evandro Melo, Andréia Bacelar e Moisés Bittencourt coringando diversos papéis.

Os cenários, de Ivan Gil de Mello e Souza, têm alguns acertos no geral da composição, mas seus adereços merecem melhor acabamento. Já os figurinos de Maria Lúcia Vignoli e Tânia Tartarelli têm uma elegância sóbria que combina perfeitamente com a linha do espetáculo. O Mensageiro das Estrelas é uma montagem feita para seguir carreira em projetos educacionais levados aos colégios, ou em sessões fechadas para um público específico de estudantes. Não há nisso nenhum demérito. É mais um caminho a seguir.

O Mensageiro das Estrelas é uma montagem feita para seguir carreira em projetos educacionais levados aos colégios, ou em sessões fechadas para um público específico de estudantes. Não há nisso nenhum Demétrio. É mais um caminho a seguir.

Cotação: 2 estrelas (Bom)