O elenco, pouco conhecido e sem vícios de representação, tem ótimo desempenho


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 13.12.1997

 

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Quiprocós muito divertidos

Escrita em 1903, O Mambembe, uma das peças mais interessantes de Artur Azevedo, em parceria com José Piza, até hoje continua muito atual, pelo menos no que se refere ao teatro e sua gente. A história desses estranhos profissionais que acreditam que dá azar desejar boa sorte numa estreia, e que serão muito felizes na temporada se acharem um prego torto no canário, é contada com todos os detalhes nessa comédia de costumes tão ousada para sua época.

Apaixonado pela obra, o diretor Vítor Lemos Filho, com a colaboração do seu grupo, O Canto do Bode, faz um recorte no texto de Azevedo e Piza apresenta sua versão reduzida, mas não mutilada, no Teatro Cândido Mendes. O original, escrito em três atos e 12 quadros, se transforma nessa versão pocket num espetáculo de pouco mais de uma hora, muito ágil e cheio de humor.

Preservando a trama central, a história começa na casa de Laudelina, quando depois de representar mais uma récita no Grêmio Dramático Familiar do Catumbi, é visitado pelo famoso ator Frazão, que a convida para ser a primeira atriz de sua companhia mambembe. O que acontece pelo país afora, nesse teatro sem pouso, é uma série de quiproquós bem encadeados, cheios de entradas e saídas estudadas, coisas que fizeram desse tipo de comédia de erros um grande acerto no gosto popular.

Vítor Lemos Filho, na direção, cria uma encenação aconchegante, muito adequada ao minúsculo palco do teatro. Com um elenco pouco conhecido, onde se destacam Ricardo Ribeiro no papel de Frazão, Rose Germano como D. Rita, Rodrigo Rangel, o Pantaleão e Evandro Rodrigues, o Bonifácio, o espetáculo surpreende o espectador pela qualidade das performances. São tipos bem marcados, que ganham vida no palco pela força desses atores sem vícios de representação. O toque destoante vai para o personagem interpretado por Daniela Carlos, a mala, que abusa do humor fácil das caras e bocas.

Em grande sintonia com o enredo, o cenário de Rostand Albuquerque e Susana Lacevit é outro ponto alto do espetáculo. UM painel feito dos mais diversos tipos de mala, que se abrem em várias disposições para representar uma sala de visitas, um trem e até um teatro com palco e cortinas.

Os figurinos de Tatiana Rodrigues vestem os personagens adequadamente, sem muitas invenções que atrapalhem a história a ser contada. Sérgio Zoroastro (direção musical) e Tatiana France (coreografia) são discretos em suas colaborações.

Como dizia Arthur Azevedo em seu texto, mambembe na língua mandinga quer dizer pássaro “livre no ar como o ator deve ser na terra”. Esse O Mambembe, feito com o maior capricho para a jovem plateia, é um teatro diferente, que chega neste final de temporada como uma grata surpresa.

Cotação: 2 estrelas (Bom)