Crítica publicada no Jornal A Notícia
Por Armindo Blanco – Rio de Janeiro – 20.05.1978

Barra

O Mago que veio de Orleans

Criar uma emoção visual e sonora. Estimular a imaginação infantil. Sensibilizar as crianças através da palavra poética, pela dinâmica dos gestos e dos sons, pela procura das formas e das cores. Rodrigo Farias Lima me pediu uma breve introdução para o programa de O Mago das Cores que ele produziu e estará subindo à cena, hoje, às 16 horas, no Teatro da Praia. E eu não encontrei nada melhor do que a própria síntese que Ruest e Pato fazem do seu trabalho e do maravilhoso espetáculo que conceberam e realizaram.

Ruest é francês; Pato, chileno. Juntos, eles trouxeram até nós Le Magicien des Couleurs, que coloca em cena atores e marionetes, a realidade e a fantasia, sem apelar para nenhuma espécie de facilidade.

O espetáculo, ainda que falado em francês, causou excepcional entusiasmo às 600 crianças que a ele assistiram durante o Festival Internacional de Bonecos, promovido recentemente em Petrópolis, e, posteriormente, em várias apresentações, sempre com lotações esgotadas, na Sala Louis Jouvet da Aliança Francesa da Tijuca. Paralelamente, Ruest e Pato realizaram vários cursos especializados de teatro de animação sob o patrocínio do SNT, da FUNTERJ e da ABTB/Associação Brasileira de Teatro de Bonecos, e a convite do Departamento Municipal de Cultura, no Rio. E ainda encontraram tempo para dirigir a montagem brasileira do Magicien, com versão em português de Olga Savary, em sua primeira abordagem da linguagem teatral, e Dirceu Rabelo e José Roberto Mendes na animação ao vivo.

O Mago das Cores se propõe, antes de mais nada, ser fiel ao espetáculo original. A cenografia, de Jean Philippe Boin, e as músicas, de Jean Denis Benett, serão as mesmas, o significado das palavras, de Veronique Ratbeau, e as marionetes, também.

Pretende-se, assim, não uma transposição livre, mas a transcrição quase literal, pois o espetáculo, que percorreu toda a França e fez parte do programa inaugural do Centro Georges Pompidou, de Paris, já é, em si mesmo, tão francês como brasileiro, considerando-se a sua cristalina universalidade.

A história, imaginada por Serge Ruest, conta a descoberta das cores. Primeiro o cinza, que se transforma consecutivamente em azul, amarelo, vermelho e termina na feérie do arco-íris, sob uma chuva de confete. O quadro cenográfico é o de uma caixa de imagens. Acessórios: um pote de tintas e pincéis. O bastante para que o mago, o próprio Ruest no original; Dirceu Rabelo, na versão brasileira, opere as suas radicais mudanças, sob pressão de quantos não haviam perdido ainda o senso do novo e recusavam a monotonia, o já visto, a estiolante ditadura do sempre-o-mesmo.

Dia após dia, em laboriosos ensaios, Dirceu assumiu a pele de Ruest, vale dizer, o rigor dos seus movimentos e expressões, o sentido profundo do balé dos pincéis, a poética magia das palavras que às vezes se assemelham a misteriosos sons, deflagrando a curiosidade e o prazer da indagação. Ele será o mago exatamente como Ruest o concebeu em Orleans: um mago que não trapaceia e que se socorre não de poderes sobrenaturais, mas da imaginação e da criatividade que tenta despertar nas crianças, em sua caminhada entre o cinza e o arco-íris.

Le Magicien des Couleurs foi criado por ocasião do Festival de Teatro para a Infância e Juventude, organizado em maio de 76 pelo Centro Cultural de Orleans, França. Desde as primeiras apresentações seduziu o seu público pelo requinte do espaço cênico e pelas invenções de uma encenação que utiliza as marionetes com humor e extrema graciosidade. Foi um dos espetáculos que maior sensação causou no Festival Mundial de Charleville-Mézières, sendo resultado do trabalho de pesquisa e de sensibilização lúdica que Ruest já vinha desenvolvendo na biblioteca municipal de Orleans e que, atualmente, prossegue em seu Atelier na mesma cidade, com frequência gratuita fraqueada a crianças de todas as condições sociais.

O Mago das Cores será apresentado todos os sábados e domingos, às 16 horas, no Teatro da Praia, com ingressos a Cr$ 60 (adultos) e Cr$ 40 (crianças).