A peça infantil O Mágico de Oz consegue superar, com criatividade, as comparações com o famoso filme de 1939


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 18.09.1993

 

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Leve e gostoso divertimento 

Um superfilme, com elenco estelar, cenários faraônicos e trilha sonora inesquecível, quando transposto para o palco, no mínimo suscita as inevitáveis comparações. Em se tratando de O Mágico de Oz, fica praticamente impossível não lembrar do original. Lançado em 1939, o mesmo ano de…  E o Vento Levou, e com o mesmo diretor, Victor Fleming, the wizard deu a Harold Arlen e a E.Y.Harburg o Oscar de melhor canção por Over the Rainbow e um Oscarzinho especial para Judy Garland como atriz juvenil, por sua grande interpretação. Mas isso é o cinema.

O Mágico de Oz, em cartaz no Teatro Casa Grande, em nada lembra a superprodução da Metro, a não ser por uma leve coincidência no sobrenome de seu diretor, Franncis Mayer. Em sua concepção cênica, Franncis substituiu os cenários por enormes telões brancos, onde cada mudança de cena é indicada por uma cor diferente, projetada por efeitos de luz. Apostando tudo no elenco e na trilha musical de Cláudio Savietto, a adaptação suprimiu da história o cachorrinho Totó, o ilusionista com sua carroça mágica e a insuportável professora. Os tios fazendeiros se tornaram, nesta versão, os avós da menina, e Kansas City virou uma cidadezinha do interior, o que, aliás, dá no mesmo.

Assim, a fuga de Dorothy num furacão não é mais motivada pelo desejo de proteger seu cãozinho das garras da professora-bruxa, mas por puro tédio, com a vida sempre igual da fazenda. Com tantas substituições, era de se esperar que o enredo desandasse. Mas isso não acontece, Amanda Acosta faz uma Dorothy no auge da sua vitalidade, conquistando o público desde o primeiro momento. Bruno Garcia, Charles Paventi e Vinícius Mane também respondem satisfatoriamente aos toques da direção, nas personagens Homem de Lata, Leão Medroso e Espantalho. Dudu Morais, embora tenha apenas aparições episódicas, marca sua presença inconfundível performance musical.

Cláudio Savietto criou uma trilha sonora bem-humorada, com refrãos que pegam rapidinho, fazendo a plateia cantarolar junto. Do original, conservou apenas Over the Rainbow, numa interessante versão. Já os figurinos de Rosa Magalhães se revelam desiguais. Para as cenas da fazenda, a artista criou vestes em preto e branco, numa original citação ao filme, mas para o restante da encenação Rosa Magalhães voltou a insistir no estilo indiano, criando detalhes e adereços que acabam por descaracterizar as personagens, dificultando seu reconhecimento pela plateia.

O Mágico de Oz, é um espetáculo que supera as dificuldades trazidas pela comparação com filme e com outras montagens mais suntuosas, que seguiram literalmente o enredo original, e acaba se tornando um gostoso divertimento, inclusive para crianças de pouca idade.

Cotação: 2 estrelas (Bom)