Crítica publicada no O Globo
Por Clovis Levi, Rio de Janeiro, 11.03.1982
Fantasia, Alienação, Despretensão
O autor de O Jardim das Borboletas, André Adler, tem a manifesta intenção de mostrar, para as crianças, uma espécie de oásis onde, com muita facilidade, são resolvidos todos os pequenos conflitos, grandes conflitos não existem e, de modo simples e totalmente idealizado, solucionam-se todos os problemas de solidão e afeto. Consciente de que o mundo não é assim, o autor, na última canção, afirma que a vida é diferente do que é mostrado pelo espetáculo e, ao mesmo tempo, apela às crianças para que, mesmo sabendo disso, tentem lembrar daquele jardim, buscando estimular nelas um pouco de fantasia. Boas intenções à parte (o estímulo à fantasia), o texto deixa muito a desejar.
Inicialmente acho muito discutível que a melhor maneira de estimular a fantasia seja através de uma tal fuga da realidade que leve à idealização e à alienação da vida. A fantasia deve fazer com que o ser humano enriqueça sua própria vida; não deve fazer com que se esqueça dela. Por outro lado, toda a construção dramatúrgica é extremamente frágil: a situação, a trama, os personagens, é tudo muito esquemático, simplificado demais.
A direção de Lígia Diniz parece ter percebido a fragilidade do material que tinha nas mãos e buscou, basicamente, realizar um espetáculo alegre, vivo, musical, colorido, absolutamente despretensioso. Sob este ponto de vista, a diretora consegue seus objetivos. As crianças ficam no teatro um tempo curto e seria mentira afirmar que elas se aborrecem. Também não se pode dizer que ficam deslumbradas. É exatamente neste meio termo que o espetáculo existe. O play back utilizado, se por um lado valoriza a parte musical, por outro lado, prejudica sensivelmente o trabalho dos atores (que não têm muito o que fazer), estabelecendo uma grande frieza entre palco e plateia na hora dos números musicais, que são muitos. Os figurinos são indiscutivelmente a favor das mulheres: as roupas das atrizes são de bom gosto, visualmente agradáveis; as dos homens, extremamente feias.
A notar positivamente, ainda, a abertura de um novo espaço para o teatro infantil na Zona Sul (e na Zona Norte?), muito bem localizado e que pode se tornar um bom ponto de encontro das crianças nos finais de semana. Mas algumas medidas devem ser tomadas para que o Papagaio se transforme num teatro com melhores condições: a retirada (possível?!) de uma pilastra que perturba a visibilidade; e uma melhora no sistema do ar refrigerado. Com o ar ligado fica difícil ouvir os atores; e com o ar desligado fica difícil sobreviver ao calor.