Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 17.05.2013

Barra

A dor do amor impossível, por Jorge Amado

Interior paulista vai poder conhecer a linda montagem do Grupo 59 para O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

Incrível como Jorge Amado se dá bem nos palcos de teatro para crianças e jovens. Em minha carreira de crítico desse setor, já tive a oportunidade de ver em São Paulo três grandes – magníficas! – montagens baseadas em seu livro O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá. A primeira foi em 1999, com direção de Cíntia Alves, e que levava no título a frase que abre um dos primeiros capítulos da obra, ‘Uma história que a manhã contou ao tempo para ganhar a rosa azul’. Depois, em 2003, veio a premiadíssima versão do craque Vladimir Capella. E, desde 2010, mas com sua estreia comercial oficial realizada em maio de 2011, temos as várias turnês do espetáculo dirigido por Cristiane Paoli Quito com o Grupo 59 de Teatro.

Concebido como Oficina de Montagem da Turma59 da Escola de ArteDramática da USP, a EAD, é desse terceiro que quero falar hoje, pois ele segue viajando neste mês de maio (e em junho) por várias cidades do interior paulista (Circuito Cultural Paulista) – e merece ser redescoberto ou descoberto por quem ainda não se encantou com tanto talento e tanta poesia.

A cena inicial já é sensacional, anunciando com muita propriedade todo o lirismo cênico que virá ao longo da peça, que começa com todos os atores do numeroso elenco tentando acordar a preguiçosa manhã, enquanto o vento sopra para acender o fogo do sol. Além da poesia, há um vigor em cena o tempo todo, uma concentração e uma entrega do elenco, em momentos silenciosos dignos de muitos aplausos. Mesmo quando não estão participando da cena, os atores mantém o rigor de ficarem concentrados no palco, prestando atenção no trabalho dos colegas, mantendo o foco no espetáculo. Isso é raro nos grupos, até nos mais tarimbados. Canso de ver atores dispersivos, que permanecem no palco em cenas que não são deles, mas “pensando na morte da bezerra”… Parabéns ao pulso firme da diretora.

E por falar em bezerra, o espetáculo – que contou no roteiro com a participação de Antônio Rogério Toscano – garante boa parte de sua força criativa nas caracterizações excelentes de todos os animais que participam da fábula de Jorge Amado. Além dos protagonistas, o gato e a andorinha, temos sapo, galo, galinha, cobra, a vaca mocha espanhola, o rouxinol e tantos outros. A direção de Cristiane Quito é baseada em muito trabalho corporal do elenco, que se garante com mímica e um gestual bastante expressivo. Nenhum papel, sobretudo o dos dois protagonistas, é fixo para um só ator. Todos os personagens trocam de atores o tempo todo, o que fascina a plateia, num jogo que está longe de ser novidade nos palcos, mas que, realizado com tamanha competência como aqui, ganha força descomunal.

Os figurinos são de Claudia Schapira, que tem se firmado nesse ofício com uma característica sempre presente: suas criações parecem bem simples,mas, na verdade, possuem também uma comovente sofisticação. As roupas são centradas nas cores branco e bege,com zíperes inusitados, superposições, fendas, tecidos que se revelam ao longo do espetáculo.

Ótima é, ainda, a trilha musical, com direção do jovem Thomas Huszar, que também está no elenco (você o conhece: ele é o incrível garoto da recente peça A Linha Mágica, dirigida por Eric Nowinski). Os arranjos são belos e executados ao vivo pelos atores, com o auxílio de instrumentos como pandeiro, violão, flauta e atabaque. Isso faz com que nunca o espetáculo resvale para o piegas, mesmo na cena lindíssima do imenso sofrimento do gato na hora do casamento de sua amada andorinha com o empertigado rouxinol. No dia em que assisti, nessa hora um garoto de bem pouca idade se virou pra mãe, na plateia, e comentou: “O gato ficou bravo, né, mãe?” Para ele, com certeza, esse bravo queria dizer muita coisa.

Serviço

Atibaia: 18/maio, sábado (amanhã), 17 h, na Praça da Matriz

São Sebastião: 19/maio (domingo), 17h30, no Teatro Municipal (Av. Dr. Altino Arantes, s/nº)

Jundiaí: 25/maio, 11h, como parte da Virada Cultural Paulista

Jandira: 22/jun, 17h, no Teatro Municipal Luiz Gonzaga (Rua Elton Silva, 400 – Parque JMC)

Ilhabela: 23/jun, 17h, Galpão das Artes (Rua da Cocaia, 720)

São Simão: 29/jun, 15h, noTeatro Carlos Gomes(Rua Rodolfo Miranda, 277)

Bragança Paulista: 30/jun, 17h, na Casa de Cultura (Rua Cel. Assis Gonçalves, 243)