Jonas Mequeias e Tainah Alvez interpretam O Fantasma de Canterville, de Oscar Wilde, no Teatro Nelso Rodrigues.
Foto de Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 06.11.1993

 

Barra

Musical ao ritmo de videoclip

A adaptação de uma obra literária muito conhecida quase sempre sai perdendo quando transposta para um outro veículo. No caso de um autor tão cultuado quando Oscar Wilde as comparações com o original são, na maioria das vezes, desfavoráveis e inevitáveis. Com O Fantasma de Canterville não acontece diferente.

A versão musical de Márcia Bulcão e Isabella Couto para o conto de Wilde usa o original como tênue fio condutor. Concebido em cenas estanques com pouca consistência dramática, a história ganha agilidade na mesma medida que seus personagens perdem um contorno mais firme. Mas se a proposta das autoras era a de levar a um público jovem uma nova linguagem no melhor estilo vídeo clip, acertaram em cheio.

Seguindo o mesmo ritmo o diretor Ernesto Piccolo investe na imagem criando cenas bastante adequadas e até certo ponto harmônicas. Num elenco de performances lineares, com exceção de Maria Clara Gueiros (Senhora Silva) e Jonas Miquéias (o fantasma), Piccolo aposta tudo na plasticidade do espetáculo e é plenamente recompensado.

Os cenários de Cláudio Torres Gonzaga e Edward Monteiro são criativos e resolvem quase tudo em cena. Formados por imensas escadas que se deslocam é impressionante a quantidade de ambientes que os cenários revelam. Os figurinos de Carlos Batata seguem a grife do humor que vem marcando a carreira do artista.

Bastante movimentada a trilha sonora de Márcia Bulcão e Ricardo Barreto, com seus rocks e raps, agitam elenco e plateia. Junto com a cenografia, os números musicais são os pontos altos do espetáculo. Já a iluminação de Paulo Neném e Juarez Farignon contribui muito pouco para a criação do devido clima do castelo. A volta ao palco para afinação é urgente e necessária.

Com todos esses altos e baixos é de se imaginar que o espetáculo não agrade ao público. Não é verdade. Mesmo que a história passe nebulosa – o que Virgínia foi fazer no cemitério? – o espectador se envolve com a grandiosidade e intenso ritmo da encenação sem reservas. As cenas do fantasma voando pelo palco são ovacionadas. A participação dos piccolos atores Fernando Assunção e Rafael Monteiro, como Ordem e Progresso, cria um elo de empatia instantânea com as crianças da plateia. Tainah Alves, ainda que sem muita intimidade com o palco, é uma bonita figura em cena. Coadjuvada por Ricardo Busse, Maria Clara Gueiros tem o melhor humor do espetáculo. Sua composição para a senhora Silva é cheia de nuances. Monique Alves faz uma correta senhora Umney e Jonas Miqueas voa.

O Fantasma de Canterville é um desses fenômenos de plateia cheia que vai acabar se tornando cult da temporada.

O Fantasma de Canterville está em cartaz no Teatro Nelson Rodrigues, sábados e domingos às 18h.

Cotação: 2 estrelas (Bom)