Crítica publicada na Revista Isto É
Por Clóvis Levi – Rio de Janeiro – Set 1982

Barra

O Embarque de Noé

De Maria Clara Machado. Direção de Toninho Lopes. Teatro Fonte da Saudade, Rio.

O Embarque de Noé, de Maria Clara Machado, é um espetáculo desigual. O texto não alcança o nível das obras primas da autora, falta um pouco daquele charme nas falas e nas personagens (surge, apenas, em doses homeopáticas; “Vovô Adão”, “Titio Matusalém”, “O Para Raios”). E a montagem, dirigida por Toninho Lopes, um dos “filhos” do Tablado, não consegue ampliar o interesse. Ela corre como o texto: modesta, sem grandes voos, sem chegar nem ao deslumbramento nem ao tédio. A proposta é de um musical, mas tudo fica no meio termo: a coreografia é desigual (há três coreógrafos) e o espaço extremamente apertado para um elenco tão grande dançar com eficácia. A música de Ubirajara Cabral, em play back, aparece bem em determinados momentos, mas é inexpressiva em outros (a oração de mamãe Noé, por exemplo).

O elenco, jovem e inexperiente, não consegue motivar um maior interesse pela expressividade do trabalho de interpretação. É visível a falta de uma preparação de corpo, principalmente para os atores que representam animais. Há um desequilíbrio total entre os bichos. Enquanto a girafa-fêmea (Flávia Leão) realiza um excelente trabalho corporal, seu par (Sean Butler) anda normalmente, como homem. Enquanto Luis Carlos Tourinho e Tina Lage procuram uma linguagem para definir suas personagens- os macacos – os casais de bois e leões não buscam composição alguma. Destaca-se o trabalho de Rubens Camello, um pinguim excelente, sem fala, e que transmite sentimentos através do corpo, da expressão facial e principalmente do olhar. A peça (texto e direção) começa meio frouxa, mas vai melhorando indiscutivelmente da metade até o final. No saldo, o programa diverte.