Um texto ágil e bons atores no palco em O Dia de Alan.
Foto Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 15.05.1993

 

Barra

A escola sob a ótica das crianças

No começo dos anos 70 proliferavam grupos experimentais que, na maioria das vezes, optavam por uma criação coletiva, onde a figura do autor, diretor, cenógrafo e figurinista se diluía na tribo. Todos faziam tudo. Uma década e meia depois, apartaram-se os talentos e cada um seguiu sua estrada. Hoje esse fenômeno coletivo não deixa de ser curioso. No sentido oposto ao dos adolescentes que lotam os cursos de formação de atores, é esvaziada a plateia de espetáculos feitos por e para este mesmo público. A inexplicável falta de curiosidade carece de estudo.

O Dia de Alan, em temporada no teatro Delfin, traz a cena um excelente grupo de jovens atores que, com certeza, merece ser visto por seus pares. O texto de Vladimir Capella embora localizado numa regionalíssima São Paulo, aborda um assunto universal. A problemática adaptação do recém-chegado aluno a rotina escolar e seu entrosamento no novo grupo. Com texto concebido sob a ótica do personagem-título, os demais papéis se apresentam divididos entre bons e maus. Mesmo assim, Capella conseguiu alguns contornos atenuantes que suavizam um possível maniqueísmo.

A direção de Ewerton de Castro, que também assina a bem resolvida cenografia, armou um belíssimo espetáculo, onde a luz de Aurélio de Simoni, a música de Dioni Moreno e, sobretudo, a preparação corporal de Tânia Nardini constituem elementos imprescindíveis à plasticidade alcançada. Ficando o único toque destoante com o figurino – uma criação coletiva – usada pelos personagens das professoras. Compostos numa visão muito caricatural de fada e bruxa, os trajes em nada auxiliam a já complicada tarefa de reunir, em somente dois papéis, todas as características de todo o corpo docente.

No elenco, sem dúvida nenhuma, os personagens dos alunos são os mais atraentes. O durão Helio Zacchi, Flávia Faffiães, Antonio Torres e a elétrica Thatiannie Manzan desenvolvem seus papéis com toda a crueldade exercida pelas crianças, quando longe do olhar de seus responsáveis. Leonardo Senna constrói o alter ego de Alan de maneira delicada. E Oberdan Jr. Empresta ao personagem-título a sua sempre competente atuação, emocionando a platéia numa verdadeira vingança dos estranhos ao ninho.

Cotação: 1 estrela (Regular)