O Conquistador, fascinante para adultos e crianças


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 01.05.1993

 

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Paul Klee para todos os gostos

Não são raras as histórias em que a vida do artista corre no sentido inverso da sua obra. Humoristas mal humorados e gênios da ciência medíocres na idade escolar são enredos amplamente divulgados.

O Conquistador, com texto e direção de André Monteiro, em cartaz no Teatro Villa-Lobos, baseado na obra do pintor Paul Klee (mesmo que o autor negue o toque biográfico) utilizou em sua concepção além dos estudos da Klee, também seu diário pessoal. Se o retrato do artista quando jovem não está fielmente em cena, por certo o traço marcante de Klee deu vida a personagens muito próximos de sua obra. A combinação é excelente.

Com a estrutura armada em cima de cinco personagens centrais e 14 bailarinos, a encenação poderia repetir a velha forma do que se acostumou chamar de musical, mesmo que isso signifique apenas um texto com algumas canções. Ao contrário de seus companheiros de gênero. O Conquistador tem uma concepção operística nada pretensiosa, reunindo canto, dança e representação de maneira harmônica.

O tímido Ivan usa como recurso para declarar seu amor à namorada Clara, o velho livro de poesias do pai. A partir desta leitura começa a ver estranhas figuras que ninguém mais enxerga. Para Ivan, a comunicação com os invisíveis fica mais fácil através da música, e cada um deve descobrir o que faz o seu coração bater mais forte para “fazer visível o invisível”.

No elenco, José Mauro Brant no papel de Ivan, surpreende a plateia com seu potencial vocal nas canções que interpreta, sem se descuidar, no entanto, da composição do personagem. Luís Carlos Tourinho, com seu excelente tempo de comédia, está irresistível como Teo.

O Conquistador tem ainda como grande surpresa a ativa participação do grupo de bailarinos cantores, tornando suas figuras imprescindíveis a plasticidade cênica. Neste mesmo plano estão os cenários e figurinos com fragmentos da obra do pintor, realizados por Doris Rollemberg, a ilustração musical de Caíque Botkay, a coreografia de Márcia Rubin e a luz de Paulo César Medeiros. De surpreendente qualidade, o espetáculo conquista crianças e adultos com todos os méritos.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)