As tias solteironas e Maria, vivida por Maria Maya, que surpreende no palco

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 09.04.1995

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A boa música revitaliza o texto

Há muito tempo sem ser encenada – consta que em grande parte pelo ciúme que a autora tem da peça – A Menina e o Vento, de Maria Clara Machado, ganha agora uma versão musical criada pelas diretoras Cininha de Paula e Lupe Gigliotti. E mãe e filha esperaram tanto para finalmente montar esta peça, que não pouparam esforços para transformá-la numa superprodução, do bonito cenário de Tadeu Catharino às excelentes músicas de Tim Rescala (parceiras perfeitas do texto), dos ótimos figurinos do criativo Cláudio Carpenter ao elenco homogêneo.

No elenco, aliás, está a maior surpresa da peça: Maria Maya, filha de Cininha e Wolf Maya, estréia no palco no papel da protagonista. A sonhadora menina Maria, que sai para conhecer o mundo montada na cacunda do vento e provoca uma grande confusão em casa e na cidade. Desinibida, a jovem atriz de 13 anos faz uma graciosa Maria e mostra o talento herdado da família de artistas. A escolha das atrizes para interpretar o trio de tias solteironas também foi acertada: Regiana Antonini está hilariante no papel da ranzinza tia Adelaide; Cláudia Rodrigues é Adalgisa, a segunda tia, que obedece, mas não concorda muito com os desmandos da irmã mais velha; e Heloísa Perissé é a caçula Tia Aurélia, sonhadora como a sobrinha Maria. Marcello Caridad é o Vento, num papel que poderia render melhor, inclusive se o personagem aparecesse mais.

Cininha, hábil diretora de musicais, espertamente aboliu a frieza do playback e botou todo o elenco para cantar ao vivo no palco. O resultado, muito mais contagiante, é valorizado pelas canções de Tim rescala. Suas composições, geralmente, primam pelos bons arranjos vocais e prendem a atenção do público.

Convertida num musical de primeira linha, é verdade que a  história ingênua escrita por Maria Clara há décadas ganha indiscutível vitalidade. Em compensação, a partir do momento em que a música passa a ser tão ou mais atrativa que o texto, Cininha e Lupe deveriam ter optado por enxugar um pouco mais o espetáculo. Ao preservar integralmente o texto original (com louváveis intenções, já que a autora relutou tanto para cedê-lo) e ainda acrescentar os números musicais, a dupla concebeu uma peça que soma quase uma hora e meia de duração.

Por mais empolgante que a montagem seja, é muito para a garotada que, já nos últimos 20 minutos, protagoniza um senta-levanta sem fim nas poltronas. Apesar disso, Cininha e Lupe têm o mérito de ter criado o que deve ser um dos espetáculos mais divertidos da temporada.