Matéria publicada no Jornal O Globo
Por Roberta Oliveira – Rio de Janeiro – 28.10.2001

Maria Clara com O Cavalinho Azul na primeira montagem, de 1960

Leandro Leo vive Vicente, o menino de O Cavalinho Azul que inventa para si um animal que se alimenta de nuvens

Ronald Teixeira (à esquerda), Lúcia Cerrone, Martha Rosman, Ubirajara Cabral, Tim Rescala e Cacá Mourthé: aniversário

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Pluft, o Fantasminha: desenho de J. Barrão

O Rapto das Cebolinhas, cartaz de 1982

Montagem de 1993: desenho de Anna Letycia

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Teatro Tablado, de Maria Clara Machado, comemora 50 anos com lançamento de livro, CD, exposição e peça

A dor pela morte de sua fundadora ainda não foi esquecida, mas o Tablado, como a própria Maria Clara Machado se divertia em dizer, funciona perfeitamente, ela estando, ou não, por lá. Prova disso é o pacote que o teatro, por onde passaram e se formaram atores como Rubens Corrêa, Malu Mader, Louise Cardoso e Sura Berditchevski, preparou para celebrar os 50 anos de uma “vida plenamente vivida”, como Maria Clara costumava definir, com simplicidade, o seu Tablado.

O aniversário começa a ser comemorado amanhã, data da fundação, com uma missa em ação de graças na capela do Patronato da Gávea, seguida pela noite de autógrafos do livro 50 Anos de Tablado – Os Melhores Anos de Muitas Vidas, de Martha Rosman; pelo lançamento do CD Corator Canta Músicas de A Bruxinha Que Era Boa, Tribobó City e O Gato de Botas, com músicas que Ubirajara Cabral compôs para as peças de Maria Clara; e pela abertura de uma mostra organizada pelos críticos Macksen Luiz e Lúcia Cerrone.

Rescala Transforma O Cavalinho Azul em Ópera

E as comemorações não param por aí. No dia 10 de novembro, Cacá Mourthé, sobrinha de Maria Clara e atual diretora artística do Tablado, estreia no teatro O Cavalinho Azul. Em sua quinta montagem – a última é a de 1990, tendo Luiz Carlos Tourinho no papel do menino que usa a imaginação para inventar para si um animal que se alimenta de nuvens – uma das peças mais queridas de Maria Clara, se não a mais querida, ganhou ares de ópera para crianças pelas mãos de quem entende do assunto: Tim Rescala.

– Optei por uma ópera e não por uma opereta porque queria transformar totalmente a linguagem da peça e porque a ópera é um gênero que se encaixa perfeitamente a um texto poético como O Cavalinho Azul – diz Rescala, que, sendo fiel ao original de Maria Clara, escreveu um libreto e compôs 24 músicas. – No início, quem já assistiu a uma montagem da peça pode estranhar, mas logo vai embarcar. Principalmente as crianças, mesmo as pequenas, porque, ao contrário do que se pensa, elas têm mais facilidade de gostar de ópera do que os adultos.

Livro de Martha Rosman é Composto por Depoimentos

Para que a homenagem fosse completa, Cacá escalou, para O Cavalinho Azul, atores que têm uma ligação com o Tablado. Assim, Fernando Caruso, Luiz Carlos Tourinho e Xando Graça vivem “os três músicos” e Aloísio de Abreu está irreconhecível como João de Deus. Para não deixar nenhum ex-tabladiano de lado, Cacá promete remontar, em 2002, Pluft, o Fantasminha, com Sura Berditchevski e Claudia Abreu. E é de mais de 200 depoimentos de crias da escola de Maria Clara que é feito 50 Anos de Tablado – Os Melhores Anos de Muitas Vidas.

– Há sete anos, resolvi escrever este livro porque os 36 anos em que trabalhei no Tablado foram os melhores da minha vida – diz Martha Rosman, que começou como figurante de Nossa Cidade e pisou pela última vez no pequeno palco há dez anos, em Romeu e Julieta. – O Tablado me educou. Antes, eu não passava de uma mulher da high society com cinco filhos que só se preocupava com política por hobby e era uma das “mal amadas” do Lacerda. Ao fazer Nossa Cidade, chutei Lacerda e abracei o Tablado.

Depois de conhecer Maria Clara, a vida de Ubirajara Cabral também nunca mais seria a mesma. Há 30 anos, ele foi convidado para compor as canções daquela que seria a primeira comédia musical da autora de Pluft: Tribobó City. Fazer músicas para o Tablado tornou-se, então, uma espécie de hobby para quem sempre se sustentou dando aulas na faculdade de engenharia. Depois de Tribobó, vieram A Menina e o Vento, Embarque de Noé, Os Cigarras e Os Formigas, O Dragão Verde, A Bruxinha Que Era Boa, O Gato de Botas e Jonas e a Baleia. O CD, no entanto, é composto apenas de quatro canções, duas de Tribobó City, uma de A Bruxinha e outra do Gato.

– Eu não tive condições de fazer um CD com 14 músicas como gostaria, – lamenta Ubirajara, que escolheu as canções e os espetáculos que considera mais marcantes. – Vir para cá era como ter pela frente  um fim de semana de diversão, era meu momento de lazer, minha outra atividade.

Peças-marco do Tablado, como A Bruxinha e Tribobó, cuja versão dirigida por Miguel Falabella está em cartaz no Teatro Scala, também estão na exposição que estará aberta ao público somente nestas terça e quarta-feira.

Com design assinado pelo cenógrafo Ronald Teixeira e iluminação de Jorginho de Carvalho, que comemora 40 anos de Tablado, a exposição foi dividida em quatro módulos. O primeiro é dedicado aos fundadores do teatro; o segundo, a Maria Clara; o terceiro, às produções do Tablado e o último, aos alunos que se formaram por lá.

– O público vai ver documentos inéditos, como os originais de Pluft, o Fantasminha ou fotos de Maria Clara como atriz, como no filme Ângela – diz Lúcia Cerrone, que espalhou pelo palco mais de cem fotos e pela plateia dezenas de objetos de cenas. – Também temos os desenhos de Kalma Murtinho para os figurinos de O Rapto das Cebolinhas.

A Comemoração

Exposição: Macksen Luiz e Lúcia Cerrone assinam a curadoria da mostra que reúne, terça e quarta-feira, originais de peças de Maria Clara, fotos de montagens e objetos de cena.

Livro: Martha Rosman reúne em 50 Anos de Tablado – Os Melhores Anos de Muitas Vidas, mais de 200 depoimentos de pessoas que passaram ou têm alguma ligação com o Tablado.

CD: Ubirajara Cabral lança Corator Canta Músicas de A Bruxinha Que Era Boa, Tribobó City e O Gato de Botas, com canções compostas por ele para essas peças de Maria Clara.

Peça: Cacá Mourthé e Tim Rescala transformaram O Cavalinho Azul, uma das peças preferidas da autora, numa ópera para crianças. O libreto e as 24 músicas são inspiradas no original.