Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 16.04.2013

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Brincando de celebrar a amizade

Com dramaturgia e direção geral de GpeteanH (sim, um nome assim todo estiloso e gráfico), o espetáculo Meio Lá, Meio Cá é uma grande festa animada, produzida pelo grupo Los Lobos Bobos. Eles escrevem no pequeno programa da peça: “Deu vontade de nos colocar e colocar vocês na alegria de uma baita festona, no meio de um jogo divertido, de um sonho inesquecível!”

Conseguiram. Graças ao imenso carisma do trio de atores (Bianca Rinaldi, Murilo Inforsato e o próprio GpeteanH), o espetáculo vira mesmo uma grande brincadeira, começando pela maior sacada do grupo: não se limitar ao palco para a encenação, mas usar constantemente também o espaço da plateia. Os atores sobem e descem do palco inúmeras vezes, integrando o público ainda mais à história e ao ritmo de festa. Entram pela plateia, não pela coxia, fazem cenas inteiras fora do palco, depois voltam para o palco e assim por diante. E, no final, saem pela plateia, junto com o público, de mãos dadas com as crianças, sem esperar pelos tradicionais aplausos de encerramento. No simpático e amplo salão do Teatro Vivo, onde estão em cartaz, no Morumbi, terminam de se despedir das crianças. Não que isso seja inovador no teatro infantil, longe disso, mas aqui funciona muito bem, na chave certa, no ritmo adequado.

O texto de GpeteanH, em geral, é bom e eficiente, com boas tiradas. Fala de medos (escuro, mistérios) sem deixar que isso fique pesado. E, mais que tudo, é uma linda celebração da amizade. É ótimo o trecho do texto que brinca com a expressão “apesar de”, para o personagem falar dos defeitos do amigo. “Gosto, apesar de…” Funciona com humor e esperteza. Mas há sequências confusas, meio lá, meio cá. A personagem de Bianca Rinaldi é menina ou é anjo? E, no final, é uma moça grávida ?? Como assim ??

Sem contar que há um equívoco, a meu ver, quando um dos personagens faz que tapa o nariz e diz: “Não gosto do cheiro de povo”. Fica bem grosseiro e é totalmente desnecessário. E por falar nisso, na trilha irregular, uma música destoa completamente de tudo e não faz muito sentido no enredo, além de pesar demais, por ser uma letra difícil para os pequenos: Mulher Eu Sei, de Chico César, definitivamente não me parece uma canção de peça infantil.

É uma pena, pois, além dos bons profissionais envolvidos, percebemos na ficha técnica do programa que se trata de uma montagem que contou com muitos “supervisores”: supervisão de trilha, de criação de luz, de criação de encenação (?), de movimentação cênica, de limpeza de gestos (?), de imagem fotográfica (???)… Curioso tudo isso.

Bianca Rinaldi, estrela da TV, faz números aéreos de circo (lençol circense), com uma desenvoltura surpreendente. Mais um talento dela que a gente não conhecia. Ela é também a que mais se dá bem na interação com a plateia, pois muitas perguntas são dirigidas às crianças e é preciso ter um bom jogo de cintura para lidar com isso e não deixar que as crianças mais animadinhas prejudiquem o ritmo da peça. Bianca domina a garotada com graça e leveza. É tocante o momento em que os atores descem à plateia para procurar anjos.

Atrações especiais são cenário e figurino, que não aparecem creditados no programa, fazendo supor que sejam o casal Suppa e Edu Reyes, que aparecem no item “direção de arte”. Se forem eles, parabéns. Figurinos são inventivos e fazem bom uso das cores primárias. No cenário, as divertidas escadas dobráveis coloridas fazem toda a diferença. Grande achado. Entre altos e baixos, vale a pena prestigiar esta alegre farra da amizade.

Serviço

Teatro Vivo
Av. Doutor Chucri Zaidan, 860, Morumbi
Tel.: (11) 7420-1520
Sábado e domingo, às 16h
Ingresso a R$ 20,00 (inteira)
Estacionamento com manobrista (R$ 18,00)
Em cartaz até 14 de outubro. (Sim, haverá sessão normalmente neste domingo de eleições municipais)

*Este texto foi publicado anteriormente  em 05.10.2012, no blog Pecinha é a Vovozinha