Guilherme Piva (de boné), o destaque do elenco, contracena com Lins

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – Jan 1995

Barra

Maria Clara Machado dá o caminho das pedras

Maria Minhoca, uma das criações mais famosas de Maria Clara Machado, é uma história ingênua e romântica e um prato feito para qualquer diretor. Tanto porque apresenta personagens bem construídos e estereotipados para agradar a criançada – há mocinhas, pai zangado, vilão metido a galã, herói bonzinho e amigo esperto – como porque sua estrutura narrativa aproxima-se do ritmo de uma história em quadrinhos, com passagens e marcações bem definidas e excelentes para serem exploradas. Ao mesmo tempo, por sua aparente facilidade, a peça pode tornar-s igualmente uma bela armadilha, atraindo a direção para o poço da banalidade.

No caso da versão de Maria Minhoca em cartaz no Teatro dos Quatro, os diretores Marcelo Serrado e Marcus Moraes souberam escapar com honra da segunda hipótese. Até porque beberam na fonte inspiradora da própria Maria Clara Machado no Tablado (ambos passaram pelo teatro-escola). Aproveitando ao máximo as características dos personagens e as cenas redondinhas criadas pela autora, a dupla encenou um espetáculo divertido e agradável, com boas saídas – como a inclusão de efeitos sonoros que funcionam como onomatopéias cênicas.

A história em si é quase bobinha: Maria Minhoca (Christine Fernandes), mocinha bonita e obediente, gosta do fracote Chiquinho Colibri (Cláudio Lins). Este, por sua vez, não agrada ao pai da moça, o bravo João Buldogg (Jaime Leibovith), que prefere ver sua filha casada com o valentão e fanfarrão Capitão Quartel (César Augusto). A única saída para Minhoca e Colibri é a esperteza de Pedro Fonfon (Guilherme Piva). O sempre excelente Guilherme Piva, aliás, é o grande destaque do elenco e o responsável pelos melhores momentos cômicos da peça como quando se veste de espanhola para enganar o Capitão Quartel.

Cenários e figurinos simples, que servem bem ao texto, completam este espetáculo bonitinho, que agrada em cheio principalmente a plateia mais miudinha.