Crítica publicada no O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 06.04.1982
Um Grupo Novo (E Bom) Entra no Mercado
O Grupo Olá, em cartaz no Parque Lage com Maria Conta Histórias, surge para disputar a grande faixa de mercado dominada até agora pelo Bloco da Palhoça: a do musical para crianças. Nos últimos anos, excetuando-se a incursão talvez apenas circunstancial do MPB-4 com Adivinhe o que é, apenas o Bloco da Palhoça tem se dedicado a armar um espetáculo que seja mais show de música do que teatro. Entretanto, tanto o Bloco, como o MPB-4, e como agora o Grupo Olá, todos eles procuram explorar os elementos considerados mais teatrais que musicais, como cenários, figurinos, movimentação, interpretação. O Grupo Olá tem uma proposta: realizar um espetáculo alegre, descontraído, com bom humor, com um visual agradável e, principalmente, bem cantado e com bom acompanhamento musical. Consegue alcançar seu objetivo. Maria Conta Histórias é tudo isso. O que não quer dizer que o grupo não tenha condições de ir mais longe, ousar um pouco mais no seu próximo trabalho. Maria Conta Histórias é a estreia do grupo.
É visível que a parte musical foi muito mais trabalhada que a teatral propriamente dita. Talvez porque os integrantes do Olá se considerem mais para músicos do que para atores. E, paradoxalmente, as cenas que alcançam maior interesse da plateia são exatamente aquelas em que o teatro corre junto com a música, quando há um pequeno texto, um momento de interpretação, o recurso ao humor, cenas da língua, do gato xadrez, da garota propaganda. O grupo Olá deve acreditar um pouco mais na sua capacidade interpretativa, já que a parte musical corre bem, com o conjunto inacreditavelmente, para quem vê muita peça de teatro, bem afinado. O elenco está seguro do que faz e o espetáculo corre com desenvoltura; o visual, do próprio grupo, é de muito bom gosto e agradável aos olhos.
Enfim, Maria Conta Histórias é um espetáculo gostoso, bem feito; mas falta algo mais para o deslumbramento: um pouco mais de variação musical, uma maior riqueza coreográfica, mais variação na armação das cenas, pois o espetáculo acaba ficando um tanto igual demais. Mas a entrada do Grupo Olá no mercado é expressiva, apresentando-se ao público carioca com um espetáculo muito bem acabado. O que parece é faltar um pouco mais de experiência para que o grupo perceba seu potencial e o explore mais profundamente.